1 de maio de 2016

AS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Em meio a tantas mudanças, das novas tecnologias de informáticas e telecomunicações, o ensino superior enfrenta um grande desafio. As rápidas transformações do mundo impõem uma nova estrutura educacional e mais empenho dos governantes e professores comprometidos com o ensino de qualidade, com novos equipamentos e com remuneração mais compatível. Na verdade, o sistema universitário brasileiro pouco mudou nos últimos séculos. A começar pela sua estrutura física, são prédios formatados dentro da concepção de salas reclusas, períodos semestrais, quatro a seis aulas diárias, a comunicação é unilateral, alunos displicentes e passivos, currículos estanques, programas idênticos ano após ano. É um modelo neo-liberal, que na visão da filósofa e educadora Marilene Chauí (1941), “o neoliberalismo opera no encolhimento do espaço publico e no alargamento do espaço privado”. Quando a universidade pública é inserida neste contexto, desaparece o modelo original de formação e pesquisa e surge uma nova universidade operacional, ou seja, faculdades de resultados.

De certo modo, mesmo que os números demonstrem que está havendo crescimento no ensino superior, o Brasil precisa crescer ainda mais. Estima-se que há apenas 13,5% de estudantes matriculados na universidade pública. Em comparação com a Argentina que é de 52,7% e a Venezuela que é de 31,6% da população, nós estamos muito abaixo neste ranking. Nesse sentido, duas característica diferem e aproximam a universidade publica brasileira de outras situadas na America Latina. No Brasil há um alto número de matrículas em universidades privadas. No entanto, grande parte das pesquisas brasileiras e da América Latina ainda acontecem nas universidades públicas. A Argentina é o único país que possui três Prêmio Nóbel de ciências, todos ligados a professores e pesquisadores de instituições públicas. Porém, aqui no Brasil as melhores universidades são as públicas, que ainda são responsáveis por 95% das pesquisas.

Há muitas perguntas a serem feitas sebre a nossa educação. De quem é a culpa do ensino público superior estar caminhando devagar no Brasil? Os estudantes estão preparados para competir neste mundo cada vez mais desconfortável e exigente? E a qualidade do ensino? Essas são algumas das perguntas fundamentais e norteadoras do ensino no Brasil. Pois, nas promessas de campanha, a meta do governo era justamente colocar a maioria da população na sala de aula e com ensino de qualidade. Por isso, a formação dos professores tornou-se uma tarefa prioritária que infelizmente não foi levado a sério. Um mercado que absorve mão de obra qualificada, a titulação de mestres ou doutores já não é mais suficiente. O professor não pode parar de estudar e aprender, o aperfeiçoamento tem que ser permanente.   

Cabe à universidade brasileira, seja particular ou pública, a missão de comandar e humanizar a modernidade, oferecendo mais cursos de Pós Graduação para mestres e doutores, fomentando o incentivo a pesquisa nas varias área do conhecimento. Penso que se a universidade não marchar nesta direção, à modernidade será imposta de cima para baixo e de fora para dentro, pela via da produção industrial, do consumo e dos meios de comunicação. De modo que, o papel do conhecimento e da informação torna-se cada vez mais central e exige uma boa articulação da educação universitária. Para nós a noção de educação superior como direito do cidadão e como inclusão social é algo muito recente e temeroso, porque busca romper com a visão de uma universidade elitista. A finalidade do exame nacional do ensino médio (ENEM), tem como proposta acabar com a industria do vestibular. A começar pelos cursinhos.     
    
Por outro lado, uma universidade sem visão mais ampla, com propostas ultrapassadas, vai, fatalmente, perdendo a relevância e com certeza chegará o momento de ser “tombada”. No entanto, vejo a universidade como um centro de produção e transmissão de conhecimento fundamental, pois, além de fazer cultura e o saber científico, também socializa o conhecimento e preparar recursos humanos, a universidade tem a função de discutir e intervir nos rumos do modelo de desenvolvimento econômico, político e social do país. Ao invés de temer essa função, deve capacitar-se e aproveitar para participar da definição desse crescimento. Precisa renascer e voltar-se sobre si mesma, com autocrítica. Caso contrário nunca vamos ter pesquisadores de renome internacional, dignos de Prêmio Nobel.

Portanto, é preciso não perder nunca de vista os pilares do ensino, pesquisa, extensão e o direito inalienável a uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Mas esses antigos propósitos das universidades estão perdendo espaço para as discussões sobre excelência, eficiência, taxas de retorno, quase de acordo com receituários econômicos inflexíveis e que estão conduzindo o país para uma verdadeira armadilha da dependência e do subdesenvolvimento. Nós merecemos um destino melhor. A produção intelectual e científica é um direito de todos nós cidadãos.  

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