2 de novembro de 2022

A MORTE É TUDO AQUILO QUE NÃO TEMOS MAIS

Entendemos como morte tudo aquilo que não temos mais. A morte que para nós existe visível é a do outro que já não existe mais. Penso que se fossemos Brás Cuba, aquele do romance escrito por Machado de Assis (1839-1908), com certeza este trabalho de nossas Memórias Póstumas, talvez pudéssemos adiantar algo de concreto sobre a morte, por isso somos eternos inconformados, pois, o que nós não podemos conceber é não ter memória da nossa morte. Passamos a vida inteira morrendo aos pouco e, quando a morte vem nos buscar, não podemos assisti-la.

A morte está onde menos esperamos que ela estivesse. Tanto naquelas fotos que guardo dos meus filhos quando eles tinham aproximadamente entre três e quatro anos de idade, como naquela música da época que nos traz lindas recordações de momentos que vivemos, que a morte levou e nos deixou saudades. Como diz a música de Nelson Cavaquinho e Jair Costa, “Eu e as Flores”: Quando eu passo perto das flores quase elas dizem assim: Vai, que amanhã enfeitarei o seu fim. Entretanto, ao olhar hoje para as fotos dos meus filhos quando eram pequenos, sinto um aperto no coração e prontamente sou tomado por um saudosismo incomensurável, sinto que aquelas crianças da foto não existem mais, como jamais voltarão a existir. É aqui onde mora a nossa saudade e as lembranças vivas daquilo que já morreu.

Como argumenta o escritor irlandês James Joyce (1882-1941): “A nossa história é um pesadelo do qual estamos tentando acordar”. O final das coisas é sempre doloroso para quem fica. Sinto que a dor faz parte do simples fato de que o mundo existe. A dor é o preço que pagamos por estar vivos. Para o filósofo Karl Marx (1818-1883): “a alienação cria o descompasso entre a nossa existência e a nossa essência. Não vivemos o que somos e nem podemos ser o que gostaríamos de viver”. Entretanto, a meu ver essa adequação entre a essência e a existência, está a nossa santidade. Contudo, a dor pelos vivos às vezes dói muito mais e arranca de nós um pedaço, ou seja, a metade adorada e querida de nós que vai junto com aquele que amamos.

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