17 de fevereiro de 2013

MATURIDADE OU ENVELHECIMENTO?

Vivemos uma grande transformação de costumes, são novos paradigmas surgindo como uma proposta de vida plena. O valor da espiritualidade, do autoconhecimento, do afeto, a alegria e a liberdade de ser e se exprimir é o que anuncia como qualidade para o viver bem e com dignidade. Mas, se não temos estudos profundos e suficientes sobre o próprio envelhecer, se a sexualidade somente nas últimas décadas deixou de ser negado, então, o que dizer da sexualidade e qualidade de vida na terceira idade? Muitas vezes nos atemos a costumes para dizer que é assim mesmo. Entretanto, são tantas as realidades que compõem a verdade que podemos observar no dia a dia. Pessoas explorando pessoas e as matando de todas as formas. Desde a indiferença até a morte física.

Para melhor entendermos essa nomenclatura vamos conceituar o que quer dizer terceira idade, maturidade e envelhecimento. A terceira idade é um termo simpático, comumente usado como sucedâneo de velho e muito próximo do termo idoso. Refere-se a uma categoria social de pessoas, cujo estado funcional é o da aposentadoria. Na verdade, não tem sido muito bem aceito ou entendido pelas classes populares na sua maioria. O mais usado é o termo melhor idade. Como fica a situação da primeira idade, assim como da segunda idade? O prazer de viver só acontece na melhor idade? Quem pode afirmar isso?  As pessoas não juntam idéias. Todas as etapas da vida valem a pena viver, só depende da grandeza da nossa alma naquela fase da vida. Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. Só envelhece quem morre no espírito. Prefiro ser uma pessoa menos jovem, mas com espírito de garoto, do que um adolescente com espírito cansado.

O termo terceira idade como afirma a psicoterapeuta e educadora Ana Perwin Fraiman, mestre em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo): “chegou ao Brasil importado pelos países do chamado primeiro mundo, de economia e política social progressiva, inclusive com apoio e amplo projeto social para a terceira idade”. Ora, o que não é o caso do nosso país que trata mal os seus idosos. É lamentável constatar que em 2025 seremos mais de 62% de idosos, tendo em vista, que 2050 de cada três pessoas uma é idosa. O país está preparado para receber esses idosos?  Aqui começa a fazer sentido o porque do termo melhor idade. O Estado Federativo e a Previdência são os grandes responsáveis por esse desprezo e descaso ao idoso. A melhor idade é uma falácia que usam, para camuflar a falta de zelo e respeito com o idoso.

Por outro lado, os estudos mais recentes são animadores para essa geração da terceira idade. Não é necessário envelhecer como estamos fazendo, evidentemente, considerando naturais as doenças próprias da maturidade e mudanças fisiológicas que ocorrem em nosso corpo com o passar dos anos. Tendo em vista, que o mundo ocidental não reconhece o sexo como modo experiencial de evolução da própria espiritualidade quando afirmamos que é nos braços do ser amado que encontramos o paraíso, que os beijos dos amantes nos conduzem às esferas celestiais e que a perda da pessoa amada nos faz conhecer a condição de alma penada. E para sentir isso não tem idade. A epiderme, ou seja, o contato com a pele é gostosa em qualquer idade. O corpo humano é um complexo laboratório de reações química, sem falar do DNA que se une ao outro DNA, em função de um terceiro DNA. Mas também pode ter como finalidade o crescimento e a prosperidade no amor que surge dessa união. É bom lembrar, que é o DNA que escolhe o nosso par. A chamada química. Somos movidos e atraídos por essa força.   

Entretanto, as vantagens da terceira idade estão no campo afetivo. É na experiência do amor que ascendemos igualmente ao sublime e ao medonho. E é no sexo amoroso, em qualquer idade, mas, principalmente na terceira idade que conhecemos a eternidade, dentro da própria temporalidade. O sabor da vida, o prazer verdadeiro, o encontro do meu Eu divino no outro, a troca de corações, cada um se apossa do coração do outro, numa atitude de cuidar e preservar o amor. Como dizia os antigos: “se você quer ser feliz, não se case. Se você quer fazer o outro feliz, então se case”.

Na terceira idade dispensa as preocupações que teria um jovem quanto a sua sexualidade. Na maturidade o sexo é a própria vivência da alegria e da beleza e o encontro é na sua totalidade uma grande caricia que envolve o corpo, o psiquismo e a alma. Neste encontro ambos vivem a certeza do amor pleno. Nesse estagio de maturidade, passa a pensar com o coração, a fazer sexo amoroso com o corpo todo e com a mente possuída pela divindade. Pois na plenitude do prazer de se encontrar, experimentar o paradoxo e o milagre da vida, do nascimento e da morte. Cada encontro é um renascer. Cada orgasmo é um morrer. Quem sabe a respeito dessa maturidade, pouco fala, só quer sentir.

Portanto, é com a experiência e com a maturidade, que passamos do processo jovem da segunda idade, onde somos criativos e produtivos, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial. Com a maturidade também vem à serenidade, a paciência histórica e o bom humor. Contudo, a relação madura é marcada pela alegria e felicidade a cada encontro, onde os gestos dizem mais que as palavras. A experiência sexual amorosa na terceira idade é consciente e madura, integrada e ao mesmo tempo sensorial e biológica, mental e psicológica, sensual e espiritual, carregada de generosidade e de muita sabedoria. Estado pleno de crescimento, que vai do físico ao espiritual. Há um provérbio oriental que diz: “Se mergulhas e não encontras pérolas no fundo do rio, não pensem que elas não existem”. Tal é a arte de viver e de morrer. Que o sexo amoroso e o amor pleno, na maturidade por si só, parecem saber do poder de cumplicidade que domina.           

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