21 de junho de 2020

DO MITO DA CAVERNA AO WHATSAPP E REDES SOCIAIS

Em seu livro “Diálogos”, Platão (427-347 a.C.) apresenta o chamado “Mito da Caverna” como uma maneira de ilustrar a ignorância humana, frente à existência. Nessa narrativa, um grupo de seres humanos vivia acorrentado em uma Caverna, sendo que as únicas impressões que obtinham sobre o mundo exterior, eram as sombras das pessoas que transitavam pelo entorno. Sendo assim, acreditavam que as sombras que observavam era a própria “realidade”. Certa vez, um desses indivíduos conseguiu sair da Caverna. Ao retornar, informou aos demais que a realidade exterior era bastante diferente do que pensavam. No entanto, ele foi desacreditado pelos seus companheiros, que seguiram ingenuamente apegados às suas verdades sensitivas.

Séculos depois da clássica alegoria platônica, podemos afirmar que determinados grupos criados no WhatsApp e nas redes sociais, constituem-se em espécies de Caverna de Platão contemporâneo. Onde seus membros também possuíam as suas próprias verdades convenientes. O apego à ignorância e o receio de rever convicções são os mesmos de outrora. A diferença é que, atualmente, as antigas “sombras”, agora são conhecidas como “fake news”. Lembrando o pensamento de Friedrich Nietzsche (1844-1900), os membros de grupos de WhatsApp e redes sociais, estão mais preocupados em “crer” na verdade do que propriamente com a “legitimidade” da verdade.

De modo que, desde que uma determinada informação seja condizente com suas ideias, automaticamente será compartilhada nas redes sociais, independentemente de sua veracidade (aliás, isso é o que menos importa). Trata-se da prática designada por psicólogos como “viés da confirmação”: não se recorre a uma publicação para formar opiniões; mas para reforçar argumentos. As correntes que prendiam os membros da Caverna na alegoria platônica foram substituídas por aparelhos de celulares. Identificado por mim como coleira.

Como afirma ironicamente o geógrafo e educador Francisco Fernandes Ladeira que: “a terra é plana. O nazismo não é de extrema-direita. Leonardo DiCaprio está financiando queimadas na Amazônia. O kit gay foi distribuído em escolas na época de governos petistas. Não houve ditadura militar no Brasil. A Teoria da Evolução é cientificismo. A ideologia de gênero é ensinada em sala de aula por professores adeptos do marxismo cultural. E o Oscar (a premiação do cinema estadunidenseé uma estratégia da esquerda para dominar a educação e a cultura”.

Portanto, o indivíduo que questionar as postagens publicadas nas redes sociais, ou que propuser uma análise mais crítica sobre os fatos, não é apenas desacreditado (como foi o exemplo da Caverna de Platão). Ele é excluído do grupo, achincalhado nas redes sociais, caluniado e, não raro, pode ser alvo de violência física. Desse modo, a evolução dos meios de comunicação, responsável pela difusão de conhecimento em larga escala, também trouxe, como efeito colateral, a possibilidade de formação de novas bolhas ideológicas que permanecem presas a preconceitos e falsificações históricas e científicas. Os grilhões da ignorância insistem em nos rodear, seja na Grécia Antiga, seja no Brasil desde o início do século XXI. Platão ficaria surpreso com tamanho culto à estupidez. 

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