25 de outubro de 2015

DESAFIOS LÍQUIDOS E MODERNOS PARA A EDUCAÇÃO

A educação deve ser pensada durante a vida inteira, diz Zygmunt Bauman (1925). De acordo com o sociólogo a educação reproduz privilégios em vez de aperfeiçoar a sociedade. O atual sistema universitário só aprofunda as desigualdades sociais. A educação de hoje é vitima da modernidade líquida. Existe uma grave crise de atenção da qual os jovens não conseguem se concentrar. Empurrando o tempo numa mesma questão, tudo é rápido e superficial. Por outro lado, a internet dificulta a lida diária com realidade. Na opinião de Bauman a internet trouxe benefícios e um grande desafio. Como compreender todas as informações que conseguimos acessar de forma instantânea em sites de pesquisa?

A cultura é um campo de batalha e um parque de diversões ao mesmo tempo. A era digital produziu um novo ser humano. Praticamente todas as invenções apenas satisfizeram um desejo humano que já preexistia. Por exemplo, para andar mais depressa, inventaram o carro, voar o avião. As redes sociais e os desdobramentos mais recentes da internet mudam o foco, porque aí passa a ter invenções que precede o desejo das pessoas. Não havia um desejo de algo que viesse chamar “Facebook”. Este algo chamado Facebook surge, e ele próprio vai modulando comportamentos humanos diferentes, que a gente tenta depois entender quais são. De modo, que são uma novidade muito grande as redes sociais.

Neste sentido a rede social modula não só as mensagens, como também as próprias relações das pessoas. Com o advento do Facebook, tudo isso que Bauman fala da fragilidade do lado social, realmente escorre pelo ralo. Nas redes sociais é muito mais fácil estabelecer um contato e desfazê-lo no dia seguinte. O compromisso praticamente é neutro, some. Há um traço no Facebook, que não existe Lei e nem fronteiras para se postar alguma coisa. As pessoas leem algo e digita rapidamente, manda em tempo real, porém, quem ler e curtir essa postagem vai ter uma reação de fígado. Que às vezes é muito agressiva e pode ter efeitos complicados na vida de muitos.

Bauman faz uma descrição do mundo atual baseada na ideia de liquidez. Tudo que é sólido se desmancha porque nada persiste. Sobretudo, os laços afetivos e sociais que estão cada vez mais tênues e ele nos da como grande exemplo disso, o que acontece nas redes sociais. Há uma disponibilidade sem procedente na história de opções amorosas, de consumo e de programas de viagens, que faz com que nós estejamos o tempo todo seduzidos. E o pior, relações sem compromisso, sem construir vínculos. Vivemos a metáfora da liquidez. Parece que o mundo está se desfazendo ao nosso redor.

Bauman no seu livro: “Amor líquido” analisa as relações nos tempos modernos. Na avaliação do polonês, elas se tornaram mais flexíveis, o que faz com que as pessoas não saibam mais como manter laços de longa duração, e muitas vezes acabam se relacionando apenas em ambiente virtual o que acaba aumentando a solidão. Esse comportamento é definido por Bauman como modernidade líquida, onde nada é feito para durar. Os relacionamentos escorrem por entre os dedos feito água. Vivemos o fim do futuro.

Essa ideia de que o mundo está se desfazendo, que perdeu suas interações, sua estrutura e sua organicidade. Está abrindo espaço para um mundo muito mais aleatório, onde o sentido da vida desaparece. Como a modernidade deu passagem a formas sociais dissipadas? Enquanto que a crença que a gente tinha da sociedade civilizada até um século atrás, era da sociedade integrada.

Efetivamente, está muito fácil desfazer uma relação amorosa ou um casamento. Não é nada fácil começar um relacionamento, mas desfazê-lo é simples. Antigamente o casamento era indissolúvel, muito difícil de desfazer. Hoje desritualizamos a separação e criamos espaço para encontros casuais. Banalizamos a dissolução dos laços afetivos. Cria-se um laço afetivo, fortalece esse laço e de um momento para outro a pessoa acaba com ele. Essa é uma experiência muito dolorosa para nós humanos.

Por conseguinte, nas relações sólidas, segundo os princípios budistas, há uma elevação da espiritualidade, ao contrário das relações líquidas que há uma predisposição muito mais propensa em destruir do que construir o outro. Trilhar por esse caminho da existência é fazer o melhor que puder para viver de acordo com nossa dignidade. Saber que podemos fracassar, pois somos humanos, não somos o máximo e muito menos os donos da verdade. Esta práxis vale para a educação, assim como para as relações afetivas.

Portanto, a maioria das pessoas que estão utilizando internet, tenta criar para si o que Bauman chamou de zona de conforto. É o único espaço onde posso coloco minhas fantasias e ser o que quiser. Esta zona de conforto não se pode criar no offline, somente online. Por ser muito simples. É só parar de ler e responder mensagens grosseiras. Deixar de visitar sites ofensivos. O mesmo não pode fazer quando encontramos alguém que não gostamos. Às vezes precisamos conviver com a pessoa. Por isso penso no Facebook como um tranquilizante que cria espaço para a solidão, além de disseminar informações pejorativas e muitas vezes distorcidas da realidade, que só contribui para mecanização das relações humanas. Enfim, a boa relação é quando alguém aceita o seu passado, apoia o seu presente e motiva o seu futuro. Contudo, vamos construir pontes que liga ao amor sólido ao invés de muros que nos separam.

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