17 de fevereiro de 2017

COM O DESPERTAR DA FILOSOFIA NASCE ADMIRAÇÃO

O sentido grego da palavra admiração é o “espanto”. Quando estamos diante de uma situação diferente, inesperada, que pela qual temos uma atitude de admiração e esta atitude é o ponto de partida para o ato de filosofar, pois nos leva à descoberta de nossa própria ignorância e à indagação sobre o que ignoramos. Por exemplo, todos nós convivemos com determinados padrões estéticos, morais, políticos etc. Quando algo nos é apresentado fora do que esperamos, nos perguntamos: como isso é possível? Todos nós temos um determinado padrão de beleza, no entanto, vez ou outra surpreendemo-nos com uma obra de arte que pode ser mais bela ou então que não possui os critérios de beleza que imaginamos. Diante desse espanto, desta admiração, iniciamos um processo de questionamento que leva à ampliação de nossa compreensão sobre o que é o belo. Neste comportamento adquirimos consciência de nossa ignorância e procuramos ampliar nossa compreensão, perguntando e questionando sobre os nossos valores. Assim como a beleza, o mesmo ocorre com outros temas.

A atitude da admiração, do espanto, quando nos desperta para certas interrogações, é a manifestação do desejo de saber, do qual falou o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), sendo que para ele desejo é um movimento ou atividade da faculdade do desejo ou vontade, que move o corpo em direção ao objeto desejado, faculdade esta não racional, embora capaz de dialogar com a razão. Aristóteles nos diz que o desejo é um gênero que compreende três espécies, como: “querer, apetite e impulso”. Este desejo, por sua vez, não é um comportamento utilitário, pois neste caso, outros interesses, que não a procura do conhecimento poderiam sobrepor às indagações que o homem pode fazer sobre o objeto desejado. Há um entendimento que bombardeia nossos impulsos e que estimula nossa vontade. E esta é uma especificidade do conhecimento filosófico. A admiração, no entanto, só despertará o indivíduo para a filosofia se ele for capaz de indagar sobre seus conhecimentos e suas práticas. Se a admiração não servir para ampliar nossos horizontes, através de um questionamento, ela pode servir também para uma atitude alienante e dogmática, o que é o oposto do que se busca com a reflexão filosófica.

Portanto, diante do espanto as pessoas podem se render aos encantos e medos, despertando uma admiração ingênua, que torna o homem um ser passivo, ou ainda, um amedrontado que não questiona, não problematiza, e simplesmente admite que existem coisas desconhecidas, mas não se atreve a indagar sobre elas. A mesma admiração que é o ponto de partida para o exercício do filosofar pode ser um comportamento que preserva a ingenuidade e não leva ao questionamento. O que vai diferenciar é o modo como as pessoas reagem diante de questões que surgem a partir de nosso cotidiano. A reflexão filosófica é acessível a todos e em todas as etapas da vida, pois como afirmou o filósofo grego Epicuro (341-271 a.C.), fundador do Epicurismo, filosofia baseada na identificação do bem soberano como o prazer. Para ele, nunca se deve dizer que é cedo demais ou tarde demais para filosofar, pois dizer isso equivaleria dizer que a hora de desejar a felicidade ainda não chegou ou então que ela já passou.

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