Qualquer
tipo de relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o elemento sexual, por
vários gêneros diferentes, como em um caso de amizade pura, entre duas pessoas,
pode ser um indicio de amor platônico. Que também pode ser um amor impossível;
difícil ou que não é correspondido. Só eu sinto o que não sentem por mim. O
amor platônico é entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não
toca, não envolve, é feito de fantasias, é um amor idealizado, onde o objeto do
amor platônico é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem
defeitos. Somos facilmente atraídos e fisgados por esse tipo de sentimentos.
Por que somos tão vulneráveis ao amor platônico?
Vale lembrar que a paixão faz parte do
inconsciente coletivo de todos nós, assim como ela está no ar que respiramos,
no nosso olhar e no desejo que reprimimos. A exposição diária de olhares
sedutores tão fascinantes a ponto de despertar inesperadamente o desabrochar da
paixão. Talvez aqui esteja um dos enigmas para os humanos pensar. Já dizia o
poeta que os olhos são à janela da alma: “É
no olhar que te vejo, é no olhar que te mexo e disparo o teu coração, é com
esse olhar que te desejo”. Porém, esse temor da paixão é que nos paralisa
diante do encontro amoroso. Mesmo sem reconhecer, ainda assim o amor permanece
como o enigma que norteia a existência humana. Temos uma tendência a maltratar
o amor quando ele surge. Agregamos tudo de ruim, a começar pelo ciúme.
Justificamos como se isto fizesse parte do amor.
Entretanto,
as pessoas sempre buscaram preencher esse vazio e o sentido da sua existência
com o tão cantado e desejado amor romântico. Porém, o amor que sempre se
apresentou como um mistério para a condição humana, mistério esse que, ao longo
dos séculos, filósofos, psicólogos, teólogos e poetas, sempre procuraram
desvendar. No diálogo “O Banquete”,
Platão (427-347 a.C.) coloca o amor em discussão para explicar a sua origem.
Foi assim que saímos por aí numa busca incessante para restituir a nossa
plenitude perdida. Na verdade, buscamos através do amor essa totalidade que se
rompeu com a separação. O que fazemos no momento da sedução, senão buscar no
outro a nossa identidade? Desta forma, viver o verdadeiro encontro amoroso
seria reviver o encontro com a nossa própria essência, que desperta no amor. Eu
desejo o outro para crescer com ele no amor.
Portanto,
buscamos reencontrar o que em nós foi perdido. É no olhar que nasce a promessa
que este encontro está prestes a acontecer. Para Platão quando estamos sós,
somos seres humanos incompletos, reclamando a sua outra cara metade. Por mais
imperfeitos que sejamos em nosso mais fundo vamos encontrar o “DNA de Deus”. Como se vê, tudo de melhor
em nós se resume no amor, porque, como nos ensinou o apóstolo João: “Deus é Amor”. Sendo assim, o outro se
torna o meu objeto de desejo. Na essência todos se completam nesse Amor.
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