4 de agosto de 2019

AMOR AO DESTINO É DIZER SIM À VIDA

As implicações do “eterno retorno” levarão inevitavelmente a outro conceito muito importante que o filósofo e poeta alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), chamou de amor-fati, isto é, amor ao destino. Para ele a formula da grandeza do homem está no amor ao destino. Não querer nada de outro modo, nem para adiante e nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo, mas amá-lo. Se tudo retorna eternamente, e exatamente como é agora, então é imprescindível ao homem seu destino. Se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece nosso amor.

A grande lição de Nietzsche já no fim de sua produção intelectual, era a gente aprender a amar nosso destino, encontrar beleza no necessário, encaixar o nosso desejo no desejo do tempo. Talvez seu último grande ensinamento. Dizer sim à vida, porque só ela que existe e somente ela traz valor em si mesma. Esta lição serve tanto para momentos de felicidade como para momentos de desespero. Transformar o “foi assim” em “eu quis assim” da um sentido próprio ao que aconteceu na sua trajetória existencial.

O controle do passado implica aceitar o que lhe foi dado e tirado. Todos os acontecimentos se inserem numa ordem causal da natureza, assim como cada um de nós, portanto, nada poderia ter acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, não adianta lamentar-se. É preciso afirmar até mesmo o erro, afinal de contas, nosso passado não é um erro, não somos um erro! É absolutamente necessário nesse momento e só pode ser interpretado como um erro se tomarmos formas superiores para nos guiar, até porque, Nietzsche usava da metáfora; "Deus está morto", para quem buscava fora o que estava dentro.

A exortação de apropriar-se do que nos aconteceu torna capaz de seguir adiante. O bom e o ruim, a dor e o prazer, são inerentes à vida, amar o que lhe acontece e acontecerá é o primeiro passo para tornar-se quem é você. Nietzsche argumenta: “Em vez de esperar que um poder transcendente justifique o mundo, o homem tem de dar sentido à própria vida; em vez de aguardar que venham redimi-lo, deve amar cada instante como ele é”.

O homem é algo que deve ser superado” (Nietzsche em Zaratustra, prólogo). A forma homem é velha e caduca, ela vai errar sempre porque ainda está presa em ídolos metafísicos, presa à forma. É preciso deixar a forma-homem para trás para afirmar aquilo que passou e mais, amar aquilo que passou, porque assim deveria ser por toda a eternidade. Redimir o passado, desatar os nós do ressentimento, dissolver a má-consciência. Sendo assim, para que mais serviria o amor ao destino?

Devemos afirmar a vida, negando toda calúnia, toda desvalorização, toda acusação que possa ser feita contra ela. Mas este ensinamento foi muito mal compreendido. O amor ao destino não implica em resignação, sua lição não é de aceitação passiva, muito menos acovardar-se. Não devemos abaixar a cabeça e aceitar, muito menos virar a outra face (Mt 5,39). O amor ao destino diz para o indivíduo amar a vida, porque só ela existe e fora dela não há mais nada. Significa afirmar o que tinha que ser sem deixar de afirmar a vontade de potência, em si e no mundo.

E negar os negadores é uma forma de afirmar! Por isso a luta também faz parte deste amor; não se pode apenas entender que existem paradoxos e contradições, é necessário amá-los. Devemos amar a luta, a revolta, a insubmissão. E que dizer “não” seja apenas um passo para se disser “sim” cada vez mais alto! Porque temos cada vez mais vontade de dizer sim! Vontade de estar no mundo. Vontade de amar. Amor ao destino. Isto é, amor à vida.

Portanto, a partir da minha leitura sobre Nietzsche, quero cada vez mais aprender a ver como belo, aquilo que é necessário nas coisas. Amor ao destino: seja este, doravante, o meu amor. Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores, que minha única negação seja desviar o olhar. E, tudo somado e em suma: "quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim à Vida"!  

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