Sempre
achei que o propósito dos professores era ensinar a felicidade. Mas, não
conheço nenhum aluno que concorde com isto. Pelo simples momento que atravessa
a nossa educação, fica difícil acreditar nessa tal felicidade. Se os alunos já
tivessem aprendido as lições da política, me acusariam de porta voz da classe
dominante. Pois, como todos sabem, mas ninguém tem coragem de dizer, que toda
escola ou universidade tem uma classe dominante e uma classe dominada: a
primeira, formada por professores e gestores, é quem detém o monopólio do
saber, e a segunda, formada pelos alunos, que detém o monopólio da ignorância,
e que deve submeter o seu comportamento e o seu pensamento aos seus superiores,
se desejar passar de ano. Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças
e os seus rostos cheios de ansiedade para compreender que a escolha lhe traz
sofrimento. Se fizermos uma pesquisa entre os alunos sobre as suas experiências
de alegria na escola ou na universidade, eles terão muito que falar sobre as
amizades e companheirismo entre eles, e serão poucas as referências à alegria
de estudar, compreender e aprender.
A
classe dominante argumentará que o testemunho dos alunos não deve ser levado em
consideração. Eles não sabem o que dizem. Quem sabe são os professores e os
gestores. Acontece que os alunos não estão sozinhos neste julgamento. Não me espanto,
portanto, que o aluno tenha aprendido tão pouco na escola e muito mais fora
dela. É de fato, difícil amar as disciplinas representadas por rostos e vozes
que não querem ser amados. Concordo com o escritor e dramaturgo Paul Goodman
(1911-1972) na sua afirmação de que a maioria dos estudantes nos colégios e
universidades não deseja estar lá. Estão lá porque são obrigados. Poderá haver
sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se
numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma
relação parece ter com sua vida? Nota-se que sua inteligência foi intimada
pelos professores e, por isto, ficou paralisada.
Nenhum
profissional da educação pensou em avaliar a alegria dos estudantes. Porque a
alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de
pensamentos. Como dizia o filósofo e educador Rubem Alves (1933-2014): “a educação, fascinada pelo conhecimento do
mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz
adormecido em cada estudante”. Daí o paradoxo, quanto maior o conhecimento,
menor a sabedoria. O poeta e dramaturgo inglês Prêmio Nobel de Literatura, Thomas
Stearns Eliot (1888-1965), fazia esta terrível pergunta, que deveria ser motivo
de meditação para todos os professores: “onde
está a sabedoria que perdemos no conhecimento?”
Portanto,
educar tem uma coisa chamada vivência compartilhada. A criança é um ser que
aprende a linguagem, a leitura e a escrita como mediação para sua humanização.
O ofício de ensinar não é para aventureiros. O professor que traz consigo a
alegria de ensinar é capaz de dizer aos seus alunos: “posso fazer de vocês melhor do que eu, pois, não tive professor tão bom
quanto sou para vocês”. Contudo, nós professores somos pastores da alegria, e
que a nossa responsabilidade primeira é definida por um rosto que nos faz um
pedido: “por favor, me ajude a ser feliz”.
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