Para
fundamentar tudo que vou dizer nesta reflexão, começo citando o filósofo e teólogo
Huberto Rohden (1893-1981): “quem julga
ter provado Deus é ateu, e quem adora esse deus, demonstrado é idólatra”.
Diante destas palavras, então, não podemos ter certeza da existência de Deus?
Não é uma resposta fácil. Vale lembrar, que a filosofia tem uma coisa que a
religião não tem, que é a necessidade de certo “ateísmo metodológico”. O filósofo tem que ser alguém que não pode
ter crenças dentro da pesquisa filosófica, ainda que se tratasse de Deus,
porque para a filosofia Deus não é “impossível”
ele é “improvável”. Improvável
significa que não posso provar e nem negar a existência de Deus. Porque Deus
não é impossível para o filósofo afirmar a sua não existência. Para isto, teria
que provar que Deus não existe. Como negar o que não posso provar?
De
modo que não podemos negar aquilo que não se pode provar. Segundo porque Deus
não é um ser físico, um super indivíduo, residente em alguma galáxia do
universo. Terceiro porque, pessoa é necessariamente algo ou ser infinito que
tem um fim, limitado. Tudo o que o homem fala sobre Deus, através da linguagem
religiosa, nada mais é que uma confissão de suas aspirações e projeções. É sua
consciência do mundo e de sua crença num ser metafísico. Podemos dizer que a
Bíblia é, antes de tudo, a história da experiência religiosa de um povo
singular. Aqui estamos falando do povo de Israel. Singular pela intensidade de
sua experiência religiosa. Dentro da história das religiões, o povo judeu
aparece marcado por sua inquietação religiosa, isto é, sua relação com Deus. A
experiência religiosa concreta e singular desse povo não é a primeira que
aparece ao ler a Bíblia. Apesar da singularidade assinalada, um historiador ou
um filósofo imparcial, não verá em Israel nada de extraordinário.
Entretanto,
o que se pode perceber ao assinalar o Antigo e o Novo Testamento, é que não
seria mais do que um gênero literário, do qual se expressa à vivência religiosa
de alguns seres humanos e através do qual só um crente poderá induzir a palavra
de Deus. Portanto, a Bíblia é um livro escrito por homens, logo se conclui que
a palavra de Deus não é direta e sim um desejo do autor que a escreveu. Levando
em consideração que nós humanos somos a linguagem de Deus. Sendo assim, Deus é
um nome religioso de Ser, enquanto este ser é experimentado em uma revelação
que suscita a fé. Isto mostra que há mais sentido na palavra “Deus” que na palavra “Ser”. Parece que a primeira reúne todos
os valores significantes da cultura pelo simbólico. Dirigimos diretamente ao
Deus que formulamos, imaginamos e expressamos. Neste contexto, passamos a
compreender a proibição do Antigo Testamento, de se fazerem imagens de Deus ou
pronunciar seu nome.
Trata-se
no fundo, de evitar o risco de idolatria. A ideia de Deus é sempre
culturalmente condicionada. E mesmo quando um padre ou pastor transmite o que
ele pensa que seja Deus, o seu deus, esse deus é transformado em função do que
as pessoas então aptas a pensar sobre o que seja Deus. Não podemos definir
Deus; porque no fundo toda tentativa de definir Deus encerra-se numa idolatria.
Portanto, no pensamento do Antigo Testamento, Deus é revelado na história (o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó), é na história, não em uma
situação que transcenda a história, que se acha a salvação do homem. Isto
significa que as metas espirituais do homem são inseparavelmente ligadas a
transformação da sociedade e da política. Fundamentalmente não é um domínio
capaz de ser divorciado dos valores morais e da alto-realização do homem.
No
entanto, o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) combateu a religião exatamente por ela estar alienada e não
atender às necessidades verdadeiras do homem. A luta de Marx contra Deus era na
realidade contra o ídolo a que chamam de Deus. Marx dizia: “não são ateus os que desprezam os deuses das
massas, porém, aqueles que atribuem as opiniões das massas aos deuses”. O
ateísmo de Marx era a forma mais adiantada de misticismo racional. Muito mais
do que os defensores de Deus e da religião que o acusavam de ateu e impiedoso.
De modo que a razão de Deus é uma necessidade que está no sonho, na linguagem,
no discurso e na vida de cada ser humano. Quando deixamos de acreditar nestas
instâncias, Deus desaparece. Gostaria de provocar o raciocínio lógico de alguns crentes fazendo a seguinte pergunta: “Qual
seria a sua reação ao sentir que Deus é impotente diante do mundo?” O
que me ocorre com esta indagação, é que haveria de revisar a onipotência de
Deus, no sentido de mostrar que o mundo está em nossas mãos, sob a nossa
exclusiva responsabilidade, e que nós, por outro lado, estamos nas mãos do
mundo, nas mãos das forças da natureza e de suas leis, sem delas poder fugir.
Portanto, o verdadeiro crente não precisa recorrer à hipótese-Deus, para
situar-se e atuar no mundo. O que minha fé diz: “é que Deus está presente no fundo da nossa própria atividade humana”.
A experiência nos diz que é mais difícil acreditar nos humanos que a gente vê,
do que em Deus que a gente não vê. Então, a pergunta que faço: “como acreditar em Deus, se não acreditamos
no ser humano?” Tudo isso só para dizer, que a sombra dessa necessidade de
transcendência de Deus, presente em algumas pessoas, que não esbouçam nenhuma
reação critica sobre sua relação com Deus e com o seu próximo. De que adianta
teoricamente, falar do meu amor a Deus, se não pratico esse amor com o meu próximo.
Contudo, por conta disso, continua as eternas mentiras que criaram. Na verdade,
não tem nada a ver com a fé ou crença de cada um. Mas, a fé e a crença têm que
respeitar pelo menos o bom senso de cada um que pratica o bem. Talvez seja
essa, a minha maior experiência com a divindade, praticar o bem sem olhar a
quem. É com o meu semelhante, que compartilho a experiência do sagrado. Pensar
Deus é uma questão de fé. Deus é um pensamento. Que sem o qual não existo.