14 de maio de 2014

OS DOGMATISMOS SEXUAIS

Para Naumi Vasconcelos torna-se possível o desenvolvimento de novos conceitos sobre a sexualidade humana assunto esse discutido no livro: “Os Dogmatismos Sexuais”. De acordo com o citado pela autora o sentido da palavra “dogmático”, refere-se ao procedimento cognoscitivo. Ou seja, que possui aptidão para conhecer; que tem a faculdade de conhecer, com a característica de basear-se em pressupostos, a título de princípios explicativos e necessários.

Entretanto, essa crítica sobre os dogmatismos sexuais, argumentado no livro desenvolvido pela autora, por meio de avaliações históricas e culturais em torno da sexualidade humana. Sexualidade essa imersa na temporalidade, recebendo sua revelação vivencial, suas formalizações conceituais, sua expressão estética e seu tratamento moral e social.

A sexualidade é apresentada como sendo uma descoberta do corpo, como uma dimensão da nossa afetividade. Uma elaboração pessoal e criativa dessa dimensão afetiva, que não “nasce” já determinada.  É um processo em busca do aprimoramento, enquanto a sexualidade humana é essencialmente erótica, isto é, voltada para a sensualidade, para a erotização do outro. Todavia, o leitor pode sentir-se convidado ao decorrer da leitura colocar a própria vida em questão ao questionar a sexualidade. Descobrir em si mesmo as resistências à verdade, na medida em que se analisa o assunto.

Vasconcelos aponta para uma sociedade urbana e industrializada e ao mesmo tempo propõe, que se leve em consideração no domínio da sexualidade o fato de que seus dados teóricos, sua tematização sobre dados reais, originam-se de uma interpretação vinda, na maioria das vezes, dos confessionários e das clínicas psiquiátricas, criando-se dessa forma uma interpretação de acordo com um sistema moral/religioso e psicológico.

Porém, coloca que ao observar as dificuldades de cura sexual, tanto no plano moral do pecado, quanto no plano psíquico das impulsões, torna-se impossível deixar de citar a duvidosa validade de grande parte de uma pastoral e de uma psicanálise da sexualidade. É citado como ineficaz e isso mostra a necessidade de uma busca das evidências originárias da atividade sexual humana, de uma revisão radical dos postulados a esse respeito, e de um procedimento metódico apto a abrir vias mais fecundas para o tratamento interpretativo de suas evidências espontâneas.

É sugerido interrogar a sexualidade humana e ver nela todo um leque de expressões diversas, conforme as culturas. A cultura, considerada como característica da existência, “desperta no homem, maiores possibilidades de comportamentos que as que nos são reveladas por suas predisposições, sua estrutura inata e suas necessidades fundamentais”. Será interessante considerar as pesquisas etnológicas relativas ás formas de união sexual, de iniciação sexual, os papéis da mulher e do homem, do pai e da mãe, etc. Assim como é importante observar o desenvolvimento do erotismo, nitidamente um fenômeno cultural – que se pense na erotização do rosto desconhecida no estado arcaico e ainda ignorada em certas civilizações.

A sexualidade humana não pode, portanto, mesmo em seu aspecto fisiológico, ser estudada fora de uma dinâmica geral da personalidade, que lhe ordena a atividade e o desenvolvimento. Por outro lado, as contribuições da antropologia e da sociologia atestam na sexualidade humana uma variabilidade de usos e de costumes, que confirmam a sua plasticidade, contrária a um esquema inato igual a uma natureza sempre idêntica a si mesmo.

Uma sexologia não poderá se apresentar com aquele caráter de precisão científica e de simplificação axiomática que os nostálgicos de um esquema físico-matemático gostariam de emprestar-lhe. Como o observa Gusdorf, “o caráter comum das ciências humanas é o de colocar em questão a realidade humana em seu conjunto”. Daí, as numerosas dificuldades que obstaculizam o desenvolvimento desse saber. Nesta busca para um maior entendimento sobre a sexualidade, cabe o citado no livro, toda pesquisa, uma vez realizada, é uma pesquisa ultrapassada, porque ao mesmo tempo a realidade humana se encontra transformada, e tudo está para ser recomeçado. Esse atraso do saber em relação à atualidade para sempre inacessível, indeterminada não é um atraso cronológico, uma distância que se poderia um dia romper de um salto, mas um atraso ontológico.

De acordo com o colocado pela Naumi Vasconcelos no apêndice, será necessária uma educação sexual? Considero ser tão importante quanto à pergunta acima, outra colocada pela autora, seria necessária uma deseducação sexual? Pode ser que essa deseducação auxilie na educação sexual humana.

Por conseguinte, a autora ressalta que é importante fazer uma distinção entre espaço estrutural, espaço vivido e espaço cultural. O espaço estrutural se refere ao espaço objetivo, estruturado por cada sociedade, de acordo com suas finalidades, funções e nível tecnológico, este espaço é vivido diferentemente por cada sociedade e dentro delas pelos grupos e pelos indivíduos. Assim, surge o espaço vivido como espaço subjetivo, ligado a um comportamento social; o espaço cultural engloba também o espaço vivido, é um espaço denominado pela autora de geo-simbólico, de comunhão com um conjunto de signos e de valores. Com a colocação feita pela autora, fica demonstrado a importância da contribuição realizada por todos os que veem a importância do entendimento da sexualidade humana: podemos assim dizer, a propósito da sexualidade humana, que é a busca de sua verdade que faz a sua história, e que nessa busca cada existência é chamada a dar sua contribuição significativa para a colheita interminável de significação diante do seu significado real. Somos uma sexualidade em evidência.

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