24 de setembro de 2011

SEXO, AMOR E CASAMENTO

As mudanças de comportamento e os estudos nos últimos cinquenta anos vêm demonstrando que sexo, amor e casamento são incompatíveis não andam juntos, são completamente diferentes, autônomos e para falar a verdade, são três situações essencialmente antagônicas. Mesmo Freud considerava o amor como uma expressão sublimada da sexualidade e, portanto, colocava os dois impulsos na mesma categoria. Penso ser isso a causa de enormes volumes de equívoco em torno do assunto. Muitos profissionais como psicólogos, filósofos e educadores, de modo geral, continuam cometendo graves erros ao juntar as três coisas. São fenômenos completamente distintos, não coabitam entre si. 
Segundo o psiquiatra Flávio Gikovate, o amor é um impulso que surge desde os primórdios da vida, desde o nascimento. É o responsável pela paz e harmonia que a criança sentiu de alguma maneira durante o período uterino, isto é, o amor como busca de harmonia através da aproximação física e espiritual com outro ser humano. As manifestações da sexualidade surgem pela primeira vez no fim do primeiro ano de vida. Fazem parte do processo de individuação, isto é, quando a criança começa a se reconhecer como entidade autônoma, como criatura independente da mãe e começa pesquisar o próprio corpo. Descobre que em certas partes do corpo ao tocar, provoca uma sensação muito especial e muito agradável. No entanto, é um fenômeno de desequilíbrio, ao contrário do que acontece com o amor, que é um fenômeno de equilíbrio.
Por conseguinte, amor é paz, aconchego e sexo é excitação, movimento, ação. Talvez por isso mesmo que Freud tenha tão insistentemente falado na ideia de sexo como impulso vital por excelência. Ele reconhecia a existência de dupla tendência no ser humano.
Entretanto, essa separação entre sexo e amor me parece absolutamente fundamental, principalmente porque o amor além de ser um fenômeno interpessoal é uma busca permanente do ser humano em todas as outras fases da vida, completamente diferente da busca sexual que é pura excitação e essencialmente pessoal, ou seja, um fenômeno auto-erótico, que persiste como auto-erótico pela vida afora. Por isso o corpo, além de marcar a nossa presença no mundo, ele é fonte de prazer pessoal.
Há uma tendência na nossa sociedade de achar que amor e casamento andam juntos, que não há como separar, que o amor intenso é algo que pede o casamento. O casamento é entendido como um compromisso sólido, estável e de união. Então por que amor e casamento não combinam? Por uma razão muito simples, o amor é uma emoção e o casamento é uma instituição. Entretanto, os casamentos antigos, de algumas décadas atrás, duravam a vida inteira porque derivava de arranjos racionais entre as famílias. Sobretudo, porque o casamento não foi feito para a felicidade humana e sim para a organização social.
A partir do momento que começaram a enfiar o ingrediente amor no casamento, os resultados não têm sido dos melhores. O número de divórcios só tem aumentado no Brasil. A busca da verdade parece ser um caminho muito pouco percorrido nestes últimos tempos. As pessoas não juntam ideias e continuam na ilusão de que é possível conciliar essas três coisas, sexo, amor e casamento.
As pessoas esqueceram que o estado mais gostoso da vida é quando estou encantado por alguém. Nesse momento estão ocorrendo trocas fundamentais para a nossa vida. Essa pessoa torna-se o meu “Guru” e me transforma. O bom amor é aquele que transforma as pessoas. Não existem regras para esse sentimento. A não ser sentir esse estado de êxtase, no corpo e na alma.
O que faz com que uma determinada pessoa, completamente neutra para mim, se transforme da noite para o dia em uma pessoa especial, única, sem a qual não posso mais viver? O que provoca essa mágica? Todavia, se quiser transferir esse encantamento para o casamento é líquido e certo que será uma catástrofe. Tendo em vista, que o lugar que menos se faz sexo é no casamento. E quando se faz, é tudo muito rápido e precário.  
Também é evidente que as afinidades intelectuais, do ponto de vista de projetos de vida e objetivos, se transformam em coisas fundamentais porque garantem a harmonia dos amantes. Claro que as diferenças acabam por determinar brigas, tensões e contradições, é difícil imaginar que o casamento possa existir e funcionar bem num clima desses.
Portanto, o encantamento é a razão maior da nossa existência. O encanto é o maior sentimento da vida porque nos mantém vivos sempre. A pessoa admira na outra alguma coisa que ele enxergou de muito especial. E o amor deriva dessa admiração. O sexo é a consequência de trocas pessoais, de carícias que poderão acontecer ou não. Já o casamento é uma empreitada de alto risco que pode não coabitar com o encantamento. Contudo, nada provoca sensação de medo mais forte que a felicidade amorosa. A sensação de harmonia e paz, de aconchego, onde tudo permanece sereno. Tudo isso é tão bom, que nos faz sentir assim tão bem, de tal modo... que parece que estamos em pecado, segundo a inveja humana.       

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