15 de agosto de 2015

NOS PRIMÓRDIOS DA FILOSOFIA

Há algo de estranho e admirável no mundo. Pensar, por exemplo, que tudo poderia simplesmente não existir, ou que sequer sabemos o que somos, para onde vamos e qual o sentido de tudo isto. Para o filósofo e educador Sérgio Augusto Sardi (PUCRS), “pode até causar vertigens, pois são decisivas as muitas perguntas que surgem quando indagamos o sentido último de tudo o que nos cerca”. Parece que começa aqui uma singular experiência do pensamento, a filosofia, caminho trilhado desde a Grécia Antiga, ou ainda antes. Mas, além de um começo na história, esse despertar está em cada um que vivencia a mudança de percepção da realidade que as questões filosóficas evocam. Assim como os gregos, um dia começamos a refletir sobre os mitos que narram às origens, os porquês e a finalidade de tudo. Como eles, passamos a estranhar aquilo que pensávamos ser trivial, a duvidar do óbvio e a buscar as razões das nossas perguntas e respostas.

Na verdade, qual o problema que moveu os primeiros filósofos? Eles se deram conta de algo surpreendente: tudo muda, tudo está constantemente deixando de ser o que era para vir a ser outra coisa. Nada permanece igual, sequer eu, ou você! Eis que surge o outro lado da questão: se tudo está em transformação, como é possível que o mundo, ou cada um de nós, continue a ser, de certo modo, o mesmo? Deve haver algo, pensaram os gregos, que permanece idêntico, no fundo de tudo o que se transforma. Um princípio de estabilidade e unidade, apesar da multiplicidade e da mutação incessante de todas as coisas.

Tales de Mileto (624-558 a. C.) e Anaxímenes (585-524 a.C.) buscaram esse princípio no âmbito do visível. Julgaram ser algum tipo de matéria, como a água, ou o ar, que se transformaria naquilo que observamos na natureza, podendo voltar a ser o que era. Porém, outro pensador, Heráclito (535-475 a.C.), seguiu um caminho diverso, propondo que a ordem do mundo estava no próprio vir a ser contínuo de todas as coisas. Seria preciso ir além, e filósofos como Pitágoras (570-497 a.C.) e Parmênides (530-460 a.C.), dentre outros, pensaram a estabilidade e a unidade do mundo a partir do invisível, chegando aos números e ao "Ser" como princípios. Inauguraram, com isso, outro problema: o das relações entre conhecimento e realidade. A busca prosseguiu com Demócrito (460-370 a.C.) e Leucipo (séc V a.C.), que conceberam partículas indivisíveis, os átomos, a sustentar a existência do mundo, uma ideia bastante familiar aos dias atuais.

Entretanto, algo começou a mudar quando Sócrates (469-399 a.C.), nas ruas de Atenas, passou a interrogar aqueles que diziam conhecer a verdade, até que se dessem conta de que, no fundo, não a conheciam. Ele mesmo dizia saber apenas que nada sabia. Livre de preconceito, cada um poderia fazer nascer, em sua interioridade, novas ideias. Pois só começamos a filosofar quando percebemos que somos aprendizes do aprender, e passamos a pensar sobre como pensamos. Com Sócrates, foi o próprio homem o motivo de admiração e reflexão filosófica.

Platão (427-347 a.C.) retratou, em diálogos, este método de educação de Sócrates, “a maiêutica”, assim como sua vida. Em “O Banquete”, disse que a sabedoria não pertence ao ser humano, pois é algo divino, mas é preciso continuar a buscá-la, ser “amigo da sabedoria”, ou seja, filósofo. Sócrates se voltou contra os sofistas, que para tanto, buscavam iludir, distorcendo argumentos. Assim, Platão passou a sua vida buscando distinguir as aparências da realidade. Mas, para isso, precisou refletir sobre a totalidade do mundo e do conhecimento humano.

Portanto, Platão e seu discípulo Aristóteles (384-322 a.C.), conceberam o mundo como um “sistema”, algo como uma pirâmide de ideias ou conceitos, onde no topo ou princípio, deveriam estar aqueles que abrangessem a realidade como um todo, conferindo unidade e estabilidade ao real. Na base, as coisas múltiplas e mutáveis que nos cercam. Discordam, porém, sobre a relação entre essas ideias e o mundo. Aristóteles vai além, desenvolvendo a lógica e os fundamentos das ciências, como, por exemplo, a “física”. De fato, o mundo atual seria impensável sem o legado destes pensadores.

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