1 de agosto de 2015

A EXISTÊNCIA HUMANA EM QUESTÃO

Biologicamente a gente compreende a vida em nascer e morrer. Mas, se quiser pensar filosoficamente, nós aparecemos e desaparecemos. Nós aparecemos nesse mundo e não sabemos muito bem como, por mais que se estude do ponto de vista mecanicista. Mas, no fundo não deixa de ser uma aparição. Uma hora vamos desaparecer e não temos a certeza para onde vamos. Existir por si só é algo misterioso. Afinal, quem somos nós? Qual o sentido da nossa vida? O que significa dizer que somos livres? Até que ponto podemos conhecer a realidade? Eis aqui a nossa própria existência em questão.

Pois tais interrogações, dentre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter das nossas vidas, como das nossas relações com os outros, e afetam a nossa visão do mundo, se paramos para pensar. Só faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não sabemos algo. E isso nos põe em condições de aprender. Pois o “óbvio” não será apenas aquilo em que paramos de pensar, ou repetimos sem pensar?

Por isso, dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria. E aquele que é amigo, que ama a sabedoria, sabe que a cada encontro de uma ideia surge um novo ponto de partida, e que ela não está nunca acabada. A filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação no olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar um certo “estranhamento” frente a realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente já sabidas. Há, aqui, uma atitude, onde o pensar é desafiado a ir além de si mesmo. Ante essa atitude, que assume a própria “perplexidade” e “admiração” como ponto de partida, a filosofia é um convite ao diálogo.

Dialogar envolve um aprendizado de escuta do outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. Em um diálogo não disputamos ideias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de ver e abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as ideias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho.

O filosofar tece, assim, a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Surge assim um convite a pensar naquilo que é, ainda, não pensado, a ir ao encontro dos nossos próprios limites, condição de sua superação. Esse convite em direção ao alargamento de nossos horizontes de sentido põe em jogo, as nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o meio ambiente e com o conhecimento. O caminho, porém, é duplo, e um trabalho interior interage com as relações educativas que matemos com os demais. Pois a jornada de nossas vidas o faz simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser “Eu” com essa outra, a de sermos também “Nós”, na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana.

Portanto, se nos dispomos a buscar o sentido de nossas vidas, não deveremos tocar de algum modo, em seus mistérios? E isso não poderá tornar a vida ainda mais interessante? Contudo, para tanto enigma, só mesmo recorrendo ao poeta, filósofo e escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), o poema “Tabacaria”: “Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos. Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?  

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