9 de novembro de 2012

A ARTE DE PERCEBER O OUTRO

As relações humanas, ao contrário do que todo mundo acha, estão deveras, muito longe de ser uma relação pautada no diálogo, na compreensão e no desenvolvimento dos seres humanos. Presenciamos em todos os seguimentos sociais cada um defendendo o seu ponto de vista e não consegue ouvir e nem entender o outro. Isso acontece no Supremo Tribunal Federal, nas famílias, nos relacionamentos amorosos e até no trabalho. A maior dificuldade é quando se pretende estabelecer um diálogo e a cooperação efetiva entre as pessoas. Como dizia o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, “existe um preconceito lógico, situado nas raízes da inteligência. Ele cria um vicio, porque não conversamos e não escutamos o outro. Não fazemos e ninguém faz quase nada do que diz. Não dizemos e ninguém diz quase nada do que faz”.

A conversa, em suma, não é nada do que está sendo falado. É preciso começar daí. Na verdade, a maior parte do tempo ela está muito próxima de ser o contrário do que está sendo dito. Tem tudo a ver com um palco onde cada um tenta, continuadamente, representar como ele gostaria de ser. Pouco ou quase nada tem a ver com o que as pessoas fazem, sentem ou acham que são. Estão completamente alienadas no seu mundo de ilusão. E não percebem o isolamento que estão criando em torno de si. Muitas vezes procuramos a felicidade, mas não acreditamos no amor.

Às vezes, nós não compreendemos por que temos certos tipos de comportamento ou atitudes. Não tentamos verificar que isso pode acontecer, porque trazemos dentro de nós conflitos que não conseguimos resolver. Esses conflitos íntimos impedem nossa maneira eficiente de agir e conhecer melhor o outro. As pessoas não percebem a atmosfera psicológica que criam em ambientes como o trabalho, no lar com a família, nas relações amorosas, etc. Elas não percebem que o seu comportamento está afrouxando os laços afetivos nas suas relações.

Entretanto, pessoas que não aceitam críticas e quando surge um conflito que demanda diálogo, prontamente ela se arma de algum tipo de defesa, para fugir às ameaças e não enfrentá-las na base de uma conversa franca e aberta, ouvindo os contras e os prós, sem acusações. Pessoas que acusa a outra é o tipo mais odioso de se relacionar. Elas se julgam certinhas. Não conversam e com isso perdem uma grande oportunidade de conhecer o outro e ter seus conflitos amenizados. Por outro lado, se a pessoa procurasse mais pensar como age e porque age e tentar descobrir maneiras para compensar tais comportamentos, isso ajudaria a agir com mais segurança e eficiência no relacionamento interpessoal e na compreensão intrapessoal.

Por conseguinte, uma pessoa que tem o triste vício de fumar, por exemplo, pode achar que todos ao seu redor deveriam fumar assim se incomodaria menos com ela. Pessoas que são agressivas acreditam que todo mundo a provoca. Elas são capazes de invadir e violar a privacidade de alguém, só para manipular informações e construir provas e com isso mostrar que estão certas. Isso é muito comum nas redes sociais. Usam de falsidades ideológicas a título de se convencer que estão falando a verdade. São pessoas completamente doentes e infelizes na sua subjetividade. Sobretudo, porque são criticas e encontram dificuldades para fundamentar suas razões, porque baseia suas vidas em meras opiniões, forjando situações para sustentar sua lógica e detonar o outro.

Todavia, é muito difícil entender alguém sem primeiro estabelecer com essa pessoa um diálogo em vez de censurá-la. Podemos conhecer melhor as pessoas, observando o seu comportamento, dando a ela a oportunidade de expor seu pensamento, sentimento e ações. O não conseguir conversar é uma pratica muito comum quando se têm um pensamento rígido, sentimentos cristalizados, que mudam e que bitola o comportamento da pessoa no entendimento com o outro. A pessoa passa a ver e a julgar o outro com base no seu estereótipo, para alguém estar certo tem que agir de acordo com ela. Esse comportamento chama-se estereótipo porque se trata de uma pessoa rígida e cristalizada nos seus princípios e atitudes diante da circunstância em que vive.

Portanto, é na comunicação com o outro que buscamos a experiência de nos sentirmos vivos, de tal forma que nossas experiências no nível puramente físico tenham ressonâncias internas no mais profundo do nosso ser e da nossa realidade. Contudo, só vamos compreender o outro e o mundo em que vivemos se agirmos com delicadeza, compaixão, dialogando e examinando os pontos de vista de cada um, procurando ouvir mais o outro. Porque quando alguma coisa dói em nós, só vamos resolver a custa de muita conversa, ou seja, falando sobre nossos medos e nossas dores, assim como ouvindo os medos e as dores do outro, sem censura. A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água. Enfim, quando nos desesperamos, por não ser compreendidos, lembremo-nos que em toda a história, a verdade e o amor sempre venceram. Houve tiranos e assassinos, assim como psicopatas que pareciam invencíveis. Mas, no final, essas pessoas caem. Como dizia Nelson Rodrigues, “toda pessoa tem o seu dia de Hiroshima”.          

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