29 de janeiro de 2014

O PROFESSOR REFÉM

Os estudos comprovam a cada ano através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que mais de um milhão de jovens, com idade entre 12 e 17 anos, não sabem ler e nem escrever. Conseqüentemente esse agravante tem como base às leis que asseguram, através da Constituição Federal, o direito a todos os cidadãos ao estudo, mas estas leis não são capazes de garantir uma política educacional eficiente, com escola de qualidade para qual o jovem se sinta atraído.

Os indicadores são mais que suficiente para mostrar o descaso pela educação no país. A desvalorização ética e a falta de respeito para com o professor. Principalmente, o descaso do estado em relação ao salário e condições de trabalho desses profissionais. Temos acumulado reproduções de modelos, e os mesmos nos têm afastado, historicamente da realidade, anulando potencialmente o desenvolvimento da capacidade de criar dos nossos jovens.

É importante que os professores entendam os desafios da educação, que não são os mesmos dos governos, que visam à manutenção do poder. Em vez de ficarem discutindo com a direção da escola sobre a disciplina dos alunos, os quais pouco se preocupam com os educadores. A categoria precisa ser mais unida e não participar do intento governamental. Na verdade, ele espera o professor vacilar para colocar a sociedade contra esse pobre profissional. Conforme já aconteceu em anos anteriores. Muitos professores bons hoje estão trabalhando em outras áreas do saber, por não ser valorizado na educação.  

Tornou-se comum caso de desrespeito contra o professor e a educação. Para ilustrar essa afirmação, em Belo Horizonte um estudante processa a escola e o professor por tirar notas baixas, alegando danos morais. Segundo o aluno, passou a noite estudando, portanto, não achou correto o professor ter dado uma nota baixa. Razões essa que culminou num processo administrativo contra o seu mestre. Em nenhum momento questionou-se o conhecimento desse aluno. Parece haver uma inversão de valores. Uma lógica perversa por trás dessa violência e desrespeito, que vem assolando os profissionais da educação.      

O professor precisa compreender e romper com essa falsa lógica. Rejeitar a cultura da descrença e construí-la dentro de si, como uma ação política, de crença e esperança. Perceber que o pensamento cada vez mais está sendo dispensado pela classe dominada, e sendo assimilado pela classe dominante. O maior exemplo desse fato é o sistema educacional brasileiro. O indivíduo que pensa diferente, questiona e duvida, diverge de determinações pré-estabelecidas e optam pela informação. Torna-se, portanto, um sujeito consciente, muito perigoso para quem detém o poder.

Há uma necessidade urgente de mudanças no ensino brasileiro. Discute-se frequentemente a respeito do processo educativo.  Há aqueles que defendem os alunos, outros tantos o educador. Ainda existem aqueles favoráveis ao conteúdo. Acredita-se que no centro do processo educativo esteja um projeto social. A sociedade brasileira nesse sentido torna-se democrática e cidadã, fundamentada na igualdade entre os indivíduos e na formação ética pautada no respeito. Conforme o filósofo francês, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), analisou as razões das desigualdades sociais. Segundo ele, o ser humano é naturalmente bom, mas ao conviver em sociedade se corrompe, gerando desigualdade, escravidão e a tirania.

Por outro lado, o Ministério da Educação é quase que exclusivamente, uma obrigação com a instrução e muito pouco de educação. Nem o governo nem a igreja tratam seriamente a questão da educação, no sentido verdadeiro da palavra, educar e formar cidadãos. O governo interessa-se pela instrução técnica e a igreja limita-se à simples moralização. No entanto, não se observa avanço em nenhum dos seguimentos. A instrução e a moralização tornam o homem realmente melhor. Mas, não educa.

Segundo o filósofo e educador Humberto Rohden (1893-1981), argumenta no seu livro “Educação do Homem Integral” instrução torna o homem erudito, meio robotizado, só serve para si mesmo. A moralização torna o ser humano altruísta. A erudição e o altruísmo não são ensino verdadeiro. Pois, não passam de condicionamento psíquico. Altruísmo é uma forma de egoísmo sublimado, aquele que espera recompensa após a morte. A erudição torna o homem técnico e conteudista. O homem realmente educado é bom, ele não espera recompensa por ser bom, nem no presente e mesmo após a morte.

Portanto, o governo e a igreja tiveram sua culpa por omissão. Limitaram-se aos fatos, não se interessaram pelos valores. Estudos revelam sem valores, não há educação. Verdade, justiça, amor, respeito e honestidade são valores, criação da consciência crítica, e não simples descoberta da ciência, nem altruísmo moral. Albert Einstein (1879-1955), argumentava que “o homem de ciência, descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo”. Contudo, o professor continua refém.  

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