26 de julho de 2017

CIDADÃOS DE PEDRA

O grande risco de nos perguntarmos sobre o que precisamos para ser feliz é que a resposta pode ser assustadora. Todavia, para Midas, um personagem da mitologia grega, rei da Frígia, nos coloca de frente com nossos valores. Medusa que foi uma linda donzela atreveu-se competir com a beleza de Minerva. Assim, a deusa a privou de seus encantos e transformou seus cabelos em horríveis serpentes.

Ela tornou-se um mostro cruel, de aspecto tão feio que nenhum ser vivo podia olhá-la que logo se transformava em pedra. Na caverna onde vivia, viam-se homens e animais petrificados. Perseu com a ajuda de um escudo de Minerva conseguiu se aproximar de Medusa. Olhando pelo escudo, sem fintar o seu rosto, cortou-lhe a cabeça e a matou. Resolvi abordar este assunto a partir do mito de Medusa, para explicar as relações frias e petrificadas que vivenciamos no dia a dia.

A frieza das grandes cidades transforma as relações humanas em um amontoado de cidadãos de pedra. Será que minha constatação é exagerada? Realmente, temos de diferenciar os relacionamentos. O universo próximo corresponde ao nosso ciclo de familiares e amigos. Já o universo distante corresponde aos colegas e conhecidos e as pessoas que habitam o mesmo planeta, mas sem contato algum conosco.

Quando viajamos a passeio ou a trabalho, entramos em um universo distante; por isso, carregamos dentro de nós o universo próximo. Quantas vezes nos pegamos dizendo ou pensando: “Ah! se aquela pessoa especial estivesse aqui ao meu lado, iria adorar ver essa beleza natural. Vou levar uma lembrança, sei que ela vai gostar muito”. Nesse universo próximo, estão essas pessoas que amamos e, mesmo distante, as carregaremos por toda vida.

Dizem que a Medusa ronda o universo distante. Transformando em pedra todos que querem se aproximar e, em outras vezes, somos transformados quando o contrário acontece. O pior é que, com o avanço dos tempos, a Medusa está se infiltrando em nosso universo próximo. A busca de um escudo para enfrentarmos quem vem pela frente tornou-se vital. Ao redor da Medusa, todos padecem. O vazio toma conta de todos que a encaram. Pensar nos escudos que usaremos e nas próximas gerações é a grande resposta que teremos de enfrentar nos relacionamentos humanos.

Portanto, conhecemos pessoas vazias por dentro, que não tem nada de bom para oferecer. Nem afeto, nem sentimento de compaixão. Esqueceram o que é ser feliz. Só querem ter razão em tudo que dizem. As amizades estão enfraquecendo a cada dia e distanciando cada vez mais pessoas de bem. O ser humano está vivendo o seu pior papel: “de exímio cidadão de pedra”. Nas relações humanas existe um propósito único ao conhecermos alguém. Alguns irão nos testar, outros irão ignorar o amor que sentimos e outros irão nos ensinar grandes lições, que permanecerá pela vida toda. Contudo, o mais importante nesse encontro é que alguns despertarão o que há de melhor em cada um de nós. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS COISAS SÃO OS NOMES QUE LHE DAMOS

O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofri...