7 de fevereiro de 2017

DIFERENÇAS ENTRE MITO E FILOSOFIA

A civilização grega se desenvolveu na Península Balcânica, a mais oriental do sul da Europa, rodeada de inúmeras ilhas. Seu relevo montanhoso facilitou a formação de grupos humanos isolados e autônomos, como de fato foram às cidades-estados (as polis). A pouca fertilidade do solo acidentados foi compensada pela existência de ótimos portos naturais. Assim, os gregos puderam desenvolver a navegação e o comércio, vitais para garantir a sobrevivência e o enriquecimento das cidades-estados. A procura de terras férteis, o crescimento populacional e a necessidade de expansão comercial levaram à criação de muitas colônias nas regiões mediterrâneas.

Nos séculos VI e V antes de Cristo, as pólis conheceram o apogeu econômico, político e cultural. Foi exatamente nesse período glorioso que surgiu na cultura grega o confronto entre “mito e filosofia”. Tanto o mito quanto a filosofia são explicações que visam responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, a natureza do homem e do universo, assim como justificar as normas políticas, éticas e religiosas da própria comunidade. Durante um longo período da história grega, a mitologia constituiu a fonte exclusiva de explicação para a existência do homem e de organização do mundo. A diferença específica entre mito e filosofia está no funcionamento de suas argumentações.

O mito é uma narrativa imaginária que estrutura e organiza de forma criativa as crenças culturais. As divindades constituíam os personagens que, pelas divergências, intrigas, amizades e desejo de justiça, explicavam tanto a natureza humana como os resultados das guerras e os valores culturais. A narrativa grega, apesar de fantasiosa, é impregnada de sabedoria e conhecimento das paixões humanas, dos problemas existenciais e da necessidade de leis que possibilitem a vida em comum. Devido ao desenvolvimento e aos contatos culturais com outros povos, decorrentes do comércio e da navegação, os gregos cultos sentiram necessidade de encontrar uma linguagem mais universal e rigorosa para justificar o universo e as próprias instituições.

Portanto, novos conceitos culturais, baseados na razão, formaram um sistema explicativo que substituiu as criações míticas. A tensão estava estabelecida. De um lado, os conservadores queriam manter o sistema explicativo do mito, muito mais popular e eficaz para preservar os seus privilégios. De outro lado, os filósofos, desejosos de mudanças, rejeitavam as explicações míticas e eram favoráveis às reivindicações dos membros das classes emergentes (os artesãos e os comerciantes), democratizando assim o sistema político. Contudo, a tensão entre mito e filosofia começa, mas não termina na Grécia antiga. Ela perpassa a história ocidental e continua de alguma forma até hoje.

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