Quem
nunca sonhou e apostou na esperança do mesmo? Quem nunca teve um sonho arrancado
ou interrompido? São frutos do acaso ou tem uma causalidade? Para compor essa
reflexão, recorro à metáfora poética das palavras. No “poema à boca fechada” do escritor português Prêmio Nobel de
Literatura José Saramago (1922-2010), descreve como ficamos quando um sonho nos
é tirado: “Arranca metade do meu corpo,
do meu coração, dos meus sonhos. Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me
desfaça. Recria-me, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas, não caber
em lugar algum”. É como se fossemos um oceano e de repente uma de suas ilhas
começa a afundar. Como ficarão seus habitantes? Sendo que na ilha por vezes
habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos
morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. Sabemos o que é viver, mas, ainda
falta compreender o porquê não vivemos plenamente.
A
ilha aparece explicada definitivamente e entra em nós uma grande serenidade,
pois as palavras dizem o que significa a ilha para o oceano. Neste momento
levantamos um punhado de terra e apertamos nas mãos com doçura. Aí se contém
toda a verdade suportável: “o contorno, à
vontade e os limites”. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou a roda do mundo infatigável, porque
mordeu a alma até aos ossos. Libertemos devagar os sonhos da terra onde
acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Neste sonho cada um de nós é
por enquanto a vida. Esta vida que inapelavelmente, pétala a pétala, vai desfolhando
o tempo, e parece, no passar desses dias, ter parado no sonho que foi
desfigurado.
Nós
temos sempre necessidade de pertencer a alguma coisa; e a liberdade plena seria
a de não pertencer à coisa nenhuma. Mas como é que se pode não pertencer à
língua que se aprendeu, ou à língua com que se comunica, e neste caso, a língua
com que se escreve? No fundo queremos pertencer a esse sonho. Todos têm um
sonho secreto. Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia as pessoas percebam
que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imaginem o
quanto teria sido ótimo estar ao meu lado. Olhe para o lado, alguém precisa de
você. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Mergulhe de cabeça nos
seus sonhos e satisfaça-os.
Portanto,
há na memória um rio onde navegam os barcos com todos os sentimentos vindo desta
ilha. Que venha a paz desejada, a harmonia, e o resgate do fruto, e a flor das
almas, que assistiram este sonho nascer. Que venha o amor, porque esses dias
são de morte cansada, de raiva e agonia, pelo meu sonho que se perdeu nesta
ilha. Mesmo assim lhes digo: procure os seus caminhos, mas, não magoe ninguém
nessa procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o
que não o faz feliz, revoltem-se quando julgar necessário. Alague seu coração
de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Persiga seus sonhos, mas,
não os deixem viver sozinho. Descubram-se todos os dias, deixe-se levar pelas
vontades, mas não enlouqueça por elas. Sempre procure o fim de uma história,
seja ela qual for. Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso. Haverá um
grande silêncio primordial quando as mãos se juntarem às mãos. Sonhar é
caminhar juntos, de mãos dadas para além do horizonte.
Que lindo!
ResponderExcluirPorque é que diz que "Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. Recria-me, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas, não caber em lugar algum” é parte do "poema à boca fechada", quando este poema não tem nada com que se pareça com tal?
ResponderExcluirO trecho utilizado não é do Saramago.
ResponderExcluirNão é mesmo. Parece que é de autoria desconhecida.
ExcluirA poesia cidada não trás esse trecho.
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