26 de maio de 2017

QUAL É O SEU DEUS?

Certa vez um jornalista ao entrevistar o filósofo e educador Rubem Alves, fez a seguinte pergunta: “Qual é o seu Deus?”. Eis que prontamente responde o filósofo Rubem Alves: “É o Deus de todos os poetas: a beleza”. Também comungo com esse pensamento. De modo que quando contemplo a beleza, ou quando ouço a beleza, estou em comunhão com o mistério da vida. Não gosto muito de usar a palavra Deus porque as pessoas vão identificá-lo como o Deus delas. Para mim a beleza está na natureza das coisas, isto é, a beleza é a face visível de Deus. E ela está estampada na natureza de tudo aquilo que apreciamos como Belo.

Penso que assim não precisamos fazer longas peregrinações para encontrar Deus. Como argumenta Rubem Alves, um tomate redondo, vermelho, um caqui maduro, as centenas ou milhares de minúsculos gominhos em uma laranja cortada, uma cebola, que o poeta e escritor Pablo Neruda chamava de “rosa de água”, com escamas de cristal. O reflexo do sol nas águas de um charco, tudo isso me deixa assombrado. Quando essas coisas acontece na minha vida fico agradecido por viver num mundo tão fantástico. Posso afirmar com segurança que o problema das pessoas beatas é que elas estão sempre olhando para baixo e para dentro de si mesma.

Acho que o inconsciente e a alma são a mesma coisa. Penso que a alma é o lugar onde vivem os sonhos. Dizia Shakespeare: “somos feitos de sonhos”. Não gosto daquelas perguntas boba que se faz por aí: “você aceita Jesus?” O que faz essas pessoas acreditar que nunca o aceitei? Talvez  o meu modo de ver Deus seja diferente das beatas. Mas é isso que somos, professor, médico, engenheiro, advogado, consultor imobiliário, etc. Somos o que fazemos com amor e profissionalismo. Somos os sonhos que sonhamos. Dostoievski disse que as pessoas não têm o menor interesse em Deus. O que elas querem é o milagre, um Deus máquina que faz o milagre de acordo com seus pedidos. Porém, um Deus que não faz milagre não lhes interessa. Elas pedem milagres porque estão cega para o milagre que é o universo, a terra, a nossa vida. O poeta e ensaísta americano Walt Whitlmann dizia que para ele, tudo era milagre, basta olhar para a natureza, é assombroso. Perdemos a capacidade de nos assombrar com o nosso mundo.  

Portanto, dizia o grande poeta brasileiro Vinicius de Moraes: “para isso fomos feitos, para lembrar e ser lembrados, para chorar e fazer chorar, para enterrar os nossos mortos. Por isso temos braços longos para os adeuses, mãos para colher o que foi dado e dedos para cavar a terra. Assim será a nossa vida: uma tarde sempre a esquecer, uma estrela a se apagar na treva, um caminho entre dois túmulos. Por isso precisamos velar, falar baixo, pisar leve, ver a noite sumir no silêncio”. Vale à pena ler esse Poema de Natal. Contudo trago mais uma vez Rubem Alves para encerrar nossa reflexão: “Sou um construtor de altares. Construo meus altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza. Os fogos que acendo sobre eles iluminam o meu rosto e aquecem o meu corpo. Mas o abismo continua escuro e silencioso”.  

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