28 de dezembro de 2018

CONVIVEMOS COM IMAGENS QUE CONSTRUÍMOS

Na minha terra natal (Distrito Rubião Jr. – Botucatu SP), meus assombros de menino era saber qual a verdade contida em cada pessoa, daquelas que me rodeavam? Convivemos com as imagens que construímos das pessoas. Olhamos para a imagem que fazemos do outro e não para o ser humano que está a nossa frente. Presumivelmente, minha casa na infância era alegre e rodeada de pessoas aparentemente felizes. Com o tempo descobri que nem sempre elas diziam o que pesavam uma das outras. A minha perplexidade hoje é por que nos perdemos tanto em preconceitos bobo? Por que tantos encontros, amigos ou amorosos e mesmo profissionais? Por que começam com entusiasmo e de repente ou insidiosamente se transforma em objeto de indiferença, irritação ou até mesmo crueldade?

Entretanto, ninguém se casa, tem filhos, assume um trabalho querendo que saia tudo errado, querendo falhar ou ser triturado. Quantas vezes, porém, depois de algum tempo trilhamos uma estrada de desencanto e rancor? No mais trivial comentário, por que, em lugar de prestar atenção no outro, a gente prefere rotular, discriminando, marcando a ferro e a fogo o flanco alheio com um rótulo invisível e ao mesmo tempo tão evidente? Por exemplo, como: burro, arrogante, covarde, falso, mentiroso, canalha, desleal, vulgar, vagabundo e etc. Que muitas vezes humilhamos prontamente, demonstrando nossos preconceitos sem nos envergonharmos deles, pois nem damos conta disso.

Parece que não convivemos com pessoas. Convivemos com imagens construídas pela nossa falta de generosidade, aquilo que imaginamos que o outro seja. Não gostamos da pessoa e sim da imagem que fizemos dela. Ao perguntar sobre alguma pessoa do nosso convívio, ouço frases pejorativas, do tipo desabonando o caráter do outro. No entanto, só perguntei como a pessoa estava e nada mais. Não disse se a pessoa havia recuperado de um acidente, se estava deprimida ou já superara o trauma. Parecia que estava com raiva de tudo e de todos. Invariavelmente, não vemos gente ao nosso redor, vemos etiquetas. Vivemos como se estivéssemos isolados, com o olhar rápido e superficial, com um julgamento à mão armada.

Portanto, é esse tipo de coisa que quero saber quando leio noticias do tipo: “aposentado morre de infarto na rua”, “idosa é atropelada na avenida”, “mulher é assaltada no caixa eletrônico”. Quero a notícia completa, quem era aquele ser humano e não mais uma manchete de jornal. Não admira que a gente sinta medo, solidão, raiva mesmo que imprecisa, nem sabemos do que ou de quem. Atacamos antes que nos ataque, o outro é sempre uma ameaça, não uma possibilidade de afeto ou de amor. Sendo que um inimigo pode nos fazer muito mal, mas só um amigo pode nos destruir, porque ele nos conhece. Só ele pode destruir a imagem que temos de nós. Infelizmente vivemos de imagem, por isso os outros tem poder sobre nós.

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