25 de junho de 2016

NO AMOR REVELA-SE O INFINITO

A palavra amor tem mais sentidos do que qualquer outra palavra do mundo, segundo os filósofos e poetas. Quando estamos diante de alguém que nos desperta emoção e encantamento, penso estar aí à gênese do amor. De modo que, somos tomados por uma ternura  que nos convida a essa união. Começa brando, suave e macio e aos poucos vai contaminando todo o nosso ser, tornando-nos desejosos. O amor nos mostra basicamente duas funções que quase se confundem, mas, que é possível descrevê-las como sendo realmente duas. A primeira é levar-nos à descoberta de nós mesmos enquanto pessoas que somos e capazes de amar. A segunda é pôr-nos em contato com a divindade, a eternidade, o infinito ou o ilimitado. Isto só se dá entre indivíduos que se proponham a viver em estado amoroso ou viver uma relação interpessoal entre duas pessoas, que se traduz em amor romântico.

Podemos dizer que toda vez que resistimos a um contato intimo com nosso próximo, quase sempre usamos como pretexto a essa resistência, algum pretenso defeito da pessoa querida, coisa do tipo: “Ah se ela não fosse tão orgulhosa, se não fosse tão teimosa, confusa, fria, indiferente e cheia de preconceitos”. Estando implícito, que se o outro não fosse do jeito como o vejo, certamente o amaria mais, se daria mais. Estes defeitos funcionam como uma barreira existente entre ambos,  como se fosse algo isolante, muitas vezes repulsivo. Juntamente com esse modo de perceber o outro e julgá-lo vai um desejo implícito, coisa do gênero, se ele não fosse assim, deixasse de ser intolerante, certamente o amaria mais. Os nossos defeitos e da outra pessoa nos separam, nos isolam, nos distanciam. É quando começamos a esbarrar nestas coisas que nos é dada a oportunidade de exercer ao máximo a arte de amar. É olhar as qualidades que lhe são peculiares. É reconhecer o infinito no amor.

Quase sempre ouvimos frases feitas levianamente faladas no nosso dia a dia, que quem ama outra pessoa tem de amá-la por inteira, como ela realmente é com suas qualidades e defeitos. Só que as pessoas não juntam as ideias, para melhor pensar. Dito de outro modo vai pouco a pouco percebendo o jeito de ser do outro, de pensar, de agir que nem sempre nos é conveniente. É aonde o encantamento vai esfriando até minguar. Então, aceitar os defeitos do outro é falso. Numa relação de boa qualidade, procuramos sempre melhorar o outro respeitando seu modo de ser e viver. O bom amor não é aquele que enaltece o outro, mas sim, aquele que transforma o outro num ser melhor. Em nossa sociedade admite-se, quase sem crítica, e com muita obscuridade, que as pessoas buscam acima de tudo o próprio interesse, são egoístas, mesquinhas e centralizadoras. Porém, para os intolerantes, tudo que foge ao seu modo de pensar e agir, é falso e mentiroso.

Percebemos o quanto é difícil e pesado sermos nós mesmos, o quanto custa nos arrastarmos pela vida com este lastro de aspectos negativos, os quais, não obstante serem negativos é o que mostramos, por serem inerentes a nós, como nossas mais caras virtudes e aptidões. Provavelmente, o modo mais comum de negação de si mesmo, resida justamente no desejo de fazer parte de um grupo ou tribo, de um partido ou de uma ideologia, que nada tem a ver conosco. Todavia, vivemos numa sociedade de renúncia que cada um faz de si mesmo. Quanto menos eu sou eu, mais sou ninguém diante de um grupo considerado ninguém. Onde se espera muita uniformidade de comportamento, sentimento ou pensamento, por simples descrição fica excluída toda individualidade. Deixo de ser eu para ser o que o outro quer. Nesse sentido, qual a minha verdadeira identidade?

O amor nos ensina que há infinito em nós, mas que não somos infinitos. Esse infinito faz parte da criatura humana, mas o meu “EU” não é infinito. O amor capaz de nos ensinar estas duas lições é certamente um amor abençoado. Quando este amor, além de sentimento e compreensão se faz também contato como: aconchego, trocas calorosas, contato de proximidade e carícias, podemos dizer que temos aqui um amor perfeito. Talvez por isso o amor seja triste. Ele nos acena, ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e integral. O que mata essa vivência é julgarmos sem precedência o que nos faz bem, em detrimento do que nos faz mal. Como posso acreditar na vida que não vejo se duvido dos seres vivos que vejo? Por acaso, eles não são frutos da vida?

Portanto, pouco a pouco, ganhamos dignidade e respeito por nós mesmos, ao mesmo tempo vamos reconhecendo essa força interior chamada amor e cientes do quanto o outro é necessário para a manifestação desta força e o quanto ela é poderosa, a ponto de nos transformar em pessoas boas e dóceis. De modo que, onde há amor a transformação é permanente. Onde não há transformação e nem crescimento não podemos afirmar que amor ali impera. Ao plantar a dúvida podemos estar decretando a morte de um grande amor que só faz acolher. Tendo em vista, que o amor nos da essa possibilidade de conhecer o infinito. Pode ser que nossa vida esteja em risco, se virarmos as costas para aquilo que nos faz bem. Contudo, é através do amor que o infinito revela-se em nós e com sua Luz nos Ilumina. 

Um comentário:

  1. Talvez por isso o amor seja triste .Ele nos acena ,ele nos afirma e ele nos ensina que não há limites para vivermos essa realização plena e integral! Lindo hem !!!!!!

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