17 de fevereiro de 2016

EXTRAIR DA RELIGIÃO O QUE NELA COLOCAMOS

A religião sempre desempenhou o papel fundamental na história do homem. A filosofia não tem a função de negar ou ridicularizar esse grande fato humano que é a religião. Mas, na filosofia tem uma coisa que a religião não tem que é a necessidade de certo “ateísmo metodológico”. O que isto quer dizer? Que o filósofo tem que ser alguém que não pode ter crenças dentro da pesquisa filosófica. Ainda que se tratasse de Deus, porque para a filosofia Deus não é “impossível” ele é “improvável”. Isto significa que a filosofia não nega e nem afirma a existência de Deus. Porque Deus não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, o filósofo teria que provar que Deus não existe. Isto não é possível. Então, como negar o que não posso provar? Na verdade o homem põe as suas qualidades, as suas aspirações e os seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se e constrói a sua divindade. Portanto, a religião está no relacionar-se do homem com sua própria essência. Ela é a projeção da essência do homem. Mas, por que o homem constrói a divindade sem se reconhecer nela?

O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872) responde: “porque o homem encontra uma natureza insensível aos seus sofrimentos, porque tem segredos que o sufocam; e na religião, alivia o seu próprio coração oprimido”. Por isso o homem foge da natureza, das coisas visíveis, refugiando-se no seu próprio intimo, para encontrar quem escute o seu próprio sofrimento. É aqui que ele expressa os segredos que o sufocam, é aqui que ele alivia o seu próprio coração oprimido. Isto é Deus. Em outras palavras, Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana. Parece que a intenção humanista de Feuerbach é de transformar os homens de amigo de Deus em amigos dos homens. Homens que creem no pensamento humano e no amor como o único meio de salvação da humanidade.

Na verdade as pessoas de um modo geral desejam acreditar em Deus, conforme-lhes foi ensinado. Desejam acreditar que Deus é bom e que esta no controle das coisas. E quando acontece algum mal, logo vem à pergunta: “Deus, por que fizeste isso comigo?” Feuerbach, tem uma explicação para os dogmas cristãos do Deus encarnado: “Não é Deus que cria o homem, mas sim o homem que cria Deus. Portanto, Deus é a mais alta subjetividade do homem, abstraída de si mesmo". Todo estudante de filosofia pura durante a graduação, tem uma disciplina chamada “Teodiceia”, vocábulo criado pelo filosofo e matemático alemão G.W. Leibniz (1646-1716), do grego; Théos = Deus; e díke = justificação – visto que Leibniz tencionava; a “justificação de Deus” tencionava, mediante esse tratado, a tentativa racional da compreensão simbólica do Absoluto denominado Deus.

O nome Teodiceia é menos adequado, porque a teologia natural não tem propriamente a finalidade apologética, mas antes visa penetrar no conceito de Deus o mais profundo possível para fundamentar a fé. É, aliás, a teologia natural que fornece á fé a primeira de suas bases naturais. A teologia natural o ápice de toda a reflexão metafísica, considera a ultima ou suprema razão de ser de todas as coisas; vem a ser o auge de todo o saber humano. É também a fonte indispensável da ética, apontando a finalidade suprema de todo o agir do homem e da sociedade. Tomás de Aquino (1225-1274), um dos mais influentes teólogos dominicanos do cristianismo na tradição conhecida como Escolástica, elaborou um tratado filosófico contendo cinco argumentos na tentativa de harmonizar a “” e a “razão”. Queria provar a existência de Deus e até hoje estes argumentos são ruminados pelos estudantes de teologia nos seminários. São Tomás de Aquino, já no final da sua vida, depois de uma revelação transcendental, ele nunca mais escreveu nada, e, perguntado pela razão do seu silencio respondeu: “Tudo que escrevi é palha, sem importância”.

Portanto, buscamos a experiência de nos sentirmos vivos, de tal forma que nossa experiência no nível puramente físico tenha ressonâncias internas nos mais profundo do nosso ser e da nossa realidade. Sendo assim, chegamos a sentir realmente o êxtase de estarmos vivos. Contudo, os mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana. Se quisermos pensar em Deus podemos extrair da religião ou recorrer aos mitos. Porque Deus é na verdade um pensamento, um nome, uma ideia abstrata ou conceito, que se refere a algo que transcende qualquer pensamento. O mistério supremo do ser está além de toda categoria de pensamento. Como argumenta o historiador da arte indiana Heinrich Zimmer (1890-1943): “As melhores coisas não podem ser ditas por que elas transcendem o pensamento. A segunda melhor coisa é mal compreendida, pois são pensamentos que se referem ao que não pode ser pensado. E ficamos presos com os pensamentos. A terceira melhor coisa é as que nós falamos”. 

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