16 de fevereiro de 2014

OS ENCANTOS DA SERPENTE

Vivemos num mundo de ilusão e contaminados por uma falsa ideologia. Consumimos diariamente o mortífero veneno da serpente do preconceito. De quantas destruição são capazes os preconceitos. Talvez a maior deformidade e defeito moral da sociedade de todas as épocas tenham sido, as personalidades preconceituosas. Vejo o preconceito como uma espécie de “loucura mansa”, nem sempre tão mansa em razão da sua carência de motivos justificáveis. Certas pessoas e classes sociais, inventam um mundo para si e, feito numa espécie de delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decidem o que é aceitável e o que não é, o que é certo e o que é errado. Elas se vestem, algumas usam roupas nada comportadas, calçam sapatos finos e se enchapelam em suas ideias preconcebidas, tornando-se arbitrários como os fanáticos e os loucos.

Na mitologia grega, Medusa era uma deusa muito bonita, que quando lançava seu olhar sobre as coisas vivas, as transformava em pedra. Por esta razão o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), dizia que nos seres humanos, os preconceitos funcionam como “olhares de Medusa”: as pessoas olham para seus semelhantes lá de dentro dos seus valores e, segundo as suas predições e neuroses, petrificam-nos num rótulo, num preconceito. Hoje em dia é preciso estar bem atento para que não se caia no doce engano de que mudar de preconceitos seja alguma forma de libertação. Para o escritor que vive da observação e tem uma boa história para contar, pode encontrar com uma Medusa e ter sua obra petrificada.

Está claro que todos os tipos de preconceitos são armas mortíferas contra o bom relacionamento humano. Grande parte das pessoas mais velhas, tende a avaliar o mundo dos jovens de dentro da mentalidade que sua história de vida lhe legou. Afinal, nem sempre é fácil acompanhar os tempos e passar, na vida, por infindáveis adaptações. O primeiro impulso psicológico é medir os outros por nós mesmos. Daí os mais velhos tenderem a ver, no modo de pensar e agir do que estão chegando para a vida mais socializada, traços de irresponsabilidade, de mau gosto, quando não de decadência mesmo. Parece que a juventude ameaça criar um mundo ruim, porque é diferente daquele idealizado pelos de mais idade. Às vezes alguns chegam a desconfiar de que os adultos nutrem, no profundo de si, uma secreta magoa de já não poderem ser tão jovens e audaciosos como os rapazes e moças. Em muitos lares e instituições de ensino, instala-se uma autêntica guerra entre novos e idosos ou mais vividos.

Por outro lado, o que há de problemático é que os jovens encontram quase sempre, para si, o mesmo caminho vicioso. Desenvolvem de seu lado, outra quantidade de preconceitos contra o modo de ser dos da geração anterior. Esses jovens são afiados na inventividade linguística e no bom humor. Nos chamando de “tio dinossauro, careta, quadrado, surfista de banheiro, etc”. O humor até que é bom, mas a agressividade não é. Parece para muitos jovens que o mundo está embolorado pelos coroas. Aqui está uma expressão cruel para os idosos.

Entretanto, sentimos vontade de questionar: “Será que para combater preconceitos o caminho seja inventar outro? O remédio para um vício seria assumir outro igual e contrario? Quem conseguirá escapar assim, dos terríveis olhares de Medusa?" Se o erro de um provoca o erro dos outros, esse caiu no encantamento da serpente. Roda-se e volta sempre ao mesmo lugar de onde se quer saiu. É preciso que coloquemos com muito cuidado, o problema de como quebrar os encantos da serpente dos preconceitos, que tanto envenena a humanidade. É bom lembrar que o preconceito nasce da insegurança e da fraqueza humana, pode nascer até de um certo medo de enfrentar a vida. Sobretudo, para aqueles que estão atras do fácil, e não se importam com a construção de boas relações interpessoais.

Portanto, a vida acaba nos colocando ante duas possibilidade. Ou o preconceituoso que nos provoca é um ser humano frágil, embora inteligente e sensível – e aí está nossa tarefa de dar-lhe concreta ajuda em questioná-lo; ou por outro lado, o preconceituoso que cruza nossa estrada é um desinteligente, que nunca saberá ouvir argumentos alheios. E neste caso cabe-nos somente deixá-lo com seu mundinho. O que jamais será bom, o que nunca será produtivo para ninguém, é atirar um erro contra o outro, passar a vida acumulando e gastando munições inúteis, com pessoas infectadas pela serpente do preconceito. Contudo, depois o tempo passa, nós passamos, e nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente dignas de ser vividas.

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