11 de maio de 2016

UTOPIA E RESIGNAÇÃO DE UM PROFESSOR

A palavra utopia foi criada pelo diplomata e escritor Thamas Morus (1478-1535), em 1515 que significa literalmente o lugar nenhum, lugar que não existe, o não lugar. Em outras palavras, a descrição de lugares imaginários, com suas normas ideais de funcionamento e de boa convivência, foi usada ao longo dos séculos para que os pensadores ilustrassem suas teorias sobre como deveria ser a sociedade perfeita, ou mesmo como uma forma de criticar as sociedades existentes. O atual vazio de sujeito e a falta de perspectivas para um futuro imediato têm contribuído para a resignação de muitos à ditadura do presente. Ora, estaria então, a esperança dos professores, hoje, órfã de utopia? Gosto do conceito construído pelo educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997): “ser utópico não é sair desenfreadamente em busca daquilo que não pode ser realizado. Ao contrário, é saber denunciar as injustiças de uma sociedade desumana e, ao mesmo tempo, anunciar um novo mundo de realizações, de solidariedade e de liberdade para todos”.

Não tenho dúvidas de que a escola é o lugar de excelência para que esse princípio se concretize. E os diretores que cuidam da gestão escolar comprovam isso ao olhar para cada jovem estudante e para a comunidade escolar com a intenção de fazê-lo crescer e ao apontar a aprendizagem como uma forma de libertar-se da violência. Uma parcela significativa de diretores, assim como de professores, que têm uma visão utópica da educação, da cidade em que vivem e da vida como um todo. Inventar e construir a própria história e a história desses jovens é a nossa lição como educadores. Só que a realidade está aí estampada para todos verem, e o quanto tudo isto é cruel para nós profissionais da educação.

Entretanto, os estudos vêm comprovando que a cada ano através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que mais de dois milhões de jovens, com idade entre 15 e 18 anos, que não sabem ler, escrever e muito menos interpretar o que lê. Consequentemente esse agravante tem como base às leis que asseguram, através da Constituição Federal, o direito a todos os cidadãos ao estudo, mas estas leis não são capazes de garantir uma política educacional eficiente com escola de qualidade para qual o jovem se sinta atraído. Os indicadores são mais que suficiente para mostrar o descaso pela educação no país. A desvalorização ética e a falta de respeito para com o professor. Para piorar ainda mais, um deputado do (PMDB), teve a coragem de criar um projeto de Lei que prevê mudanças na postura dos professores na rede publica estadual de Alagoas. Veja o absurdo, esses mestres serão impedidos de dar opinião, mantendo neutralidade política, ideológica e religiosa na sala de aula. Diz que é necessário para que o professor não expresse sua opinião dentro da sala de aula e, assim, seja imparcial. O texto pretende manter a pluralidade de idéias na escola. Está certo cercear um professor de pensar? Nem o governo e nem a sociedade tratam com respeito nossos professores. 

No entanto, temos acumulado reproduções de modelos, e estas nos têm afastado, historicamente, da realidade, anulando potencialmente o desenvolvimento da capacidade de pensar e criar. É importante que os professores entendam os desafios da educação que não são os mesmos dos governos, que visam à manutenção do poder. Em vez de ficarem discutindo com a direção da escola sobre a disciplina dos alunos, os quais pouco se preocupam com os educadores. A categoria precisa ser mais unida e não participar do intento governamental. Na verdade, ele espera um professor vacilar para colocar a sociedade contra, como se a culpa fosse dos professores. Tornou-se comum caso de desrespeito contra o professor e a educação. Para ilustrar, em Belo Horizonte, um estudante sem razão nenhuma, processou a escola e o professor porque tirou notas baixas, alegando danos morais. Segundo o aluno, passou a noite estudando, portanto, não achou correto o professor ter dado uma nota baixa. Em nenhum momento questionou-se o conhecimento desse aluno. Parece haver uma inversão de valores. Uma lógica perversa por trás dessa violência e desrespeito que vem assolando os profissionais da educação.  

Na verdade, os professores precisam compreender e romper com essa falsa lógica. Rejeitar a cultura da descrença e construí-la dentro de si, como ação política, de crença e esperança. Perceber que o pensamento cada vez mais está sendo dispensado pelos governantes e pela classe dominante, para não serem incomodados. O maior exemplo desse descaso é a política vigente do nosso sistema educacional brasileiro. Descrevo isto com dor no coração. O professor que pensa, questiona e põem em dúvida algumas regras pré-estabelecidas, optando pela busca do conhecimento através da pesquisa. Torna-se, portanto, um sujeito consciente, muito perigoso para aqueles que detêm o poder. Discute-se com certa frequência a respeito de um projeto pedagógico. Que possa atender os anseios dos jovens. Há aqueles os quais defendem o aluno, outros defendem o professor. Ainda existem aqueles favoráveis ao conteúdo que aí está. Acredita-se que no centro do processo educativo esteja um “projeto social”. A sociedade brasileira nesse sentido torna-se democrática e cidadã, fundamentada na igualdade entre os indivíduos e no respeito. Conforme o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), analisou as razões das desigualdades sociais. Segundo ele, o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe gerando a desigualdade, escravidão e a tirania.

De modo que, o Ministério da Educação tem quase que exclusivamente, uma obrigação com a instrução e muito pouco de formação integral, ou seja, formar homem na sua totalidade. O discurso do governo é utópico e ideológico. Ele só interessa pela instrução técnica para o crescimento econômico de uma minoria. Pregam uma moral falsa e utópica. No entanto, não se observa avanço na educação, porque não há interesse em bons projetos educacionais. Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), argumenta no seu livro: “Educação do Homem Integral”, que instrução torna o homem erudito, meio que robotizado, só serve para si mesmo. A moralização torna o ser humano altruísta. A erudição e o altruísmo não são ensino verdadeiro, pois, não passam de condicionamento psíquico. Diz Rohden: “basta que haja, na alma de um indivíduo, uma fonte de alta voltagem para que outros seres humanos receptivos sejam por ela beneficiados”.

Portanto, o altruísmo é uma forma de egoísmo sublimado, aquele que espera recompensa após a morte. A erudição torna o homem técnico e conteudista. O homem realmente educado é bom, ele não espera recompensa por ser bom, nem no presente e mesmo após a morte. Contudo, essa resignação crônica que vive o professorado, os políticos tiveram culpa e continua sendo culpados por omissão. Limitaram-se aos fatos, não se interessaram pelos valores. Onde os estudos revelam sem valores, não há educação integral. E quais são esses valores? Verdade, justiça, amor, respeito e honestidade, que para muitos, são valores inalienáveis. É a formação da consciência crítica e não uma simples descoberta científica, nem altruísmo moral que faz a diferença na nossa vida. Foi Albert Einstein que disse: “o homem de ciência, descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo”.


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