Gabriel
García Márquez: - Então o que vamos fazer? - O Amor. - Tem certeza? - Sim. -
Bem, vou me despindo. - E por que você está tirando sua roupa? - Então, para
fazer! - Quem te disse que você tem que se despir para fazer Amor? - Pois que
eu saiba é assim que se faz. - Não, essa não é a única maneira de fazer Amor. -
E como então? - Apenas deixe a roupa vestida e conversemos até cansarmos,
riamos por nada e por tudo, olhemos devagar até tentarmos decifrar.
Comigo
você não precisa se despir de corpo, mas de alma, apenas nos olhar até ficarmos
sem palavras, e ali, nesse instante em que as palavras são insuficientes para
explicar o que sentimos, nesse silêncio infinito finalmente poderemos nos
tocar. Percebes? -Tocar-nos? - Sim, tocar-nos com a ternura dócil de uma
carícia que se expanda docemente até morrer num abraço. - Ai, que lindo! -
Olha, deixa-me segurar sua mão? - Sim. - Sente?
Essa
é uma das maneiras de fazer Amor. É sobre isso que falo. Você apenas deixe a
roupa vestida e vamos conversar até cansar, vamos só olhar a boca, os cílios,
os lábios por um tempo e se o beijo for necessário virá sem pedir licença. Vamos
conversar até conhecermos todas as nossas memórias, até sabermos os nossos
segredos mais profundos, apenas deixe-me olhar para você até o mais extremo e
requintado deleite.
Deixe-me
ver a Alma até o cansaço, até que estes olhos se rendam e me obriguem a baixar
as pálpebras me incitando a dormir. - E você vai forçá-los a ficar abertos? - Sim,
para te olhar a noite toda. - Só você!