20 de abril de 2022

TEMOS A ILUSÃO DE CONTROLAR NOSSOS PENSAMENTOS

No século XIX, o otimismo filosófico levava a filosofia a afirmar que, enfim, os seres humanos haviam alcançado a maioridade racional, e que a razão se desenvolvia plenamente para que o conhecimento completo da realidade e das ações humanas fosse atingido. No entanto, Karl Marx (1818-1883), no final do século XIX, e Sigmund Freud (1856-1939), no início do século XX, puseram em questão esse otimismo racionalista.

Marx e Freud, cada qual em seu campo de investigação e cada qual voltado para diferentes aspectos da ação humana. Marx, voltado para a economia e a política; Freud, voltado para as perturbações e os sofrimentos psíquicos, fizeram descobertas que até agora, continuam impondo questões filosóficas. O que descobriram eles?

Marx descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos e agir como agimos. A esse poder - que é social - ele deu o nome de “ideologia”.

Freud, por sua vez, mostrou que os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto pensam, fazem, sentem e desejam, tudo quanto dizem ou calam estaria sob o controle de nossa consciência porque desconhecemos a existência de uma força invisível, de um poder - que é psíquico e social - que atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina e controla invisível e profundamente nossa vida consciente, ele deu o nome de “inconsciente”.

Diante dessas duas descobertas - psíquico e social - a filosofia se viu forçada a reabrir a discussão sobre o que é e o que pode a razão, sobre o que é e o que pode a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, sobre o que são e o que podem as aparências e as ilusões. Ao mesmo tempo, a filosofia teve que reabrir as discussões éticas e morais: “O homem é realmente livre ou é inteiramente condicionado pela sua situação psíquica e histórica?”

Se for inteiramente condicionado, então a história e a cultura são causalidades necessárias como a natureza? Ou seria mais correto indagar: “Como os seres humanos conquistam a liberdade em meio a todos os condicionamentos psíquicos, históricos, econômicos, culturais em que vivem?”. O século XIX prosseguiu uma tradição filosófica que veio desde a antiguidade e que foi muito alimentada pelo pensamento cristão.

Nessa tradição, o mais importante sempre foi a ideia do infinito, isto é, da natureza eterna (dos gregos), do Deus eterno (dos cristãos), do desenvolvimento pleno e total da história ou do tempo como totalização de todos os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia a ideia de todo ou de totalidade, da qual os humanos fazem parte e na qual os humanos participam. No entanto, a filosofia do século XX tendeu a dar maior importância ao finito, isto é, ao que surge e desaparece, ao que tem fronteiras e limites.

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