11 de fevereiro de 2013

MEDITAR É MERGULHAR NA ESSÊNCIA DA VIDA

A meditação é uma prática milenar que milhares de pessoas de todas as condições de vida praticam. Mesmo as pessoas tidas como inteiramente profanas fazem ou tentam fazer a sua hora de meditação, de manhã cedo ou à noite. E muitas pessoas descobriram que há, nos profundos redutos dessa prática, algo que não tem nome, mas que tem sabor de tranquilidade, de paz e felicidade. A meditação é muito praticada pelos orientais, assim como também, pelos religiosos de modo geral, em retiros espirituais.

O radical filológico de meditar é med-, que constitui também o elemento básico de medir, mediador, medianeiro, intermediário, (Filologia é a ciência que estuda a civilização de um povo, num dado momento da sua história, através de documentos literários, escritos e por eles deixados). O verdadeiro sentido de meditar designa algo que medeia, como uma ponte que liga duas coisas, uma espécie de união entre dois pontos. Assim como a palavra sânscrita yoga tem o mesmo sentido, ligar a algo. O vocábulo latino religio também coincide com o sentido de yoga ou meditação, pois meditar é estabelecer ligação, união, contato com a essência Divina. Contudo, meditar quer dizer medear, servir de intermediário, de traço de união entre dois estados de consciência. O meu ego humano com o meu Eu divino.  

No entanto, existe uma premissa falsa na prática da meditação. Um erro em que quase todas as pessoas baseiam a sua meditação, que é acreditar que essa prática consiste em pensar, analisar e estudar o sentido exato, muito comum nos encontros para casais e jovens em retiros espirituais nos finais de semana. Esmiuçar tópicos de trechos bíblicos, sobretudo do evangelho, por vezes também à vida dos santos e aplicando-o à sua vida pessoal.

É inegável que esse processo de concentração é muito útil para os estudos e a compreensão profunda de um texto, seja ele qual for. Se essa luz de compreensão profunda melhorasse realmente a vida de quem pratica a meditação, seria o meio ideal para a autorrealização e a santificação do ser humano. Mas infelizmente não é bem assim. É inaceitável que o indivíduo se torne melhor pela simples compreensão intelectual de uma verdade. Ele pode ter cem por cento de compreensão analítica de todos os textos, inclusive do evangelho ou até da Bíblia inteira e continuar a ser um individuo cem por cento medíocre e profano.

Entretanto, não se trata absolutamente de entender, de analisar o sentido das palavras, como dizia Paulo de Tarso: “a inteligência da letra mata o espírito se além dessa letra mortífera não vier o espírito vivificante e o despertar desse espírito não vem pela letra”. Tendo em vista que a palavra é ambígua, porque ela limita o pensamento. Não negamos que o estudo da letra possa servir de condição preliminar sobre a qual se possa projetar a espiritualidade. O que negamos é que essa análise mental possa ser a causa do advento do espírito. Na verdade, são verdadeiros empecilhos que dificultam o encontro com o Eu divino. Pois não permitem ouvir a voz da Consciência Cósmica. Não permitem que o Eu divino lhes fale, porque não se calam. Diz a sabedoria cristã: “onde o homem fala, Deus se cala”.

Como argumenta o filósofo e educador Huberto Rohden: “nada recebem das águas vivas do espírito de Deus os que de antemão obstruíram todos os canais pelos quais as águas da fonte poderiam fluir”. Por conseguinte, muitos fazem da meditação uma interminável ladainha de pedidos. Outros chegam ao ponto de fazer negociata com Deus. Usam palavras do Divino Mestre para as suas meditações: “tudo aquilo que pedir ao Pai em meu nome e Ele vos darás”. Esqueceram das outras palavras do Mestre: “Vosso Pai celeste sabe da sua angústia e da sua necessidade, mesmo antes de pedir”.       

