15 de outubro de 2015

LER É O MELHOR EXERCÍCIO

Defendo a tese de que a ausência de cultura básica afasta o aluno da leitura e sem esta, as crianças e jovens serão incapazes de escrever até a sua própria história. É com preocupação que venho percebendo o distanciamento dos alunos diante desse universo estimulante que é a leitura. Quero acreditar na conciliação dos dois. O encontro entre o aluno e a leitura deve ser promovido pelas mãos precisa e eficaz do professor que tem o papel fundamental nessa aproximação. Nesse desafio, o professor conta com uma segura parceria entre leitura e a escrita, estabelecendo um vínculo capaz de desatar o nó que impede a aprendizagem da língua.

Há uma procura dos estudantes pelos cursos de redação, talvez pelo peso que a redação demanda nos concurso e nas provas dos vestibulares. Fica claro que essa parceria leitura e escrita não está sendo explorada no sistema tradicional de ensino da língua nas nossas escolas, daí a corrida em busca do tempo perdido. Como diz a educadora e escritora Iara Vieira: “roteiro nenhum de redação será eficaz se não tiver respeito pelo livro, se não se cultivar a intimidade com a leitura”. Afinal, ler e escrever são gestos que se completam, permitindo uma articulação crítica com o mundo.

Mas ler exatamente o que? De preferência livros que façam crescer, que ampliem a visão de mundo, que façam pensar ou até divertir. Muitas vezes o estudante não sabe o que fazer com um romance ou com um poema que acabou de ler. Fica esmiuçando quem é quem e deixa passar o essencial: o aproveitamento do tema. Lembro-me de um livro lido na minha juventude que praticamente transformou minha vida: “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévsky (1821-1881). Um pedaço da minha inocência foi embora em contato com o mundo sombrio que o escritor descrevia. O que antes me parecia uma perda, era na verdade uma revelação das sombras do mundo que iria encontrar lá fora.   

Além de preparar para a vida, os temas podem ser aproveitados nas redações escolares ou nas dissertações para mestrados. Como escrever um texto sobre a miséria, por exemplo, sem dialogar com “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, ou sem conhecer “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto? O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.

Por outro lado, a leitura não deve se restringir a livros. Jornais e revistas estão aí a serem vasculhados. O estudante não ficar impassível diante do seu conteúdo, tem que se posicionar. Pode ser que a versão de um fato não seja convincente. É nessa hora que ele se pronunciará, contestando a notícia. Tudo se lê: filmes, quadros, charges. Amplio aqui o conceito de leitura, percorrendo outros sítios, longe ou perto da linguagem verbal. Diante de um tema como a guerra, por exemplo, o aluno poderá extrair de “Guernica”, que é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da exposição internacional de Paris, é uma boa argumentação para sua escrita. O mesmo acontece com outras artes. Agindo assim, ele terá mais segurança na hora de escrever.

Portanto, ampliando o repertório, o estudante terá capacidade de interferir na realidade e exercer plenamente a crítica, cuja ausência nos faz tanto mal. De modo que, reconciliados com a leitura, os nossos alunos terão acesso aos instrumentos necessários para o resgate crítico da sua história.  

Um comentário:

  1. Anônimo00:27

    O aluno, no entanto, tem dificuldade de fazer a conexão. Criou-se no ambiente escolar uma divisão perniciosa que só faz prejudicar o ensino: a redação fica aqui, a gramática ali e a literatura acolá. O resultado, todos sabemos: textos mal costurados, sem nenhum sentido.
    Lindo sua alma e sua preocupação com o aluno..te admiro demais.

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