22 de fevereiro de 2018

LER É DESCREVER O MUNDO COM CLAREZA

Defendo a tese de que a ausência de cultura básica afasta os jovens da leitura e sem esta, as crianças e jovens serão incapazes de escrever até a sua própria história. É com preocupação que venho percebendo o distanciamento dos jovens diante desse universo estimulante que é a leitura. Quero acreditar na conciliação dos dois. O encontro entre o jovem e a leitura deve ser promovido pelas mãos precisa e eficaz dos educadores que tem o papel fundamental nessa aproximação. Nesse desafio, o educador conta com uma segura parceria entre leitura e a escrita, estabelecendo um vínculo capaz de desatar o nó que impede a aprendizagem da nossa língua.

Venho notando uma procura dos jovens pelos cursos de redação, talvez pelo peso que a redação demanda nos concursos públicos, provas do Enem e dos Vestibulares. Fica claro que essa parceria leitura e escrita não está senso explorada, no sistema tradicional de ensino da língua nas escolas públicas e privadas, daí a corrida em busca do tempo perdido. Como argumenta a educadora e escritora Iara Vieira: “roteiro nenhum de redação será eficaz se não tiver respeito pelo livro, se não se cultivar a intimidade com a leitura”. Afinal, ler e escrever são gestos que se completam, permitindo uma articulação critica com o mundo. Cultive o habito da leitura.

Mas, ler exatamente o que? De preferência livros que façam crescer, que ampliem a visão de mundo, que façam pensar ou até divertir. Muitas vezes o jovem é engolido pela ideologia vigente e alienado pela literatura de massa. Consequentemente, não sabe o que fazer com um romance ou com um poema que acabou de ler. Fica esmiuçando quem é quem e deixa passar o essencial: o aproveitamento do tema. Lembro-me de um livro lido na minha juventude que praticamente transformou minha vida: “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévsky (1821-1881). Um pedaço da minha inocência foi embora em contato com o mundo sombrio que o escritor descrevia. O que antes me parecia uma perda, era na verdade uma revelação das sombras do mundo que iria encontrar lá fora.

De modo que, além de preparar para a vida, os temas podem ser aproveitados nas redações escolares ou nas dissertações para Mestrados. Como escrever um texto sobre a miséria, por exemplo, sem dialogar com “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, ou sem conhecer “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto? O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.

Portanto, ampliando o repertório, o jovem estudante terá capacidade de interferir na realidade e exercer plenamente a crítica, cuja ausência nos faz tanto mal. Vivemos num mundo onde tudo passa muito rápido. De modo que, reconciliados com a leitura, os nossos jovens terão acesso aos instrumentos necessários para o resgate crítico da nossa história. Contudo, hoje vejo o mundo com os olhos daquele menino que cresceu e continua ouvindo o que as coisas dizem. A minha fala é a voz das coisas. Entrei no universo das coisas e as transformei em literatura e poesia. Todos têm um pouco desse menino. O menino que cresceu em mim, hoje compreende a esperança como uma dependência simples e imprevisível, de um “Deus” que adora nos surpreender. Enfim, ler é compreender e saber descrever o mundo com clareza.

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