Entretanto, o indivíduo que pratica a arte de não pensar em nada, que suspende toda e qualquer atividade do seu ego humano, mas fica plenamente consciente do seu Eu divino, essa pessoa sim, sabe o que significa a palavra meditar. Por conseguinte, reduzir a zero tudo o que é do seu ego humano e elevar cem por cento tudo o que é do seu Eu divino, isto é realmente meditar. Ou seja, morrer espontaneamente, antes de ser morto compulsoriamente, como afirmava todos os que praticavam essa arte divina do cosmo meditação. Foram essas pessoas que presumivelmente, trouxeram bonitas e profundas mensagens como: Jesus, Paulo de Tarso, Francisco de Assis, entre outros grandes líderes que a humanidade já conheceu.

Todavia, o transe que muitos praticam, de nada resolve já que é de total passividade, mesmo quando a meditação é a de mais alta atividade. O chamado estado de samadhi, uma espécie de êxtase, a unidade plena com o espírito, é o estado mais elevado no qual se consegue através da meditação prolongada e profunda, (Samadhi é uma palavra de origem árabe, que significa meditação completa, estado em que a consciência está em concentração e é iluminada pela luz Divina). É a expansão da alma no espírito. Nesse estado, a pessoa alcança a supraconsciência e presencia a Verdade Única que cria e sustenta a Ordem Universal, onde inclui o conhecimento sobre a natureza da mente e da matéria. A pequena consciência humana comunga com a grande Consciência do Universo e com ela se identifica, e juntos podem afirmar que: “eu e o Pai somos um.

É neste estado passivo-ativo que Deus fala ao homem, que a alma do Universo fala à alma do nosso ego, que o homem morre e o Cristo vive, que a semente morre e a planta produz muitos frutos. Primeiro o homem é um ego pensante, para depois tornar-se um Cosmo pensado e por fim um Cosmo pensante. Neste estado de espírito, o homem sabe e sente o que quer dizer “eu e o Pai somos um”. As obras que faço não sou eu que as faço e sim o Pai que em mim está que as faz. Porque em mim mesmo nada posso fazer.

Por conseguinte, a natureza toda se acha em estado permanente de meditação cósmica e por se achar nesse estado a natureza é permanentemente bela, perfeita e feliz. Tanto no mundo mineral, vegetal e animal, tudo é harmonioso e belo, porque seu estado é totalmente dominado pela Inteligência Cósmica, pela consciência do Pai e Criador, onde não existe desarmonia, deformidade, infelicidade. A menos que o homem na sua ganância e egoísmo interfira, invertendo os valores naturais da natureza física.

Entretanto, a humanidade é pelo menos noventa por cento deformada, desarmonizada, infeliz, porque o pequeno grau de liberdade não conseguiu ainda equilibrar a falta de segurança. Tendo em vista, que segurança e liberdade humana são mutuamente exclusivas. Quanto maior for a liberdade tanto menor é a segurança. No entanto, na natureza a segurança é cem por cento e a liberdade é zero por cento. Nós com os nossos dez por cento de liberdade conseguimos destruir os cem por cento de segurança e, contudo, com a inversão dos valores, criamos esse desequilíbrio entre o ego humano e o Eu divino.

Portanto, nesse projeto de humanidade, categoria essa da qual fazemos parte. Se um dia houver perfeita segurança com perfeita liberdade, haverá uma humanidade cheia de beleza e felicidade, muito superior ao estado que hoje observamos na natureza. A verdadeira democracia de um povo está no livre desenvolvimento de cada um, para que se criem condições do livre desenvolvimento de todos. Será o grande salto do reino da necessidade para o reino da liberdade, em que, depois de ter dominado a natureza, o homem em sua humanidade tomará as rédeas de seu próprio destino. O pensamento bíblico que nos ensina que “assim como o homem pensa no seu coração, assim ele é”. O grande pensador e médico Paracelso, expoente da medicina na Idade Média e um dos pais da medicina, dizia: “as doenças vêm da natureza, mas a cura vem do espírito”. Contudo, a felicidade não está em acabar com os meus ofensores, mas em acabar com o ofendido, que é o meu pobre ego humano e não o nosso Eu divino. Assim veremos o mundo dos humanos que passou do ego consciência para o Cosmo Consciência, através desse profundo mergulho milenar que é o meu encontro com a Essência da Vida.

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