17 de abril de 2015

A LEITURA É O CORAÇÃO DA EDUCAÇÃO

A leitura é o coração da educação”, essa frase foi dita pelo educador e escritor americano Jim Trelease (1941), que prega a leitura em voz alta para as crianças como uma forma de incutir-lhes o amor pela literatura. Por outro lado, quem não conhece o criador do “Menino Maluquinho”, o escritor, cronista e cartunista Ziraldo Alves Pinto (1932), que afirma: “ler é mais importante que estudar”. Para esses dois ilustres escritores e amantes da literatura infanto-juvenil, a leitura em voz alta representa para a criança uma conversa que a entretém e a tranquiliza ao mesmo tempo em que a informa e explica alguma coisa da educação, assim como desperta nela a curiosidade, o desejo de aprender algo sobre a vida. Aprendemos muito mais lendo do que estudando, porque o estudo demanda concentração e desejo de aprender rápido, para melhor memorizar as palavras. Ao passo que a leitura para muitas pessoas, pelo simples prazer de ler, possibilita o entendimento e a clareza dos fatos, nos colocando no núcleo da realidade vigente. Para Ziraldo, quando se cria o hábito da leitura se ganha em conhecimento e enriquece o nosso vocabulário.

Entretanto, esta afirmação pode gerar alguma dúvida aos que cultivam o habito da leitura. Afinal, estudar não é também ler? De certa forma quem lê não está estudando? Podemos dizer que sim para ambas as questões, se pensarmos em ler como sinônimo de aprender, ou seja, como busca do conhecimento. Mas, o sentindo de ler é bem mais amplo, considerando as varias capacidades leitoras que vão além daquelas que nos são solicitadas quando estudamos na escola ou na faculdade. Ao contrário de estudar, ler, não se divorcia da vida, pelo simples fato de nos levarmos a desejar e experimentar como o escritor, assuntos que nos mobilizam e nos inquietam. Isto não significa que estudar não seja fundamental. A questão séria é que muitas vezes nas escolas, enfatizam apenas a capacidade de entendimento e memorização de conteúdos, infelizmente, acaba por levar o aluno a um afastamento dos mais diversos materiais escritos.

Se for verdade o que escreveu Platão (427-347 a.C.), que tudo que está na alma, toca a alma do outro. Então, como pode um professor que não gosta de ler, passar o gosto da leitura para seus alunos? Como pode um professor que não gosta de escrever, passar o gosto da escrita para seus alunos? Como pode uma geração de professores que não pesquisa, formar alunos pesquisadores? Como pode uma geração de professores que não tem pensamento crítico, formar senso crítico? Como pode um professor que não é sensível, formar sensibilidade? Como dizia Paulo Freire (1921-1997): “Só uma geração de professores leitores, produzem uma geração de alunos leitores. Só uma geração de professores escreventes, produz uma geração de alunos escreventes e no meio deles alguns escritores. E entre esses escritores um ou dois literatos”.

Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “há um tipo de educação que tem por objetivo produzir conhecimentos para transformar o mundo, interferir no mundo, que é a educação científica e técnica. Mas há uma educação – e é isso o que chamo realmente de educação – cujo objetivo não é fazer nenhuma transformação no mundo, e sim transformar as pessoas”. Sobretudo, por ser a leitura o alimento da alma. Pois, ela torna o nosso conhecimento mais amplo e diversificado, isto é, saber com objetividade. Portanto, o exercício da leitura é um mergulho na cultura do conhecimento. Feliz do educador, que semeia livros e faz o aluno pensar. A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil, e o escrever da lhe precisão. Praticamente vivo no meio de livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfazem em pó cujo cheiro conserva em minhas mãos. Como argumentava o escritor Monteiro Lobato (1882-1948): “quem não lê, mal ouve, mal fala, mal vê”. Sem livros, sem leitura, os nossos jovens serão incapazes de escrever, inclusive a sua própria história.

Entretanto, o professor precisa introduzir seus alunos numa experiência divertida com a leitura e ter o cuidado de não usá-la como castigo ou tarefa por falta de atenção do aluno. Mostrar para o estudante que sem a leitura não aprende a pensar criticamente. E quando pensa, não sabe expressar o pensamento de forma lógica e organizada. Faltam vocabulário e clareza de raciocínio. Por outro lado, é muito difícil as pessoas comprarem livros. São raras as Instituições Educacionais que tem uma boa biblioteca, com vasta literatura para pesquisa e que ao mesmo tempo desperte nos jovens o prazer de ler. A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, uma grande quantidade de pessoas, não sente esta sede. Não seria maravilhoso em nosso país, se as bibliotecas fossem mais importantes que os presídios?

A leitura engrandece a alma e torna o mundo mais humano. A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: “o livro fala e a alma responde”. Com a leitura, adquirimos mais conhecimento e cultura, o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para viver em sociedade. Os estudos vêm mostrando que o povo brasileiro ainda não descobriu o prazer na leitura e ocupa o tempo livre, nas redes sociais, vendo televisão, ouvindo música, descansando e raramente se propõe a ler um livro, jornal ou uma revista do seu interesse sobre um determinado assunto que o estimule. Quem não tem ou não cria este hábito fica para trás, porque a leitura leva-nos a investigação, a buscarmos cada vez mais, porque a partir dela somos sujeito e passamos a fazer nossas próprias escolhas, através do nosso livre arbítrio. Quanto mais à criança associar a leitura e a escrita como atividades úteis e que lhe de prazer, maior será o seu desejo de aproximar-se dos textos, maior facilidade ela terá de aprendizado, porém, só se aprende a ler e escrever, lendo e escrevendo. Contudo, ler não é matar o tempo, e sim fecundá-lo.

Portanto, ler é pensar com sabedoria. O sujeito consciente tem como pressuposto básico o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”. Porém, estar atento significa estar disponível ao espanto. Os gregos diziam que quando a gente se espanta, a inteligência faz a pergunta. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental para o professor criar no aluno o hábito da leitura. Para o educador Paulo Freire (1921-1997): “O espanto revela a busca do saber”. Contudo, o ofício de ensinar não é para aventureiros. É para profissionais, homens e mulheres que, além dos conhecimentos na área dos conteúdos específicos e da educação, assumem a construção da liberdade e da cidadania. Porque, ler é estabelecer relações para compreender a realidade e enxergar mais longe.

Um comentário:

  1. Gostaria de saber escrever, como não sei repito somente suas palavras....Portanto, ler é pensar com sabedoria. O sujeito consciente tem como pressuposto básico o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. Como argumenta o filósofo e educador Rubem Alves: “A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver”.

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