3 de setembro de 2011

O TIRANO QUE VIROU BULLYING

O que era chamada antigamente de criança rebelde, agressiva e mal criada que vive arrumando encrenca e infernizando as demais crianças, principalmente no ambiente escolar, mudou de nome. Como nos casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries iniciais até o ensino médio, têm como o grande vilão dessa história o bullying. Uma realidade assustadora que muitos desconhecem ou não percebem o tamanho do problema que tem dentro das escolas.
A palavra bullying é derivada do verbo inglês “bully” que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também pode ser usado como adjetivo, referindo-se a valentão, tirano. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia “bullying” tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são as crianças e adolescentes considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de brincadeiras maldosas e intimidadoras. Sobretudo pelo seu caráter intencional e repetitivo de agressões contra uma mesma vítima a ponto dessa pessoa agredida querer revidar em forma de massacres cruéis, como já aconteceu.
Alguns estudiosos do assunto como a psiquiatra e pesquisadora Ana Beatriz Barbosa Silva e a educadora e pesquisadora Cléo Fante, asseguram que as simples brincadeiras de mau gosto podem revelar uma ação muito séria. Causando desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento, responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre jovens estudantes.
Entretanto, sendo um fenômeno antigo, mantém ainda hoje um caráter oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem suficiente para denunciar. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Tendo em vista que pode manifestar em qualquer lugar onde existam relações interpessoais.
A consequência dessa tirania afeta a todos, mas a vítima, principalmente é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Pode desenvolver atitudes de insegurança e grandes dificuldades de relacionamento, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos. Sobretudo na vida adulta quando é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um autoconceito de menos valia e considera-se inútil, descartável. Podendo até desencadear um quadro de neurose, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e, principalmente, ao homicídio na maioria dos casos relatados.
Quanto ao agressor, reproduz em suas relações o modelo que o faz ser temido por todos, isto é, eu mando e eles obedecem, na base da força e da agressão. É sempre um tirano, fechado para afetividade e com forte tendência para a delinquência e a criminalidade, portanto esse tirano é quase sempre motivado pela família, que ignora a agressividade do filhinho.
Os pais de ontem mostram-se perdidos na educação dos filhos de hoje. Passam a mão na cabeça dos filhos com muita facilidade. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Não conseguem educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolver conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do “NÃO” ou pela permissividade do “SIM”, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo franco, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto. A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação que recebem em casa, seja por meio dos maus tratos, do conformismo dos pais, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais na escola. Penso que as escolas devem-se conscientizar de que esse conflito relacional já é um problema de saúde publica. Para que se possa desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar e assim neutralizar prontamente os agressores e assessorar as vítimas.
Portanto, diante do exposto, podemos concluir que a presença dos tiraninhos chamados de bullying é, sem sombra de dúvida, extremamente prejudicial, pois diferentemente das demais ocorrências de violência, essa traz consigo inúmeras consequências danosas à saúde física, mental e social dos envolvidos, sejam como vítimas, como agressores ou como testemunhas.               

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