13 de julho de 2011

QUAL O VALOR DA VIDA DIANTE DA MORTE?

Ao que nos parece e, sabemos desde a infância, o que ocorre durante a morte e após morte, como uma verdade absoluta? A morte não nos foi dada como certeza científica ou verdade natural. O que sabemos sobre a pós- morte está no terreno da especulação, ou seja, são apenas situações reveladas. Nunca se questionou. Reveladas por quem? Quantas histórias de mula-sem-cabeça, saci pererê, casa mal assombrada e inúmeros outros mitos os quais ouvíamos na infância. “Causos” contados pelos nossos ancestrais com tanta convicção que até hoje se discute a existência ou não dos mitos da cultura Nacional. São inverdades narradas muitas vezes sem que houvesse contestação, essa mentira transformou-se em uma verdade absoluta.
Deve-se noticiar que os grandes questionamentos da vida, como alicerce nas diversidades das crenças. Para fundamentar sobre o fenômeno morte e o nascimento da crença. Eram aproximadamente oito horas da noite, enquanto caminhava com a minha filha Maria Eduarda, com cinco anos de idade, de repente ela parou olhando para o céu e apontando de tal forma para uma estrela que brilhava e disse: “pai, aquela estrelinha é avó Lazinha”. Emudeci por alguns minutos, sem saber o que responder. O mais impressionante é que fazia somente dois dias que a minha mãe havia falecido. Minutos depois, retomei a conversa com ela, fazendo- lhe a seguinte pergunta: “Como sabe que aquela estrelinha é a avó Lazinha? Ela não teve dificuldade para responder-me: “sabe pai, quando a gente morre, a gente vira estrelinha”. Foi então que me dei conta de que ela havia assistido ao filme do Walt Disney “A Princesa e o Sapo”. O filme traz um personagem curioso chamado Ray, um vagalume, que vive um amor platônico por uma estrela chamada Envagelini. Num dado momento, Ray morre e minutos depois se transforma numa estrelinha, que vai viver para sempre ao lado da estrela Envagelini. A mensagem que fica desse personagem  Ray é que toda pessoa ao morrer torna-se uma estrela e estarão todas as noites brilhando no céu. Como diz  Rubem Alves: “a morte é onde mora a saudade”.          
Entretanto, toda a nossa vida está pautada entre estas duas teorias: o nascimento e a morte. E só a criatura humana tem consciência desse fato.
O nascimento é um acontecimento de que não se tem lembrança. Quem se reconhece existindo tem a impressão de que sempre existiu, de que desperta de um sono sem memória. Ouvir falar do próprio nascimento não estimula qualquer recordação. Pessoa alguma guarda experiência do início do seu existir no plano consciente. Mas, o inconsciente guarda tudo, desde os primeiros dias de vida, não perde absolutamente nada.
O fato é que estamos todos destinados à morte. Estamos geneticamente programados para a extinção, só não sabemos quando essa passagem ocorrerá. Ignoramos o momento em que a morte chegará e procedemos como se ela nunca devesse chegar. Na verdade, vivemos, não acreditamos realmente na morte, embora ela constitua a maior de todas as certezas.
Entretanto, paira no pensamento, uma sensação de impotência muito grande quando se fala da morte. Principalmente quando esta questão é posta em destaque diante da experiência de estar vivo. A morte constitui para o pensamento filosófico um objeto necessário e aparentemente improvável. “Necessário” porque ao nos tornarmos um ser consciente,  temos a certeza de que vamos morrer. Aparentemente “improvável”, porque não sabemos pensar na morte. O que é a morte? Não sabemos! Não podemos saber. É esse mistério que nos traz a sensação de impotência quando pensamos na morte. É como um caminho o qual não saberíamos dizer para onde nos leva. O que há por trás desse fenômeno morte? Nem mesmo sabemos se há alguma coisa. Há muita especulação e as respostas se dividem em dois campos do saber. Para alguns filósofos a morte não é nada. Um nada, estritamente. Já outra ala mais espiritualista, afirma que a morte é outra vida, ou a mesma vida continuada, purificada e libertada. Como dizia Epícuro: “ a  morte não é nada”. Para Platão, esta não é a morte, mas a continuação da vida. A morte tem de ser alguma coisa ou  não ser nada. Para Montaigne, a morte não seria o fim, mas o ponto final da vida atual, seria o cessar da vida e não a sua finalidade essencial. Todavia, a angústia é apenas um momento. A coragem é apenas um momento. Montaigne escreveu uma frase lapidar a respeito da morte: “Quero que ajam e que prolonguem os ofícios da vida tanto quanto possível, e que a morte me encontre plantando meus repolhos, mas despreocupado com ela, e mais ainda com o meu imperfeito jardim”.
