16 de fevereiro de 2022

QUEREMOS SEMPRE MATAR AQUILO QUE NOS MACHUCA

O livro “O Lobo da Estepe”, do escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), considerado um dos melhores de seus livros, publicado em 1927, é um dos romances mais representativos da literatura alemã. Um livro incrível sobre relacionamento. Através dele, consegui entender o que acontece na alma humana diante dos conflitos e como podemos lidar com eles. Segundo o próprio Hesse o livro trata sem dúvida alguma, de “sofrimentos e necessidades”, mas mesmo assim não é o livro de um homem em desespero, embora pareça, mas de um homem que crê na força interior do amor. No entanto, em certo momento da narrativa, Hesse apresenta o conflito do homem entre a vontade de viver e de morrer, já que a segunda atitude parece ser a solução de todos os problemas. Apesar de nunca querer morrer de verdade, mas sonhava com a morte do sofrimento. Queremos sempre matar aquilo que nos machuca: “um remorso, um medo de se machucar por amor ou ausência da pessoa amada”.

Entretanto, nos cantos mais sutis da alma, sempre há uma espécie de clamor pela existência. O livro nos mostra que a morte e a vida, tornam-se fúria e calma ao mesmo tempo, de um animal que nos habita. Alguns relacionamentos, ainda que não levem à morte nem sirvam de manchetes para os noticiários sensacionalistas, deixam marcas profundas na alma das pessoas. A pior delas é encerrar uma relação de amor sem compreender as razões que a motivaram o seu fim. Considerando que o ciúme doentio não é e nunca foi manifestação de amor, que aonde prevalece à dor e a humilhação, não pode haver relacionamento estável. Podemos ser vítima da primeira ofensa ou da primeira agressão, mas não precisamos aceitar a segunda. Respeite-se e não precisará exigir isso dos outros. Lembre-se que a violência começa com o desrespeito e, desrespeito, começa com a sua aceitação.

Muitas vezes abandonamos um relacionamento amando muito o outro, mas a relação sofreu tantos maus tratos, que não há como continuar. E chegam ao fim por diversos motivos. Alguns por excesso de ciúmes, outros por falta de respeito, outros por achar que está sendo traído, mas, dificilmente, acabam por falta de amor. Constantemente as relações são afetadas pela forma como o outro nos trata, seja de forma boa ou ruim. Se cuidar bem do amor, ele pode durar uma vida inteira, se maltratado dura semanas. É interessante observar e comparar o começo e o fim de um relacionamento. Notamos que no começo as pessoas são gentis, educadas e se mostram preocupadas com o outro. Deixam até aquela sensação de eternidade na história dessa paixão. Mas, na primeira briga, desrespeitam o companheiro de forma cruel, como se não tivesse nenhum sentimento entre eles. Aquele que diz; basta amar para a relação durar, é pura conversa fiada. E os cuidados? E o afeto entre ambos? E o respeito? Engole com gelo?

Portanto, as pessoas perderam o respeito pelo o amor e, no calor das emoções, usam as ofensas como quem usa uma metralhadora com a intenção de matar o outro. E matam mesmo. Matam o respeito, matam a vontade de continuar. E o amor já agonizando tenta seu ultimo suspiro, quase sempre em vão. Ainda vem alguém sem nenhum conhecimento sobre o assunto, dizer que o amor machuca. Isso não é verdade. O que machuca é abandonar o amor sem ouvi-lo. A rejeição machuca. Perder o amor no seu auge machuca. Assim como também, a indiferença machuca. As pessoas confundem essas coisas com amor. Mas, na verdade, o amor é a única coisa nesse mundo que nos alivia e nos da animo para continuar a viver. O amor cura toda essa dor e nos faz sentir maravilhosos novamente. Contudo, o amor perfeito é realmente raro no nosso mundo. Para amar de verdade é necessário que tenhamos a sutileza de um sábio, a flexibilidade de um artista, a compreensão de um filósofo, a aceitação de um santo, a tolerância de um estudioso. Comparado a uma flor, o amor desabrocha sem a ajuda das estações.

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