4 de julho de 2021

CARTAS DE AMOR EM VERSO E PROSA

Como dizia o poeta, compositor e cantor Gonzaguinha (1945-1991): “há um lado carente dizendo que sim, e essa vida da gente gritando que não”. O heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935), Álvaro de Campos, nos da uma pista exata sobre o significado de escrever uma carta de amor. Isto é, se há amor por que não contar em verso e prosa? “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, como as outras, ridículas. As cartas de amor se há amor, tem que ser ridículas. Mas, afinal, só as pessoas que nunca escreveram carta de amor é que são verdadeiramente ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia, sem dar por isso cartas de amor, ridículas. A verdade é que hoje, as minhas memórias dessas cartas de amor é que são ridículas. Naturalmente, ridículas são aquelas pessoas que nunca escreveram uma carta de amor. Ridículas como as outras”.

Sempre me expressei melhor por escrito. Oralmente não sou muito feliz às vezes falo o que não devo e o que devia falar, não expresso. Não sei se aconteceu com você leitor, mas no meu tempo de escola, era proibido falar. Então, escrevia. A partir daí, acostumei-me a escrever e virei escritor. Adoro escrever. Adoro ler. Mas, adoro também conversar. Como seria uma carta de amor imaginária a alguém especial? Sobretudo, se for uma linda história de amor! Começaria mais ou menos assim: “Conversar com você é muito bom. Porque você é boa ouvinte. Ouve com atenção e valoriza cada frase ou pronunciamento da pessoa que conversa com você. Pesa. Pondera. E não fala precipitadamente. Analisa. E é sincera. Suas colocações são muito inteligentes! Você escreve, lê e fala muito bem. É sensata. Moderna. Charmosa. Quente. Enfim, uma companhia muito agradável. Adoro estar com você. Você é maravilhosa como mulher, como profissional e como amiga. Conviver com você todos esses anos foi muito bom. Você é dessas pessoas que despertam na gente o prazer de viver”.

Na verdade, é uma declaração imaginária de amor: “Se eu pudesse não me afastaria nunca mais da sua presença. Mas, não depende só de mim. E o sentimento quando não é recíproco, não vale a pena! Tem que ser uma atração mútua. Caso contrário, não compensa. Eu passei uma parte da vida procurando a mulher ideal. E não a encontrei. De repente, você apareceu e meu anjo da guarda me disse: É esta! Eu sempre errei, mas meu anjo da guarda, jamais erraria. Eu lhe disse, no nosso primeiro encontro, que não suporto nada forçado. Tudo tem que ser espontâneo e natural. Apelação não é comigo. Suplicar, nem pensar. Ou é uma vontade mútua, ou nada poderá acontecer. Posso lhe garantir que da minha parte é natural. Eu a amaria intensamente. Não sei se por toda a vida, mas seria verdadeiro, sincero e integral. Um amor exclusivo. Criativo. Moderno. Sensual e Erótico. Alegre. Irreverente. Provocante. Total. Enfim, maravilhoso. Faria tudo para que acontecesse assim”. É como imagino uma linda história de amor.

Vou um pouco além da proposta que traz a carta: “amá-la exclusivamente e intensamente por muitos dias e muitos anos. Não sei até quando, mas, por um tempo ideal. Se possível, até o fim da vida. Já não somos jovens, precisamos de alguém para cuidar de nós. Gostaria de cuidar de você e queria que você cuidasse de mim. Daqui a alguns anos, seremos idosos. Idoso sozinho é a coisa mais triste que existe, não existe nada pior. A nossa convivência poderia ser gostosa. Depende de planejamento. Tenho a impressão, parodiando Guilherme Arantes”: “que o melhor das nossas vidas está para começar”. De modo que, poesia pertence àquela categoria de palavras que, durante certo tempo, caíram enfermas, em desamparada exaustão; eram evitadas e dissimuladas seu uso expunha-nos ao ridículo. E foi tão exauridas que, enrugadas e feias, transformaram-se em sinal de perigo. Aquele que, não obstante, se punha a exercer a atividade que, como sempre, prosseguiu existindo chamava a si próprio “alguém que escreve poesia”.

Portanto, dedico a todos os românticos e apaixonados essa carta de amor, em verso e prosa. Como filósofo e poeta, concluo com essa frase: “Se for para esquentar, que seja no sol, de preferência ao meu lado. Se for para enganar, que seja o estômago. Se for para chorar, que chore de alegria. Se for para mentir, que seja a idade. Se for para roubar, que roube um beijo dessa pessoa que te ama. Se for para perder, que se perca o medo de revelar o amor que sentimos um pelo outro. Se for para cair, que seja na gargalhada. Se for para existir a guerra, que seja de travesseiros com a pessoa amada. Se existir a fome, que seja de amor. Se for para ser feliz, que seja o tempo todo. Se possível ao lado desta pessoa que te emociona. Porque o amor não é um sentimento qualquer, que se acha solto por aí todos os dias da sua vida. Se quisermos a felicidade, temos que correr atrás e não esperar que ela bata a nossa porta”.

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