25 de abril de 2014

EXPLORAÇÃO DE SI MESMO

Certa vez, muito intrigado, um discípulo abordou seu velho mestre: “Como o senhor, de idade tão avançada, parece ainda mais novo do que nós? Como pode estar sempre tão bem disposto e alegre?” A resposta veio em seguida, mas naquele tom calmo, comum aos sábios, ondulante e com todas as pausas: “Quando eu como, eu como. Quando eu descanso, eu descanso. Não tenho nenhum problema em fazer uma coisa de cada vez”.   
Esta pequena história, mas de uma profunda sabedoria oriental, nos da pista para investigar um tema que muito nos interessa nos dias de hoje. A dificuldade que temos ao tentar fazer uma coisa de cada vez. A dificuldade que temos de prestar mais atenção no que sentimos. O homem é um ser explorador por natureza. Graças a essa característica espalhou-se pelo planeta, povoando todos os continentes. No entanto, a mais importante das explorações do homem deveria ser a exploração de si mesmo, de seu mundo interior, os sentimentos e as suas fraquezas. O “conhece-te a ti mesmo” socrático encontra apoio na psicologia moderna, que deseja um homem autoconsciente, equilibrado, senhor de seus pensamentos e de seu destino. Que tenha domínio sobre si mesmo, sem que se perturbe com as intrigas e as opiniões do mundo das aparências, as fofocas.   

Entretanto, a nossa exploração interna tem estado em crise. Será que, realmente, nos conhecemos de fato? Milhões de palavras foram gastas, ao longo dos séculos, para descrever os mistérios da paixão. Todas as maiores mentes da humanidade se declararam impotentes frente aos mistérios e caprichos da paixão. Não da tempo para que olhemos para dentro de nós, porque temos muito aí fora para olhar. Vivemos da opinião dos outros e abandonamos os nossos nobres sentimentos. Em algum momento da vida trocamos mensagens de carinho pelo celular, dividimos o pudim feito no micro ondas, assistimos filme juntos e depois dormimos de conchinha. Enfim, fomos o centro da vida um do outro. Mas agora é cada um para o seu lado. E sempre fica um enorme ponto de interrogação e ao mesmo tempo uma lacuna na vida de cada um. Se era tão bom, por que acabou? Podemos até explicar, mas nunca vamos encontrar uma justificativa plausível, para as coisas do coração.

Além disso, a vida moderna às vezes faz exigências paradoxais. Aquelas que, quando você atende a uma, não pode atender à outra. Manda você estar ligado a todos os assuntos ao mesmo tempo, conectado, plugado, só para usar alguns dos neologismos pertinentes, mas também nos manda ser calmo, sereno e criativo. E da para ser tudo isso ao mesmo tempo? Informações, tarefas, cobranças, desejos, ofertas, temos tudo em excesso. Sem falar ainda, daquelas pessoas que aparecem do nada para nos destruir, destilando seus venenos. Diante de tanta crueldade, fica a pergunta: Por que a maldade permeia a nossa vida? Ser cruel da mais prazer do que amar? Talvez seja por que sofremos e queremos fazer o outro sofrer? Ou odiamos por que amamos profundamente?   

Por outro lado, a internet trouxe grande contribuição, mas também algumas dificuldades. Pois, é necessário ser especialista e generalista ao mesmo tempo; lidar com o volume de informações que, se por um lado é o oxigênio da maioria das profissões, são intoxicantes em função de seu excesso; fazer várias coisas ao mesmo tempo com a mesma qualidade obtida em tarefas de dedicação exclusiva. Multiplicar o tempo, que parece cada vez mais raro, e que escorre entre nossos dedos. Esquecemos o que é viver, o que é estar vivo. É preciso lembrar o que temos e o que podemos perder. Mas, o tempo nos permite pensar sobre?

O homem moderno tem de parar e pensar mais. Perceber que as rupturas não são modernas, mas novas propostas. O moderno sente o presente, olha para o futuro e utiliza o passado como ensinamento e aprendizado. O moderno não despreza o que a humanidade pensou, escreveu e produziu nos últimos seis milênios, e sim adapta esse legado à atualidade. Contudo, não podemos esquecer que bondade e o sentido de cada coisa não se alcançam só pelo conhecimento. É preciso ainda uma aposta razoável de que o amor é o alimento da alma.

Portanto, nos descobrimos em um mundo com muitas atividades, muitas informações, muitas exigências, pouco tempo para amar e uma imensa gama de intolerância diante desse sentimento tão nobre, que é o amor. Essa é uma combinação explosiva, cujo resultado pode ser representado por produtividade baixa e estresse alto em nosso dia a dia. A não ser que nos organizamos, e não apenas em termos de agenda, mas em termos de qualidade mental em equilíbrio com nossa natureza. O cérebro trabalha melhor quanto mais focado estiver. Concentração é sinônimo de qualidade de vida e crescimento interior. E o amor é o equilíbrio entre o nosso mundo interior, com o nosso mundo exterior. Sendo assim, haverá harmonia entre esses dois mundos e a paz reinará entre homens.

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