17 de dezembro de 2014

DIALOGAR É CONVIVER COM SABEDORIA

Aproveitando esse momento que antecede o Natal, vamos refletir um pouco sobre as relações humanas. Afinal, é uma data tão esperada pelos cristãos, onde comemora o nascimento do menino "Jesus". É uma época do ano em que ficamos mais vulneráveis e sensíveis a sentimentos nostálgicos. Momento ideal para repensarmos sobre nossa postura diante do outro. Muito importante para pessoas que se acham perfeita, julga sem nenhum critério, não enxergam ao seu redor o que estão plantando e o que poderão colher. Como diz a sabedoria cristã, “quem planta colhe”. Ser cristão é julgar o outro, sem antes conhecer a sua história? Será que sabemos compreender a dor e o sofrimento do nosso semelhante? Quantas vezes deixamos de olhar nos olhos de quem nos fala? Por que não criamos laços afetivos duradouros se há amor? Por acaso seria por não saber dialogar? Por que pessoas como nós, dormem na rua? O que é mais fácil, acolher ou abandonar? Somos humanos ou um projeto de humanos que vivem de aparência? As pessoas arrogantes se acham perfeitas e dona da verdade. Todas as pessoas que tem certeza são intolerantes. Se ela está certa sobre suas ideias, por que vai ouvir o outro?

Entretanto, as pessoas não enxergam o outro, porque fazem fofocas e dão muitas respostas para poucas perguntas. Mal sabem que a palavra é ambígua, porque limita o pensamento. Quem fala muito pensa pouco. Diz um ditado popular: “temos dois ouvidos para ouvir mais e, somente uma boca para falar menos”. Quem fala muito, além de ouvir pouco, acha que falando diz exatamente tudo. Às vezes os gestos dizem mais do que qualquer palavra pronunciada. Todavia, palavras foram feitas para dar pedacinhos de diálogos e não o diálogo propriamente dito. Falando somos muito mais que uma simples frase, porque, para todo acontecimento existe um contexto e uma circunstância, segundo o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Isto só vem confirma a tese de que voltamos a viver na "Caverna de Platão", ou seja, temos a ilusão de tudo àquilo que vemos é a realidade dos fatos. No entanto, não avaliamos o contexto, isto é, estamos todos cegos, vivendo num mundo de opinião e aparência. A gente vê mais não enxerga. No livro Ensaio Sobre a Cegueira, o escritor José Saramago (1922-2010), nos da uma reflexão filosófica profunda: “será que é preciso cegar todos para que enxerguemos a essência do outro?”

Todavia, a grande dificuldade das pessoas, ainda é a falta de diálogo. Lamentavelmente, temos uma tendência a julgar o que vemos, sem antes enxergar o que de fato estamos vendo. Nem tudo o que vê é realmente o que se vê. Somos levados por um impulso que chamo de “acorrentados da caverna. São aquelas pessoas que inventam um mundo para si e, feito numa espécie de delírio, sem nem dar razões mais inteligentes ou solidas, decide o que é aceitável e o que não é o que é certo e o que é errado. O que jamais será bom para ambos, e muito menos será produtivo para um bom relacionamento amoroso. Atirar um erro contra o outro, passar a vida acumulando e gastando munições inúteis, com pessoas infectadas pela serpente do preconceito, é inútil provocar um diálogo desgastante. Porém, o tempo passa muito rápido para os humanos, e nada se passou em nossas vidas que as tornassem mais vigorosamente dignas de ser vividas. Quem pode avaliar o amor se não vive esse amor no outro? As pessoas falam muito daquilo que elas não são e com isso finge o que não sente. Vivem como acorrentados da caverna.  

A dialética da vida é a arte de raciocinar e dialogar. É discutir as razões das próprias ações, num pensar diferente. O diálogo pressupõe reciprocidade existencial e esta pressupõe a diferença e ao mesmo tempo a semelhança, já que é devido à diferença que podemos enriquecer com o diálogo. Aqui pressupõe que a relação entre duas pessoas é uma construção amorosa, isto é, se ambas estiverem abertas a esse diálogo e dispostas a ouvir um ao outro. Da opinião a verdade, do particular ao universal. O diálogo é o próprio caminho do pensar crítico. Sendo assim, o diálogo torna viável o entendimento entre os humanos. No entanto, o diferencial que marca essa relação são os valores que ambos acreditam e trazem como experiência de vida. Isto é, pautar sua vivência na ética e nos princípios morais. Munido dessas duas proposições o diálogo funciona. Na verdade, o diálogo é racional e os valores estão além da razão. Os valores estão no terreno da consciência cósmica, na totalidade do ser. Conviver é reconhecer no outro a minha identidade humana. O que faz realmente uma pessoa ser boa é a consciência do seu "ser" e a vivência do seu agir no mundo. Fora disso temos um ser humano egoísta e infeliz na sua subjetividade.

Portanto, caros amigos e leitores, quando ver o seu semelhante fazendo coisas diferentes, que você não entende, não o julguem ou comece a dizer que ele está errado, que é um estúpido, um mentiroso, um fracassado ou um velho sem noção. Olhe bem para este ser humano e diga a você mesmo: “não compreendo muito bem essa pessoa, mas espero que ela esteja trilhando pelo caminho do bem, assim como também, espero estar seguindo o meu caminho na direção certa”. Por conseguinte, viver é consumir-se no "amor" e no "respeito", dialogar é perder-se no "outro". Porque, a vida é interpenetração total das "almas" e da nossa "inteligência". Amar não é se anular. Só fala em amor próprio, o egoísta. Contudo, "dialogar é dividir amor e conviver com sabedoria".

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