2 de maio de 2013

DESCUBRA A FELICIDADE, CONHEÇA-TE

No século quinto antes de Cristo vivia em Atenas, o grande filósofo Sócrates. A sua filosofia não era apenas uma teoria especulativa, mas a própria vida que ele escolheu viver. Aos setenta e tantos anos foi Sócrates condenado à morte, sob a acusação de corromper os jovens com os seus ensinamentos, embora fosse inocente. Todavia, enquanto aguardava no cárcere o dia da execução, os seus discípulos e amigos moviam céus e terra para livrá-lo da morte. O filósofo, porém, não moveu um dedo para evitar esse final triste. Muito pelo contrário, em perfeita tranquilidade e paz de espírito aguardava o momento em que beberia o veneno mortífero. Na véspera da execução os amigos e discípulos conseguiram subornar o carcereiro, que logo abriu a porta da prisão.

Críton, o mais crítico dos discípulos de Sócrates, entrou na cadeia e disse ao mestre: “Foge depressa, Sócrates!”, perguntou o preso: “Fugir, por que?” Críton indagou prontamente: “Ora, não sabes que amanhã vão te matar?” E Sócrates seguro de si argumenta: “Vão matar-me? Ninguém pode me matar!” Insistiu Críton: “Sim, amanhã terás que beber a taça de cicuta mortal. Vamos mestre, foge depressa para escapares da morte!” Responde o condenado: “Meu caro amigo Críton, que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim”. E Sócrates continua: “Pois o que eles vão matar é esse invólucro material, o meu corpo e não a mim, os meus pensamentos vão perdurar. Eu sou a minha alma. Ninguém pode matar Sócrates!” E ficou sentado com a porta da prisão aberta, enquanto Clíton se retirava chorando, sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre.

No dia seguinte, quando o sentenciado já havia bebido o veneno mortal e seu corpo estava começando a desfalecer, pois, aos poucos o mestre ia perdendo a sensibilidade, ainda perguntou-lhe, entre soluços o discípulo: “Sócrates, onde queres que te enterremos?” Ao que o filósofo, semiconsciente murmurou: “Já te disse, amigo, ninguém pode enterrar Sócrates. Quanto a esse meu invólucro, enterrai-o onde quiserdes. Não sou eu que estão enterrando, pois eu sou a minha alma”. E assim expirou esse homem, que tinha descoberto o segredo da felicidade, que nem a morte lhe pode roubar. “Conheça-te a ti mesmo”, com essa frase Sócrates nos remete a uma profunda reflexão sobre a felicidade, a descoberta do verdadeiro Eu divino, do eterno e imortal, sobretudo, porque o desejo universal é a felicidade.

São poucas as pessoas que tem uma visão nítida da sua genuína realidade interna; nós vivemos dentro de uma cultura, onde identificamos os valores fictícios externos, como objeto de felicidade. Por esta razão que não se consegue amar ao próximo como se ama a si mesmo. Algumas pessoas num acesso de heróica estupidez tentam amar o seu próximo em vez de si amar. É bom que se diga que amor próprio não é necessariamente egoísmo. Egoísmo é um amor próprio exclusivista, ao passo que o verdadeiro amor próprio é inclusvista, inclui todos os amores alheios no seu amor próprio, obedecendo assim ao imperativo da natureza e a voz de todos os mestres espirituais da humanidade.

O fato é que nós sofremos muito quando não temos experiência amorosa de vínculo, bate um sentimento de solidão e de total desvalorização da vida. Não damos conta que daqui a pouco passa o prazo de validade do nosso corpo e ai ninguém mais quer saber da gente. Vamos perdendo força no mercado dos afetos e dos amores autênticos. Pelo fato de passarmos a vida inteira marcando passo no plano horizontal do nosso ego externo e ilusório, nunca mergulhamos nas profundezas verticais do nosso Eu divino e verdadeiro. E quando a nossa infelicidade se torna insuportável, procuramos neutralizá-la momentaneamente, esquecê-la, narcotizá-la temporariamente por meio de diversos mecanismos. Não compreendemos o erro de lógica ou de matemática que estamos incorrendo. As águas do lago não movem uma turbina colocada no mesmo nível. Somente o vertical pode mover o horizontal, ou seja, somente as águas de uma cachoeira podem mover uma turbina. No entanto, quem procurar curar os males do ego pelo próprio ego, comete um erro fatal de lógica ou de matemática. Não há cura de igual a igual, mas, tão somente de superior para inferior, de vertical para horizontal. Tendo em vista que no horizontal se encontra o meu ego humano e no vertical está o meu Eu divino.

Outra grande descoberta da felicidade vem de Jesus de Nazaré. A véspera de sua morte disse aos seus discípulos e amigos: “Eu vos dou a paz, Eu vos deixo a minha paz”. Para que não ficasse duvidas entre paz e armistício, logo acrescentou: “Não dou a paz assim como o mundo lhe oferece. Eu vos dou a paz para que a minha alegria esteja em voz e que seja perfeita a vossa alegria, para que nunca ninguém tire de vós essa alegria”. Isto quer dizer que a nossa felicidade é intrínseca. Está dentro de nós. A imensa maioria da humanidade tem essa potencialidade ou essa possibilidade de ser feliz e poucos têm a felicidade atualizada ou realizada. Ora, por que muitas pessoas não são felizes, quando o poderiam ser? Porque não estabelecem vínculos afetivos duradouros ou amadurecidos, não confiam na vida e não acreditam que o amor pode transformar. Amar consiste em aspirar da essência do outro.                                   

Entretanto, nunca ninguém se arrependeu de ter ficado calado quando o outro falou mal. Mas, milhares se arrependeram de ter falado mal em vez de calar. O vicio da maledicência é fonte abundante de infelicidade, não só pelo fato de criar discórdias sociais, mas também e principalmente, porque debilita o nosso organismo espiritual e nos predispõe para novas enfermidades. A consciência tranquila de uma benevolência sincera, verdadeira, do coração e universal é a mais segura garantia de uma profunda e imperturbável felicidade. Fazer o bem sem olhar a quem e muito menos se gabar porque ajudou alguém. Amar é cuidar, proteger e não escandalizar o outro. Só quem pratica a paz e o amor, pode-se considerar um iluminado.   

Portanto, a felicidade pessoal não é algo que devemos buscar como prêmio pela nossa espiritualidade, nem mesmo como uma espécie de céu fora de nós. Essa felicidade nos é dada como um presente inevitável, como uma graça, como um dom divino, ou seja, incondicionalmente bom. Contudo, a felicidade só pode consistir em algo que dependa de nós, algo que possamos criar, independentemente de circunstâncias externas, físicas ou sociais. O amor que nos move é o que nos torna feliz. Como argumenta o grande mestre Jesus: “O que vem de fora não torna o homem puro nem impuro. Só o que vem de dentro do homem é que o torna puro ou impuro”. Enfim, ninguém morre enquanto viver no coração do outro.                
         

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