15 de setembro de 2016

EXPRESSAR COM O CORAÇÃO

Não espere receber aquilo que você pede já pronto. Pode ser necessário algum esforço da sua parte. Nada nasce pronto. Nem mesmo os milagres. Pode ser que a oportunidade para realizar seu sonho já tenha aparecido, mas você não percebeu isso porque espera um resultado pronto. Seja como for, Deus espera a sua cooperação. Trabalhe com ele para realizar aquilo que você mesmo pediu. Ele é o melhor parceiro que você pode ter em qualquer projeto a ser realizado. Tanto assim, que a capacidade de sentir amor é que faz a gente melhorar como ser humano e promover a compaixão. Sendo a vida uma mistura do que a gente faz dela com o que ela poderia ser. Podemos entender o que o outro fala, mas não entender o que ele sente. Aprender a sentir com o coração as nossas ações. Porém, expressar com o coração é compartilhar ternura.
Entretanto, há de se praticar os exercícios naturais de constantes carícias como o abraço, palavras carinhosas de incentivos e aceitação do outro. A carícia significa toda manifestação humana física, verbal ou gestual que transmita a outra pessoa uma sensação de bem estar, aceitação e reconhecimento. Uma manifestação que demonstre o quanto esta pessoa é importante para você. Melhor do que falar sobre carícias é dar e receber. Os estudos vêm demonstrando que a falta ou a insuficiência de carícias tem enorme influência no bem estar, até mesmo na saúde física e mental das pessoas. Fenômeno esse que começa nos primeiros anos de vida. Especialistas são unânimes em afirmar que a criança precisa tanto de estímulos físicos quanto de alimentos. Sem os toques e carícias, ela provavelmente acabará sofrendo de alguma debilidade mental e poderá até morrer por sentir-se rejeitada, caso seja privada das relações físicas. 
Segundo o médico e psiquiatra canadense Eric Berne (1910-1970), criador da “Análise Transacional”, ele acreditava que existia na nossa estrutura corporal uma cadeia biológica que levava da privação emocional e sensorial a mudanças degenerativas e até a morte por causa da apatia. Neste sentido, a fome de contato físico, de abraço e de aconchego tem a mesma relação com a sobrevivência de um organismo humano quanto à fome de alimento. Há um livro muito interessante, chamado “Tocar”, escrito pelo antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu (1905-1999), é um livro com mais de quatrocentas páginas mostrando os fantásticos valores psicológicos, salutíferos, sociais, afetivos e físicos. Ele pouco fala de sexo. Fala muito de envolvência, carinho e contato físico que estimulam o sistema imunológico. O melhor estímulo conhecido para as defesas desse sistema são as trocas de carícias bem feitas e bem recebidas. Para o pesquisador, o melhor remédio para aliviar o stress são as variedades de carícias e trocas saudáveis de gentilezas.
De modo que, as dificuldades que as pessoas têm em promover o contato físico, são muitas. Se alguém abraçar um pouco mais apertado é porque está mal intencionado e logo pensa na possibilidade de sexo. No entanto, xingar o outro pode, bater no outro pode, falar mal de alguém pode, mas abraçar e tocar no outro é sinal de perigo, porque mexe com a libido e logo vem o desejo de transar. Porém, as carícias bem feitas, assim como o diálogo de boa qualidade estão cada vez mais escassos. A maioria dos nossos gestos de carinhos são estereotipados, tornam-se gestos vazios por isso os fazemos automaticamente, meio “robotizados”, sem nenhuma conexão com o outro. É como se eu não estivesse presente. O livro “Tocar” deveria ser lido por todos os educadores do mundo, porque o nosso trabalho na educação é gelado, frio, somos indiferentes, mantemos uma relação de blindagem com os alunos. Temos a coragem de chamar essa linha de ensino e aprendizagem de educação, assim como chamamos a restrição da espontaneidade do aluno de “educação”.
Se um educador, com uma bagagem de conhecimento relevante, resolver dar uma aula sobre sexualidade para crianças e adolescentes, a escola vem abaixo e a direção surta. Isto se não der “Processo Administrativo Disciplinar”, no mínimo dá cadeia ou na pior das hipóteses da exorcismo se os pais forem evangélicos. Na certa o professor é chamado de irresponsável ou de pedófilo. Em família a questão é mais complicada ainda, porque implica no preconceito dos pais, achando que esse assunto não se discute em casa. No entanto, deixam os filhos a revelia horas e horas na internet. E se alguém tocar no assunto sexo, o clima fica tenso e o nível de diálogo fecha. Todos são anjos e inocentes em família. Se alguém de fora insistir no assunto é logo convidado a deixar o reduto familiar. Pois, está demonstrado nas experiências científicas que se acariciar um cachorro durante um tempo, ele vai apresentar resultados bem diferentes quando comparados aos cachorros que não foram acariciados. O livro Tocar tem pilhas de pesquisas com animais para provar o quanto eles reagem à atenção, ao cuidado e ao carinho. Se entre ratinhos, que foram bem cuidados e manuseados, vária vezes ao dia e os ratinhos que não tiveram nenhum contato físico e que só foram alimentados pelo experimentador, esse último grupo certamente vai apresentar uma deficiência imunológica gigantesca. Ao retirar à tireoide e a paratireoide dos ratinhos dos dois grupos observados, os que não foram acariciados morrem em dois dias e os que foram acariciados duram em média um mês. Essas diferenças são muito significativas.
Portanto, faz-se necessário que os amantes aprendam a mostrar o coração através de gestos de carícias. Não deixar ficar apenas na intenção e na vontade de abraçar, de acariciar, de beijar ou dizer ao outro que está encantado e que é muito bom estar juntos, quando isto for verdadeiro, do coração, informar a pessoa querida sobre sua intenção. Nunca se acanhe em “pedir” um “abraço” ou um gesto de “carinho” quando sentir-se carente. Nas relações afetivas são assim, como na vida em geral, muitas coisas se perdem por não expressar ou pedir naquele momento em que há o envolvimento de um pelo outro. Estar sempre realçando as qualidades do outro, pois este é um comportamento lícito para que se concretizem as diversas manifestações de carícias. Somos um projeto de humanidade e isto implica que os humanos são imperfeitos por natureza, não somos melhores e nem piores que os outros. Aproveitar o que a vida nos oferece de bom, antes de perder energia lamentando ou criticando o que precisa ser mudado. Criar e recriar continuadamente novas emoções, experimentar novas manifestações de carícias através de uma expressão simples de afeto, ternura e sedução, que é a principal matéria prima da carícia. Contudo, as carícias do olhar são as mais adoráveis, chegam ao fundo da alma, aos limites do “Ser”, e libertam assim segredos inefáveis de outro modo em silêncio, isto é, sem ninguém notar.  

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