17 de março de 2018

PARA LER E PENSAR É SÓ COMEÇAR


O objetivo da educação é ensinar a pensar. Criar na criança essa curiosidade, criar a alegria de pensar. Essa é a situação certa para começar o ensino, sobretudo, quando o professor fala, provoca a curiosidade na criança e ela interage e faz pergunta. Como incentivar à leitura? Não é mandando ninguém ler, porque a relação com a leitura é uma relação amorosa. Eu vou ler não porque o professor mandou. Quando o professor manda, já estragou. Então você tem que criar o gosto pela leitura. E como se cria o gosto pela leitura? Não é mandando ler, mas lendo para o aluno. Quando minha filha era pequena, sempre antes de dormir pedia para ler ou contar uma estorinha, era o momento propício para sentar ao seu lado e ler ou criar uma nova estorinha. Como um bom contador de estória, eu fazia isso com muito gosto. A missão do professor não é dar respostas prontas, porque as respostas já estão nos livros e na internet. A missão do professor é provocar a inteligência do aluno, provocar o espanto, provocar a sua curiosidade.

No meu tempo de garoto, no grupo escolar onde estudei no começo, tinha aula de leitura e era a aula mais apreciada pelas crianças. A aula em que a professora lia para nós. Ainda lembro-me do poema: “O Menino Azul” de Cecília Meireles. O texto mostrava o que toda criança precisa: amizade, companheirismo, acreditar nos adultos. Ninguém conversava na aula, era um silêncio absoluto, não precisava a professora dizer: “crianças silêncio, preste a atenção”. Na escola não pode ter essa palavra silêncio, porque naturalmente se a escola é boa, as crianças vão se interessar e fazer silêncio. Elas vão gostar e ter prazer naquilo que estão fazendo. Frequentemente os professores só tem que repetir aquilo que já vem nas apostilas. Era preciso que os professores parassem e dissessem: “não vamos seguir o programa, vamos fazer as coisas que são essenciais no ambiente em que as crianças vivem”. É importante que os professores façam sempre a seguinte pergunta: “isso que vou ensinar serve para quê”?

Os professores tem que estar junto com os alunos para ajudá-los. Os professores são companheiros dos alunos, não tem que dar nota, porque a nota é uma inverdade, aquilo que o aluno produz numa prova, não revela o que ele pensa. Precisamos de uma educação ligada à vida é para isso que a gente aprende, para viver melhor, ter prazer, ter mais eficiência e poupar tempo, não se arriscar demais. O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez o seu trabalho, que é nos fazer esquecer. Só assim podemos avaliar a capacidade de pensar dos alunos, que é diferente de memória. Pede ao aluno para escrever uma redação. O professor da vários temas para o aluno escolher um. Por exemplo: “escreva uma carta ao presidente da República aprovando ou desaprovando o uso da energia nuclear”. Esse tema não tem uma resposta certa, o que interessa é saber se o aluno é capaz de pensar por conta própria. Nós não somos movidos pelas ideias, nós somos movidos pelos sentimentos. A transformação da educação no Brasil passa por dentro do pensamento e sentimento dos professores. De modo que, o professor é o ponto central de qualquer programa de transformação do ensino brasileiro.

Posso dizer com conhecimento de causa, que a leitura seguida da produção de texto, não é uma metodologia nova, e não se restringe ao ensino universitário. O estudante do ensino fundamental e médio pode perfeitamente recorrer a esse método, bastando dominar mecanismo de leitura e de expressão escrita. Quantas vezes o aluno teve, por exemplo, que assistir a um filme e depois analisá-lo? O filme é um texto, é possível de ser comentado, analisado, resumido em seu enredo ou conteúdos, caso seja um documentário. Aquilo que o aluno assistiu pode ser passado para o papel, com suas próprias palavras. Quando um professor pede esse tipo de tarefa para seus alunos, seu objetivo deve ser o aprofundamento de determinado assunto ou conhecimento. Ou melhor, propor ao aluno que crie uma espécie de “diálogo” com o “texto” estudado. Assim, cada um terá consciência de que o saber é para ser partilhado, ele não está fechado e acabado em cada texto que se produz.

Por conseguinte, a produção de texto não pode ser encarada apenas como uma atividade das aulas de Filosofia, Literatura ou de Língua Portuguesa e ficar restrita à composição textual que focalize um tema proposto. A partir do momento em que o aluno começa a escrever, com suas próprias palavras, as ideias principais que foram desenvolvidas no texto lido, focalizando os diferentes aspectos abordados, desdobrados em assuntos secundários, mas relacionados, pode-se tratar do resumo de um texto. Faz-se o mesmo, porém usando as palavras do próprio texto, pode ser então o seu fichamento. Em ambos os casos o aluno estaria recorrendo ao procedimento denominado síntese. Essas duas atividades colaboram muito no domínio de conteúdos e podem ser aplicadas não apenas a textos extraídos de livros, ou de enciclopédias, como também a reportagens de jornais e de revistas, páginas da internet etc. Referem-se a qualquer disciplina que o aluno faça na escola, como, por exemplo, em Educação Física, a partir do momento em que o aluno precisa obter melhores informações a respeito da modalidade esportiva que pratica. Essa produção de textos pode ser fruto de pesquisa e não deve ser confundida com relatório.

Para gostar de ler é preciso praticar, criar o hábito da leitura, com o intuito de obter informações. A partir do momento em que o aluno já o tenha adquirido tudo se torna mais fácil. Voltando a questão do filme a que o aluno assistiu e teve de analisar: será que já se surpreendeu ao ouvir o seu professor comentar que havia pedido para analisar o filme e não recontar a sua história? Isso mesmo! Contar o que se passou não é a mesma coisa que analisar os dados apresentados. Esse é um passo mais adiante, pois, além da compreensão do enredo, o aluno vai se posicionar diante do “texto”, aplicando a ele conceitos previamente conhecidos ou expondo ponto de vista pessoal a partir de elementos observados nesse mesmo texto. Isso é realizar a análise, pode se tratar de uma resenha. O que foi anteriormente exemplificado de um filme pode ser aplicado, a um livro de romance, a um conto, peça teatral, alguns eventos culturais, reportagens, até mesmo a partir da observação de uma tela de pintura artística ou de dados de uma pesquisa científica.

Portanto, as atividades de leitura e da escrita não são exercidas separadamente. Se for integrada uma a outra, ou seja, a todas as disciplinas que o aluno estuda, o ensino-aprendizagem se tornará mais ágil e eficaz. Ao mesmo tempo, o estudante participará ativamente no processo, crescendo com mais desenvoltura e espírito crítico, preparando-se para sua autonomia como ser pensante, que sabe discernir e fazer opções. Contudo, para nós educadores, é sempre um prazer irrevogável formar alunos leitores, pesquisadores e se possível alguns escritores. É o que procuro passar aos meus alunos na oficina de leitura pelas escolas que visito.      

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