6 de janeiro de 2015

ENVELHECER CRESCENDO

O que significa envelhecer? É comum ouvir em rodas de amigos, que uma pessoa quanto mais ela vive, mais velha ela fica. Isto não é verdade. Para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria que ter nascido pronto e ir se gastando. Isto não acontece com gente. Acontece com carro, fogão, sapato, roupa, que nasce pronto e vai se gastando. Gente nasce não pronta e vai se fazendo, aprendendo e crescendo. A cada sete anos, renovamos totalmente a nossa energia corporal. A mesma pessoa com corpo e energia diferente. Eu Eduardo Morais, hoje em 2015 sou a minha mais nova edição. No entanto, vou renovando-me a cada novo dia, mas, não sou inédito. Para ser inédito teria que ser como nunca fui, mas o modo como sou hoje certamente, nunca fui antes.

No entanto, ninguém toma banho no mesmo rio duas vezes, pois quando isso acontece, já não é mais o mesmo rio, no momento seguinte a água já é outra. Foi o filósofo grego pré-socrático, Heráclito de Êfeso (535-475 a.C.), que fez essa formulação que até hoje nos fascina. O fluxo eterno das coisas que é a própria essência do mundo apontou Heráclito e se ainda hoje ficamos espantados com isso, é porque nos apegamos teimosamente ao que já passou, esperando na verdade, que tudo permaneça igual. Então é necessário um filósofo da antiguidade ou um especialista contemporâneo, para nos fazer entender que nada é permanente a não ser a mudança.

Mudanças essas que ao longo dos anos vividos vamos sentindo uma degeneração física que percebemos de muitas maneiras. Coisa que fazíamos quando jovens e muitas dessas atividades físicas estão fora de cogitação hoje. Esta lenta degeneração, acompanhada de distúrbios menores como da visão, os batimentos cardíacos e coisa do gênero. Somos informados que a parte física do nosso "corpo" não vai durar para sempre. Estamos programados geneticamente para morrer. Mesmo assim praticamos exercício físico, gostamos de namorar, apreciamos um bom prato, assim como também gostamos de viajar e apreciar o contato com a natureza. Temos consciência de que estamos envelhecendo. Mas, internamente nos sentimos ainda, sob muitos aspectos, do mesmo jeito a mesma pessoa, nem velho e nem jovem.

Para ilustrar e fundamentar o que estou dizendo, em 2013 embarquei numa aventura literária que não imaginava que seria para aquele momento. Talvez passasse pela minha cabeça que um dia ainda escreveria um livro. Mas, o tempo não existe, o que existe é o momento presente. Porém, por alguma razão ou quem sabe algum propósito, surgiu na minha vida uma pessoa que iria modificar os rumos da minha história, assim como o futuro que eu viria a seguir, fazendo-me a seguinte pergunta: “Por que não existe um livro sobre suas reflexões?” “Por que não fazer um livro com essas crônicas filosóficas?” Foi a partir dessas indagações, que acendeu a chama de um projeto literário. Isto me conduziu a uma linha de pensamento para a qual provavelmente já estava preparado, porque há trechos nesse livro que se escreveram praticamente sozinhos. Havia uma potencia a ser transformada em ato.

Entretanto, na ocasião o que me convenceu a publicar esse livro, foram os esforços de organização, a visão e a capacidade de persuasão desta minha musa inspiradora. Algumas pessoas supunham que essa viagem literária não iria decolar por se tratar de um homem da minha idade, sem recursos financeiro e já velho demais para viajar na divulgação do livro, pois é necessário esse contato escritor e leitor, caso contrário estará fadado ao fracasso. Eu mesmo receava dar um salto, pois era um risco muito alto. Outros acreditavam que era muito arrogante da minha parte, supor que esse livro venderia bem. Não posso negar que nesta nova atividade não houve elemento de risco e ainda não está totalmente descartado.

Cresci e aprendi com uma senhorinha de 106 anos de idade que um dia me fez a seguinte pergunta: “O que é viver?” Hoje compreendo o significado dessa pergunta: Viver é o espírito estar satisfeito consigo mesmo. Isto é viver. O espírito é a nossa fala. Nossa fala deve estar verbalizando e se expondo publicamente, mas não confusa e sim convicta, conforme os valores que reconhecemos como corretos, justos e prazerosos. Muitas vezes pensamos que o mundo não nos trata do modo como merecemos e culpamos a sociedade, o governo, os amigos, os familiares, pelas nossas falhas e desilusões. No entanto, a verdade é que o modo pelo qual o mundo nos trata é um reflexo de como nós estamos nos tratamos. No momento em que passarmos a gostar mais de nós, o universo reagirá e nos recompensará pela nossa existência. Dizia essa senhora de 106 anos, que por coincidência era minha mãe: “A vida meu filho, tem que ser vivida em função de alguma coisa, não contra alguma coisa. Agora que isto me aconteceu, o que vou fazer? Isto é viver”.

Portanto, com o passar dos anos a nossa própria história, a cultura, os desejos e a própria vida se escreveram e inscreveram. Trazemos muitas biografias de uma mesma vida. Quase tudo o que foi possível viver está firmemente registrado no corpo e na mente. De modo que tal é a arte de envelhecer, que o sexo pleno, amoroso e maduro até parece saber e dominar a própria essência do ser humano. Contudo, digo o que penso, com "esperança". Penso no que faço com "fé". Faço o que devo fazer, com "amor". Esforço-me para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. A vida é muito curta para se ter inimigos. Agradeço sempre pelo dom da vida e de poder amar mesmo sem ser compreendido. Sou feliz por estar aqui e deixar essa mensagem de "amor" e "fé", neste inicio de ano. Porém, somente com a experiência dos anos, com a maturidade, que passamos do processo jovem, criativo e produtivo, para o processo maduro de introspecção e sabedoria existencial, isto é, "envelhecer crescendo". 

Um comentário:

POEMA INSTANTE DO POETA JORGE LUÍS BORGES

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria ...