25 de julho de 2021

PARA UM AMOR MADURO O ESSENCIAL É CONFIAR

Hoje, quero me dedicar a um aspecto essencial das boas relações amorosas que é o desenvolvimento da confiança recíproca e que muito tem deixado a desejar. Amar implica depender, estar nas mãos de outra pessoa. Ela tem, mais do que ninguém, o poder de nos fazer feliz ou sofrer. Basta querer nos magoar que conseguirá isso, com uma simples palavra num tom mais agressivo ou um gesto de indiferença. Se quiser nos fazer sentir insegurança, não terá problema algum. Fica mais do que evidente que, quando uma pessoa ama alguém que não se empenha em despertar a sensação de confiança e de lealdade, ela irá padecer muito.

Irá se sentir permanentemente ameaçada, terá ciúme de tudo e de todos. Amar alguém que não nos passa confiança é, pois, uma irresponsabilidade para consigo mesmo. É uma ousadia, uma ingenuidade e uma grande demonstração de imaturidade emocional. Em geral as pessoas se colocam nessa condição em virtude de terem se encantado com alguém que, de fato, não dá sinais de confiabilidade. Aceitam essa atitude egoísta do amado imaginando que seja uma fase, um período doloroso que irá passar com o tempo. Fazem tudo para demonstrar o seu amor, para cativar o outro e esperam que isso faça com que, finalmente, ele se renda, e também se entregue de corpo e alma à relação afetiva.

Acaba se compondo uma espécie de desafio, em que aquele que não é confiável percebe que recebe mais atenção e carinho exatamente por agir dessa forma. Com isso se perpetua a situação e me parece bobagem achar que o futuro será diferente do presente. Quando a “mágica do encantamento” amoroso não vem acompanhada da “mágica da confiança” a pessoa está posta numa situação muito difícil, na qual o sofrimento e insegurança serão as emoções mais constantes. E o que é preciso para se ter essa mágica da confiança?

Pois, essa confiança vem de vários fatores a principio, sendo que o primeiro deles depende do comportamento da pessoa amada. Não é possível confiarmos numa pessoa que mente, a não ser que queiramos nos iludir e tentemos achar desculpas para não perder o encantamento por ela. Não é possível confiarmos em pessoas cujo comportamento não está de acordo com suas palavras e suas afirmações. Assim como não é possível confiar numa pessoa que grita conosco numa atitude de desrespeito, no momento em que mais precisamos dela.

Aliás, quando o discurso não combina com as atitudes, penso que devemos tomar essas últimas como expressão da verdadeira natureza da pessoa. Não é possível confiarmos em pessoas que mudam de opinião com a mesma velocidade com que mudamos de roupa. É evidente que todos nós, ao longo dos anos, atualizamos nossos pontos de vista. Porém, acreditar em certos conceitos num dia – na frente de certas pessoas – e defender conceitos opostos no outro – diante de outras pessoas – significa que não se tem opinião firme sobre nada e que se quer apenas estar de bem com todo mundo. Amar uma pessoa assim é, do ponto de vista da autopreservação, uma temeridade e um total desrespeito consigo mesmo.

Como dizia o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Flávio Gikovate (1943-2016): “a capacidade de confiar depende também de como funciona o mundo interior daquele que ama e não apenas da forma de ser e de agir do amado”. Não são raras as pessoas que não conseguem desenvolver a sensação de confiança em virtude de uma auto-estima muito baixa. Desconfiam da capacidade que têm de despertar e conservar o amor da outra pessoa; se sentem inseguras, acham que a qualquer momento podem ser trocadas por criaturas mais atraentes e ricas de encantos. E, o que é mais grave, se sentem assim mesmo quando recebem, sinais constantes, coerentes e persistentes de lealdade por parte da pessoa amada.

Finalmente, para uma pessoa desenvolver a capacidade de confiar é necessário que ela seja uma criatura confiável. Costumamos avaliar as outras pessoas tomando por base nossa própria maneira de ser. Se nos sabemos mentirosos, capazes de deslealdade e de desrespeito aos outros, como ter certeza de que as outras pessoas não farão o mesmo conosco? Só aquele que tem firmeza interior, que tem confiança em si mesmo no sentido de respeitar as regras de conduta nas quais acredita, pode imaginar que existam pessoa em condições de agir da mesma forma. Se a felicidade sentimental depende do estabelecimento da confiança recíproca, ela será, pois, um privilégio das pessoas íntegras e de caráter. Contudo, são poucos os casais que vivem em concórdia, num relacionamento que crie condições para que ambos cresçam emocional e intelectualmente.

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