A
primeira etapa do processo do nosso conhecimento é dominada pelas impressões ou
sensações advindas dos sentidos. No entanto, uma parcela significativa da
humanidade vive de aparência. Como somos seres pensantes, não podemos deixar
que essas impressões sejam responsáveis pelas opiniões que temos da realidade.
Há de esgotar primeiro as fontes que temos. É preciso verificar os fatos, e
saber em que circunstância ocorreu, antes de emitir uma opinião ou um juízo de
valor. Opinião representa o saber sem prova. Temos respostas para tudo, mesmo
sem comprovar nada. Devemos ultrapassar a esfera do senso comum, o plano da
opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, ou seja, no mundo das ideias,
discutido por Platão (427-347).
Certa
vez ouvi numa roda de colegas alguém narrar que havia casado cinco vezes.
Lamentava por não ter achado ainda a mulher ideal. Outro colega que, até então
se mantinha calado, disse que não adiantaria ele casar varias vezes, enquanto
não casasse consigo mesmo, do contrário estaria sempre casando com a mesma
pessoa, ou seja, buscando nas relações alguém para cuidar dele e amá-lo.
Olhando para varias mulheres e enxergando a mãe que ama, cuida e protege.
Embora a resposta não fosse para mim, carreguei essa imagem por muito tempo.
Então, como é casar comigo? Arrastei esse enigma por muito tempo. Até que
cheguei a uma conclusão depois de vários relacionamentos.
Na
verdade, sabemos muito pouco de nós. Muitas das nossas ações não damos conta do
que somos capazes. Tanto para o mal como para o bem. Em uma reunião com o meu
grupo de estudo na Pós Graduação, o professor que coordenava o estudo,
perguntou-me quem eu era. Prontamente em tom de brincadeira respondi: “Eduardo”. Ele, no embalo da brincadeira,
respondeu que não havia perguntado meu nome, isto ele sabia, mas, quem eu era.
Que vexame! Restringi minha existência ao meu nome. E onde achar a resposta para
essa pergunta. Será que meus antecedentes morreram sem saber quem eram?
Acabei
de ler o livro “Sidarta”, é um
romance filosófico escrito por Hermann Hesse (1877-1962), um dos maiores
escritores alemães. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1946. O livro
trata basicamente da busca pela plenitude espiritual e pela sabedoria,
inspirado na vida de Sidarta Gautama, “O
Buda”. Conta o livro que o jovem Sidarta, largou família e riqueza e partiu
em busca do tal conhecimento. Tentou várias religiões e seitas, porém não foram
suficientes. Já que o mundo espiritual não lhe dava a resposta, tentou a vida
mundana, atirando-se aos prazeres da carne. O vazio permaneceu. Foi no ofício
de barqueiro, transportando pessoas de um lado a outro do rio, que encontrou o
caminho para suas respostas.
Sidarta
aprende um dos ensinamentos mais importantes de sua vida que é: “ouvir”. E não só ouvir as pessoas, como
também ouvir os rios. E é com a natureza que ele vai se conectando com o átman
(palavra em Sânscrito que significa alma ou sopro vital), e finalmente consegue
atingir o Nirvana. Mais que a resposta, o importante é a busca por essa
resposta. Quando Sócrates (470-399 a.C.), consulta o oráculo e diz que nada
sabe, o oráculo o aclama como o verdadeiro sábio, pois tem consciência de saber
que não sabe. Essa busca é que insistimos em ofuscar. Na mitologia, o canto das
sereias era hipnotizador, de tão belo atraía os homens para a morte. Hoje, o
canto do mundo externo tem o poder de encantar feito o canto das sereias.
Ulisses usou um tampão para passar pelas sereias sem se deixar enfeitiçar pelo
seu canto.
Portanto,
os encantos externos nos distanciam da busca por atitudes filosóficas. Como
saberemos que amamos se não vamos à busca do que é o amor? Como saberei que sou
justo, se não procuro saber o que significa justiça? Como saberei que sou livre,
se nem ao menos busco conhecer a liberdade? Nossa tendência é ignorar essas
questões, achando que já sabemos tudo. A vida dessa forma é processo,
crescimento, evolução e constante busca e, assim, não saberei quem sou, pois
estou sendo a cada dia um vazio na vida do outro. Contudo, no máximo a nossa
sabedoria é capaz de elaborar boas perguntas. Mas as melhores respostas quem da
é o tempo. De modo que, a resposta definitiva será dada no dia de minha morte.
Meu silêncio já é uma resposta.
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