28 de março de 2017

O AMOR É NECESSÁRIO

Estou convencido assim como muita gente boa está, de que a resposta que o homem precisa dar à vida é o sair de si, ter atitudes não egocêntricas e exercitar a capacidade de amar, de autotranscendência, ter realmente gosto pela vida. No filme “Tempo de Despertar”, com Robert De Niro, após passar quase trinta anos de sua vida em estado de inconsciência, ao despertar, nos dá um exemplo do amor que sente pela vida, dizendo: “Que as pessoas esqueceram o que é viver, estar vivo. É preciso que lembrem o que tem e o que podem perder. Sinto a alegria de estar vivo. O dom da vida. A liberdade de viver. A maravilha que é viver. As pessoas não apreciam as coisas simples, como trabalho, lazer, amizade e família”.

Comenta Leo Buscaglia, no livro “Amando Uns aos Outros”, que certa vez soube de um homem de vinte e poucos anos que foi encontrado morto em seu apartamento no campus da universidade de Miami, onde estudava. Os jornais disseram que ele havia sido visto pela última vez no dia de Ação de Graças. Quando o encontraram, ele já estava morto há dois meses. Sua ausência não foi percebida por ninguém, sequer no Natal, continua ele. “Cada vez mais somos privados das oportunidades de contatos pessoais, e a possibilidade de formar relacionamentos duradouros se torna cada vez mais difícil”. Buscaglia lembra o escritor e o filósofo Allan Fromme que dizia: “Nossas cidades, com o aumento de suas populações, seus arranha-céus, estão criando espaços para solidão. Vizinhança desintegra-se sob escavadoras dos construtores, e famílias se dispersam na busca de empregos e profissões em todo lugar”. Eu vou um pouco além, num mundo de rodas de amigos e de altos papos estão se acabando. Ninguém tem mais paciência para ouvir o outro. As pessoas não conversam mais, falam como papagaios, cada um com seus problemas. Os velhos e familiares vizinhos estão sumindo.

Eric Berne, eminente psiquiatra, que estudou vários aspectos das relações entre indivíduos, estava preocupado em aproximar novamente as pessoas na intimidade. Ele nos mostrou como muitos papéis e jogos que desenvolvíamos estavam impedindo a comunicação, distanciando-nos uns dos outros e destruindo qualquer possibilidade de nos tornarmos íntimos de amigos e amantes preciosos. Uma das maiores reclamações entre os jovens de hoje é a de que, apesar de receberem atenção material, sentem-se privados de um relacionamento íntimo com seus pais.

Nada melhor que nossa experiência para ilustrar. Sou pai de três filhos: Eduardo Junior, Danielle e depois de vinte e três anos veio a Maria Eduarda, que hoje está com seis anos de idade. Quando eles nasceram saudáveis não perguntei por que. Por que tive tanta sorte? O que fiz para merecer essas crianças perfeitas? Mas quando eles adoecem, eu pergunto por que. Quero saber o por quê? O que está acontecendo? Eu me sinto bem quando os vejo, principalmente sabendo que estão bem. Talvez seja porque no amor há uma alegria. Eu diria um gozo, como se aquilo que se deseja, dele já se disponha. É por isso que nada podemos fazer sem amar, nem mesmo aprender com nossos jovens. Começar uma pesquisa, reformar um país, cultivar um jardim, salvar uma civilização, educar uma criança, estudar musica.

Para fazer é preciso desde o início encontrar-se no amor, possuir o futuro que ainda não existe. Se cultivar um jardim, é preciso desde já gozar desse jardim como se ele já estivesse cultivado. Se educarmos uma criança, é preciso que nos transportemos para o fim e nela já vislumbremos o novo homem ou a nova mulher. Aprender a tirar melodias de um instrumento como se já estivesse fazendo um grande concerto, para uma calorosa plateia.  Se é a reforma ou a salvação de um país, é preciso ver estas coisas como possíveis, praticáveis, apesar das dúvidas que nos causam, das nossas inseguranças nos políticos. A isto se chama amar. Muitos dirão como disse certa vez uma amiga estudante de psicologia: “isto não é amor, mas sim esperança, fé, entusiasmo, qualquer outro sentimento, menos amor”.

Sem dúvida, posso até concordar, mas o amor contém todas essas coisas. O amor é um sentimento de prazer e felicidade. O amor aplica-se à afeição do homem e da mulher, imagino que é aí que ele se acha mais encarnado, mais sensível e figurado pelos movimentos do sangue nos dois corpos. Sinto que as pessoas estão brincando cada vez mais com coisas tão séria como é o amor. O filósofo Regis de Morais numa linguagem poética demonstra: “O amor é um rico encontro humano cuja, a duração não deve ser discutida. O amor está na arte em que duas pessoas precisam conquistar de um relacionamento feito de compreensão e generosidade. Tudo dependerá da convivência”.

Acredito que o amor é fruto de uma amizade constituída, pautada na confiança. Primeiro construo o alicerce e depois levanto as paredes deste imenso complexo chamado amor. É muito bom encontrar pessoas que realmente amem a vida. Certa vez ouvi da minha amiga Aparecida Helena, educadora em Londrina, Estado do Paraná, a seguinte frase: “Prefiro ser uma pessoa menos jovem, mas com espírito de adolescente, do que um adolescente com espírito cansado”. O mistério escondido, a bondade e o sentido de cada coisa não se alcançam só pelo conhecimento. É preciso ainda uma aposta razoável de que, atrás do mal tudo é bom, de que atrás das nuvens o sol brilha. Esta certeza é a fé que tenho de que o amor é necessário, é o alimento da alma, fundamental para a nossa sobrevivência.

A minha saudosa mãe Lazara Alexandrina de Jesus, mais conhecida como Dona Lazinha, que faleceu aos cento e seis anos de idade. Ela disse certa vez uma frase para um conhecido nosso, que nunca mais saiu da minha memória: ”Não sou ninguém, mas sou muita coisa. O senhor tem razão, mas eu tenho muito mais”. Penso até hoje na força dessa expressão. O quanto de fé e amor próprio está contido nesta frase. É como se ela dissesse: “o primeiro amor da minha vida sou eu mesma. Primeiro me amo, para depois amar meu próximo”.

Portanto, o amor é a única resposta ao problema da existência humana. Mas temos a tendência de considerar o amor uma coisa superficial e basicamente dispensável. A maioria das pessoas renuncia o amor desde muito cedo na vida. Como se ele não fosse vital. No entanto, crucificaram Jesus Cristo, deram um tiro em Mahatma Gandhi, assim como assassinaram Martin Luther King, decapitaram Thomas More e envenenaram Sócrates. A sociedade tem pouco espaço para a honestidade, a ternura, a bondade ou o interesse pelo seu próximo. Como disse Gandhi: ”Tudo o que vive é o teu próximo”. 

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