13 de novembro de 2011

O MITO DO AMOR PERFEITO

Costumo sempre dizer que o bom amor é aquele que transforma as pessoas. Se me envolvo com alguém e se conseguimos cultivar bons sentimentos, nós dois nos desenvolvemos como seres humanos. Por outro lado, se tenho muitos amores, mas sou sempre o mesmo, desconfio que não amo ninguém.
Para Leo Buscaglia, criamos um mito em torno do amor, como se ele fosse a solução para todos os problemas da nossa vida, alimentando-nos de felicidade a cada instante para todo e sempre. Na verdade, não é bem assim. Mas também ninguém nega que o amor é uma troca poderosa de influência, isto é, o único que nos transforma e que realmente nos humaniza pela sua força analgésica.
O mito do amor perfeito seria uma delícia, se fosse verdade, mas igualmente fantasioso para quem cultiva esse mito. Muitas pessoas estão procurando esse amor perfeito. É comum em rodas de mulheres fazerem a seguinte pergunta: “Onde acho um homem que não seja só para motel ou só um marido chato, que seja um intermediário entre os dois, que possa ser agradável, interessante, gostoso de olhar, bom de prosear, que gosta de agradar e que faz sexo gostoso?” Será que existe alguém assim?
Quando você ama alguém, você não ama o tempo todo exatamente da mesma forma, é importante assinalar esse fato. Isto é impossível de existir. Seria até uma mentira fingir que isto acontece.
Se fosse verdade, os casamentos não acabariam depois de algum tempo. Mas mesmo assim, é exatamente isso que a maioria de nós gostaria que fosse.
Para Maria Helena Matarazzo, toda a relação humana tem suas fases, são momentos em que o relacionamento atravessa maior ou menor intensidade. Há um momento em que a gente se sente absolutamente preenchido, em comunhão com o outro, isso quer dizer que estamos em comum-união, quando a comunicação é intensa e plena. Sentimos-nos nutridos e achamos que esse vínculo é para sempre. Mergulhamos na fantasia do amor perfeito, do encontro perfeito. Temos a sensação de completude total. É a fase onde o amor é cego. A gente esconde embaixo do tapete as coisas negativas, as nossas neuras, que podem corroer o desejo e o amor que existe entre ambos. São as nossas frustrações, as angústias e o medo que temos de mostrar esses sentimentos. Mas uma hora ele se apresenta e o encanto se despede.
A fase romântica tem prazo de duração, por mais intenso que seja esse romance, o desencantamento é inevitável. Só não sabemos quanto tempo dura essa fase, em que tudo parece ser lindo e não vemos defeito um no outro.
A expectativa criada em torno do príncipe encantado ou da princesa, logo se desmorona. Esse é o momento de confrontação das expectativas irreais do casamento. Aqui começamos a ver as diferenças daquilo que construímos antes do outro. Nesse momento sentimo-nos traídos, não aceitamos as diferenças. Também é o momento para surgir até uma nova paixão, as pessoas não acreditam que isso possa acontecer com elas. E carregam essa culpa pelo resto da vida.
Na fase da conquista, da sedução, as pessoas só mostram o lado bonito da sua personalidade, mostra uma educação, uma fineza que nunca se viu igual. Aqui as fraquezas e as feridas emocionais não aparecem, os medos ficam escondidos. Quando esse lado obscuro toma corpo, há uma tendência natural de cada um lutar, muitas vezes desesperadamente para mudar a pessoa amada, no intuito de salvar esse suposto amor perfeito. Começa o confronto entre as partes envolvidas na tentativa de um moldar o outro, para que ele corresponda à imagem idealizada lá no começo da sedução. 
Portanto, esse período é marcado de muita ansiedade, de muita angústia diante dos acontecimentos que ameaçam esse vínculo que ambos acreditam que é para sempre. É o momento em que a suposta união perfeita está chegando ao seu final. Descobrem que ninguém pode garantir a felicidade do outro. Cada um pode até criar condições para que o outro seja feliz, mas não pode lhe dar a felicidade. Cada um é único e ama do seu jeito. Os dois podem e devem se amar juntos. Mas esse amor não é perfeito, por ser interpessoal.      

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