12 de fevereiro de 2015

TER O SEXO TORNOU MAIS DIFÍCIL TER O AMOR

Na sociedade atual, com a facilidade ao acesso a comunicação através da internet e do celular, fala-se e escreve-se muito sobre sexo e quase nada sobre o amor. Talvez porque o amor, sendo um enigma, não se deixa decifrar, repelindo toda tentativa de classificação ou definição. Ao contrário, a literatura nunca deixou de falar do amor, principalmente, nas poesias, é nesse campo mítico por excelência que aparece a metáfora como possibilidade de compreender melhor o amor. Todavia, não há como negar que esse vazio conceitual se deva à dificuldade de expressar o amor no mundo contemporâneo. Tendo em vista, o desaparecimento das sociedades tradicionais, cujos costumes envolviam fortes relações entre as pessoas. Entretanto, nossas cidades com o aumento de suas populações, com seus arranha-céus, estão criando espaços para a solidão, o chamado fenômeno da “multidão solitária”. As famílias desintegrando-se e dispersando-se em busca de emprego. Por outro lado, as pessoas caminham lado a lado, mas suas relações são territoriais e não sociais. Seus contatos dificilmente se aprofundam, tornando-se mais raro os encontros verdadeiros e amizades duradouras.

O jovem de hoje tem muito mais possibilidade de contatos prazenteiros, mas totalmente descompromissados de intimidades afetivas. Com essa facilidade de ficarem com vários numa única noite, ao mesmo tempo não estabelecem relações intimas duradouras, porque suas relações são muito inconsistentes. Os ditos apaixonados se juntam e separam com a mesma facilidade. Não há amor, não há envolvimento, porque não criam vínculo. Ficam somente no campo do desejo e do epidérmico. Na verdade, isto não é namoro e sim encontro casual, puramente físico e sem compromisso. Agradável a principio, excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca de troca e carência instintiva. Mas cansativo em longo prazo porque se espera mais do que só a relação física, portanto, torna-se desapontador para ambos.  

Para a jornalista e escritora ítalo-brasileira Marina Colasanti (1937), pertencemos à geração do descartável, desinventamos o duradouro. À navalha, que durava a vida inteira, hoje preferimos o barbeador que se utiliza só por algumas vezes e se joga fora. Trocamos o bom e sóbrio tecido que usaríamos durante anos, pela alucinante cor da moda que durará apenas uma estação. Resistência e boa qualidade tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é absolescência planejada. Parece que o amor ficou fora de moda e o sexo tornou-se mais atraente. Esse descartismo do amor contaminou os sentimentos, sem, entretanto, mudá-los por completo.

Todavia, não é só nas relações entre duas pessoas, que os encontros afetivos estão empobrecidos. A nossa organização social de efeito capitalista tem modos de convívio social baseados na competição e rivalidade. Essa sociedade vê no amor o seu pior inimigo. Fala-se tanto em cristianismo, onde se prega o amor ao próximo. Foi à classe dominante que inventou essa história de igualdade, que espalhou esse veneno pelo mundo afora. E hoje tentam nos mostrar que o amor não é absolutamente a força maior que fomenta a humanidade. Por conseguinte, vivemos dentro de uma sociedade onde tratam as relações como superficiais e descartáveis. Estamos às vésperas do prazo de vencimento das relações afetivas. Os relacionamentos estão cada vez mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais perto de terminar definitivamente. Os seres humanos estão sendo usados por eles mesmos.

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925), os avanços tecnológicos influenciaram muito o ser humano em suas relações de um modo geral, que o amor líquido (que mal começa e já termina), representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, a flexibilidade com que são substituídos. É um amor criado pela sociedade atual, a chamada modernidade líquida, para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros, já que nada permanece nesta sociedade, o amor não tem mais o mesmo significado, foi alterado como algo flexível, totalmente diferente do seu verdadeiro significado de durabilidade e perenidade.

Portanto, para muitos o amor romântico está fora de moda. O amor verdadeiro em sua definição romântica foi rebaixado a diversos conjuntos de experiências vividas pelas pessoas, nas quais se referem utilizando a palavra amor. Principalmente no sexo casual, hoje praticado por uma parcela significativa, na tentativa de camuflar os impulsos instintivos e biológicos do ser humano a ser satisfeito, enganando aos seus parceiros, dizendo “vamos fazer amor”. Entre essas pessoas é muito fácil ouvir “eu te amo”, pois não existe mais a responsabilidade de estar mesmo amando. A palavra amor foi rotulada de uma forma, em que as pessoas nem sabem direito o que sentem, não conseguem definir a diferença entre amor e paixão e mesmo assim utilizam incorretamente esta palavra, que perdeu sua importância. Contudo, as pessoas preferem o encontro pela internet, no campo do virtual, porque sendo assim, quando quiserem podem apagar o que haviam escrito, ou simplesmente apagar um contato e facilmente dizer adeus. Enfim, ter o sexo tornou difícil ter o amor e com isso estamos matamos um sentimento que poderia salvar a humanidade.

Um comentário:

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...