O
amor é uma construção social; em cada época se apresenta de uma forma. O amor
romântico, que só entrou no casamento a partir do século 20, e pelo qual a
maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseia, não é construído na
relação com a pessoa real, que está ao lado, e sim com a que se inventa de
acordo com as próprias necessidades.
Esse
tipo de amor é calcado na idealização do outro e prega a fusão total entre os
amantes, com a ideia de que os dois se transformarão num só. Contém a ideia de
que os amados se completam nada mais lhes faltando; que o amado é a única fonte
de interesse do outro (é por isso que muitos abandonam os amigos quando começam
a namorar); que cada um terá todas as suas necessidades satisfeitas pelo amado,
que não é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo, que quem ama não sente desejo
sexual por mais ninguém.
Acredito
que para uma relação a dois valer a pena, alguns fatores são primordiais: total
respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolhas; nenhuma
possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro;
poder ter amigos e programas em separado; nenhum controle da vida sexual do
parceiro, mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa.
É
provável que o modelo de casamento que conhecemos seja radicalmente modificado.
A cobrança de exclusividade sexual deve deixar de existir. Acredito que, daqui
a algumas décadas, menos pessoas estarão dispostas a se fechar numa relação a
dois e se tornará comum ter relações estáveis com várias pessoas ao mesmo
tempo, escolhendo-as pelas afinidades. A ideia de que um parceiro único deva
satisfazer todos os aspectos da vida pode vir a se tornar coisa do
passado.
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