Todavia, quem melhor a meu ver refletiu sobre a morte foi o filósofo Martin Heidegger. A morte foi por ele designada como um existencial do ser-aí, uma noção que acentua a união imanente entre a morte e a vida. Como argumenta o antropólogo Renold J. Blank, no seu livro “Viver sem temor da Morte”, que a morte é o verdadeiro modo de ser do homem que ele assume juntamente com a sua existência. Esse ser consciente que passa toda a sua existência vivendo à sombra da morte. Somos os únicos seres que sabemos que vamos morrer. Para Heidegger, a vida do homem pode ser autêntica ou não, nesse contexto.
Entretanto a argumentação forte de Heidegger, é que o ser humano é um ser para a morte. Como um ser no mundo, ele está entregue à sua morte. Ou seja, sendo um ser para a morte, o homem além de morrer de fato, ele morre continuadamente, enquanto não cessar de existir. Isto quer dizer que a “natureza” não dá salto. Desde que nascemos, vamos morrendo aos poucos. Heidegger entende com isso, que não somos um ser que caminha simplesmente para o acontecimento futuro, isto é, para a morte; ao contrário, o homem é um ser, que mal nasceu e já começa a morrer. Assim o morrer inicia-se de fato com o nascimento da pessoa. No entanto, a consciência desse nosso “morrer constante” é acompanhado principalmente da angústia. Somos seres essencialmente angustiados. A solução apresentada por Heidegger, tenta integrar a idéia e, ao mesmo tempo a vivência e a convivência com a morte na vida do ser humano.  Na verdade, isso não é uma solução adequada para a visão libertadora do fenômeno da morte.
Por outro lado, as religiões apresentam uma alternativa melhor,  de muitas pessoas olharem como ameaçadora, porque estão presas, na sua maioria, aos conceitos amedrontadores do juízo final e do fogo do inferno.
Por conseguinte, a morte de uma pessoa estará consumada quando não forem mais registradas ondas elétricas cerebrais. O médico cientista, Klaus Thomas, diz que a “morte do ser humano, no sentido de morte integral do organismo humano, não deve ser equiparada ao conceito médico de morte cerebral”. Isso porque a experiência clínica dos anos passados demonstra claramente que quase cada órgão humano tem sua própria morte por si mesmo.
Apesar de ser o cérebro uma parte essencial do ser humano, nem a sua morte pode ser interpretada como a morte do que chamamos de corpo. Se olharmos uma pessoa morta, depois de um ou dois dias, vamos observar que cresceram os cabelos, as unhas, a barba, no caso do homem, e etc. Isso acontece porque ainda tem vida citoplasmática, morremos aos poucos, segundo os estudos das ciências biológicas.
O teólogo e pesquisador alemão, Hans Kung, aponta para o fato de que, apesar de uma pessoa já ter sido considerada morta por diagnóstico feito com base em eletro-encefalograma, ela pode ser reanimada, por exemplo, em caso de resfriamento passivo ou de envenenamento por doses excessivas de sedativos.
A partir desses dados, concluímos ser necessário distinguir claramente entre o momento da morte clínica e da morte real. Foi constatada a perda irreversível das funções vitais, ou seja, se houve a morte da última célula, tornando-se impossível voltar à vida. Enquanto houver células vivas no corpo, ainda há vida, a alma não está nem no aquém e nem no além.
Contudo, paradoxalmente, antes da própria morte só temos experiência com essa situação, indiretamente, através da morte dos outros. À medida que vivemos, a ideia de morte é algo que cresce e se desenvolve em nós.  Heidegger afirma que a morte é uma possibilidade constantemente presente e não distante. A possibilidade da morte é a última que o homem realiza, no momento em que ela chega, falta ao homem algo que ainda consiste em acontecimento, ou seja, a vida humana só torna-se um todo por intermédio da morte. Heidegger, assim como outros autores, a define como a única maneira de atingir a individuação, isto é, conquistar a totalidade da vida. Tendo em vista, que antes da morte, a individuação existe apenas enquanto potencial. Com a chegada da morte real, determina-se a totalidade do ser. Fechou-se um ciclo que  permite dessa forma ser completo.

Um comentário:

  1. A insonia me trouxe aqui mais uma vez para aprender com voce... sua menina,criança ainda vê o que os adultos não enxergam. Mesmo se tratando de um desenho que ela assistiu,na sua inocencia acredita e talves veja a avó estrelinha,,, e sera que não vê? Um misterio que só as crianças podem responder... A morte não seria o começo? Não sei mas acredito nisso.... Beijos

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