6 de abril de 2013

A GRANDEZA DA HUMILDADE

Caminhamos na vida como se tivéssemos vendados os olhos do corpo e da alma. A pretensão de tudo isso leva-nos ao orgulho, que é um entrave à nossa evolução. Na verdade, o orgulho leva à desavença, além da incompreensão entre as pessoas, porque cada um julga-se superior ao outro, lutando entre si, em lugar de se darem as mãos e se compreenderem. Como disse o filósofo e padre dominicano francês Henri Dominique Lacordaire (1802-1861): “O orgulho divide as pessoas, a humildade os une”. A modéstia é uma das virtudes que enobrece a alma no conhecimento de si mesmo, no limite do pouco que se sabe e do muito que ainda resta a apreender. Quando a pessoa está mergulhada na vaidade, julga saber tudo, quando na verdade, tudo ignora.

Entretanto, esta pretensão manifesta-se mais nos jovens, no início dos seus estudos, sobretudo, na desobediência aos seus professores e familiares. A situação chega a tal ponto que os jovens ignoram a lei para demonstrar que não há nenhuma autoridade acima da sua. Neste caso a liberdade da democracia, alvo de tantos abusos, conduzirá diretamente à escravidão e à tirania. Pessoas orgulhosas de suas falsas aptidões atiram-se pela vida afora em busca de alguma coisa, como no caso de um relacionamento amoroso, de um trabalho e sonhando grandes sucessos, que muitas vezes resultam em grandes fracassos e decepções, por falta de conhecimento básico. Como disse o filósofo, matemático e pintor italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519): “Ó miséria humana, de quantas coisas, por dinheiro és escrava”. É aqui que a reflexão, a modéstia e a humildade devem surgir como orientadoras dos passos que damos na vida e para qual direção seguir, principalmente no campo afetivo das relações amorosas.

Há pessoas que sabem ter atitudes discretas, falam pouco e ouvem mais, se conservam amáveis, escutam com paciência, aprovam ou criticam sem ressentimento, porque depois de ter aprendido e meditado muito, a pessoa tem consciência de sua pequeneza em face da imensidade no domínio das coisas desconhecidas. Nossa má conselheira é a falta de modéstia, porque nos leva a criticar o outro, a propósito de coisas insignificantes. Nosso desejo é dominar o outro com virtudes e conhecimento que muitas vezes não temos. Todos os grandes santos falaram e nos ensinaram as grandes virtudes da humildade. Com certa frequência não somos humildes, vamos a Igreja aos domingos (cujo símbolo cristão é o perdão e o amor ao próximo), nos redimimos dos pecados e comungamos no Corpo de Cristo, dias depois crucificamos o nosso semelhante sem piedade e sem dó, mostrando o quanto temos de crueldade e rancor no coração. Matamos o outro moralmente, convicto de que estamos eliminando uma erva daninha do nosso meio. Será que alguém ainda acredita totalmente inocente, a ponto de julgar o outro pelo fim de uma amizade ou de um relacionamento amoroso? Quando buscamos motivos para execrar o outro é porque não o amamos suficientemente, quando amamos verdadeiramente, buscamos razões para continuar nos braços desse amor.

Segundo o padre e teólogo espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer (1902-1975), foi fundador da Opus Dei na Espanha. Em 1992 foi beatificado e em 2002, João Paulo II o canonizou como São Josemaría Escrivá de Balaguer. Ele nos da um precioso conselho sobre a humildade: “Conseguirá mais com uma palavra afetuosa do que com três horas de briga. Modera a tua ira. Não discutas. Da discussão não costuma sair à luz, porque é apagada pela paixão. Procura encontrar diariamente uns minutos dessa bendita solidão, que tanta falta te faz, para teres em andamento a vida interior”. E nessa profunda reflexão, mais adiante ele continua: “Não queiras julgar, cada qual vê as coisas do seu ponto de vista e com o seu entendimento, bem limitado quase sempre, e com os olhos obscuros ou enevoados, com trevas de exaltação muitas vezes. Não julgues sem colocar o teu juízo na oração”. Pela vivência deste santo homem, poderíamos dizer que a simplicidade é irmã gêmea da humildade. A simplicidade é a que há de mais difícil no mundo, é o último resultado da experiência, a derradeira etapa do gênio, seja em qualquer área, quero acreditar que sempre vai existir um gênio da humildade entre nós.

Portanto, o sábio conhece que a posse das mais altas verdades o obriga à extrema discrição e à maior modéstia, porque o poder que se proclama se perde; a verdade que se vulgariza se apaga; a felicidade que se anuncia se esvai. Entre outras coisas que a verdade pede é que não a condene antes de conhecê-la. Sobretudo, porque a humildade é condição essencial ao progresso individual e proporciona felicidade aos seus possuidores e consolida no amor. Contudo, nós humanos não somos um ser simples, mas composto de duas substâncias e, o amor em si mesmo tem dois princípios: o ser inteligente e o ser sensitivo. O apetite dos sentimentos tende ao bem estar do corpo e o amor ordena o bem estar da alma. Se este amor for bem desenvolvido e maduro o suficiente para segurar as turbulências da vida, ele está seguramente no plano da consciência Cósmica. Compreender e entender o outro são sinônimos de humildade e compaixão. Sobretudo, por ser o amor a essência da alma.         

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