Vivemos
com medo de tudo que é novo, o desconhecido nos assusta e às vezes até nos
paralisa. No filme: “Irmão Sol, Irmã Lua”,
do diretor Franco Zeffirelli, de 1972, narra à trajetória da vida de São
Francisco de Assis (1182-1226), um jovem sonhador, filho de comerciante, que
desfrutava de bons vinhos, lindas mulheres e canções sem ter nenhuma
preocupação. Quando a guerra e as doenças assolaram a região onde viveu, ele
sofre uma grande transformação. Resolveu abandonar tudo ao ver essas coisas
ruins acontecendo na sua região. Foi aí que resolver transformar essa dor em
amor Ao aparecer diante do Bispo local, ele se despe de suas roupas,
simbolizando a renúncia a sua vida prévia para dar início a uma vida dedicada a
Deus e ajudar aqueles que mais necessitavam. Mas sua pregação só iria chegar ao
ápice quando ele vai a Roma, para ter uma audiência com o Papa Inocêncio III.
O
filme é maravilhoso relatando a vida do nosso bondoso Francisco de Assis. Um
homem que teve a coragem de abandonar a vida rica, o luxo, os prazeres do
mundo, a família e viver para o seu próximo. E o desistir das satisfações
efêmeras, dos bens materiais, das regalias e diversões, ele alcançou o maior
triunfo de sua vida. Seguindo o exemplo de Paulo de Tarso conseguiu realizar em
si mesmo, uma profunda reforma moral e social, através do tempo. Compreendeu
que o seu desiderato era servir, era amar ao próximo como a si mesmo, era
seguir os ensinamentos maravilhosos do mestre Jesus. Irmão Sol, Irmã Lua que é
um excelente filme, uma grande demonstração de humildade e uma lição de vida
para os cristãos. Seu diálogo com Deus traduz a sua essência ao dizer: “Senhor, fazer-me instrumento de vossa paz!
Onde houver ódio, que eu leve o amor
(...). Pois é dando, que se recebe, é
perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”!
Puxei
pelo filme, por ter muito a ver com a nossa reflexão. Principalmente, na cena
em que ele se despe de suas roupas e sai rumo ao que acredita para sua vida. A
atitude firme do jovem Francisco mostra que, em certos momentos de nossas
vidas, a ruptura tem que ser radical. Para iniciarmos uma profunda
transformação em nossa vida, devemos colocar em xeque valores, tradições,
ensinamentos e posturas que são como roupas velhas em uma alma que aspira por
amor e vida em abundância. Esse caminhar em direção ao nada, numa linguagem
nietzschiana, só para fazer referência ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844-1900), que chamava o nada de “niilismo”.
Sem
essa consciência, como vou saber se sou conservador ou progressista, se sou bom
ou mal, forte ou fraco, se não chego até a linha que demarca o limite entre uma
posição e outra? Chegar ao ponto zero ou ao nada requer uma reflexão profunda,
íntima, dos valores que tenho que são meus por convicção, com aquele que
acostumei e incorporei por osmose social. Enquanto não chegarmos a esse ponto
zero, despir-se dessas roupas velhas em detrimento das novas, a tendência é
encontrar desculpas para nossas fraquezas e fracassos. Onde não há
transformação e nem crescimento, não podemos afirmar que o amor ali impera. Ao
plantar a dúvida podemos estar decretando a morte ou a possibilidade de conhecer
o infinito. Pois é através do amor que o infinito revela-se em nós e com a sua
luz nos ilumina e nos guia.
Portanto,
dizer que somos assim por causa da família, ou da condição social é uma forma
de arranjar culpados pela nossa inércia e esconder o medo que temos da
transformação. Contudo, a tarefa em buscar do nada não é fácil, precisamos de
ajuda, talvez de um psicoterapeuta ou de um religioso consagrado. Mas o
importante é predisposição para o encontro é para com os conflitos diante das
velhas roupas que queremos arrancar do corpo. A grande sabedoria da vida é
saber envelhecer. Porque a alma nunca envelhece, só nos torna cada vez mais
sábio. A mensagem que fica é a seguinte: “Despir-se
para transformar a dor em amor”. Tudo na vida é consciência.
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