O
símbolo das decisões sabia na Grécia Antiga era uma coruja. E a coruja só voa
quando o sol se põe, os gregos e os romanos diziam: “a ave de minerva só alça voo no entardecer”. Assim como a juventude
não é sinal de produtividade, a velhice não é sinal de estupidez. O meu medo não
é da função que se encerra, mas, da vida que continua. Que o medo não seja da
indiferença, mais da própria vida em si. A aposentadoria é uma ocasião não para
deprimir, mas, para revelar quem de fato eu sou. Acredite, a cor da vida é a
cor da morte. Ninguém se torna excepcionalmente diferente no fim do que era no
meio, só a velhice piora algumas coisas.
Há
um equilíbrio e uma contradição em cada idade. Suspiramos pela infância e a
juventude, mas, nenhuma criança jamais acordou e disse: “como eu gosto de ser criança”. Só os mais velhos que compõem os
poemas dizem: “aí que saudades que eu
tenho da aurora da minha vida”. Por que naquela época o Natal era uma festa
mágica? E hoje é uma festa cara, que eu lembro com susto quando se aproxima. Há
uma dor em cada idade, há uma dor na falta de autonomia infantil, há uma dor no
envelhecimento. Mas é o momento de dar uma resposta dura, que talvez os anos de
trabalho tenham impedido que eu dissesse com clareza: “quem sou eu?” Agora sem a fantasia e sem a personagem.
Envelhecer
é tornar-se invisível, já não sou mais o centro das atenções, logo, sou apenas
eu e minha circunstância. Aquilo que está a minha volta. A solidão é o lugar
onde estou comigo mesmo. A fama e a atenção é o lugar onde estou com os outros.
Não sei mais se tenho medo da velhice ou tenho medo de mim mesmo. A diferença
entre inferno e purgatório na tradição católica, é que o inferno é para sempre
e o purgatório é passageiro. Os budistas tem razão, desejar incessantemente,
tem um defeito. Impede que eu veja a beleza do lugar onde estou. Na certa vou
ser infeliz. Incessantemente vou ver o pior de cada situação. Envelhecer é para
mim, ficar observando as árvores, os rios e os pássaros, voando de galho em galho, coisa
que eu não fazia quando jovem.
Portanto,
envelhecer é afinar a sensibilidade, apreciar com a alma e ver com o coração. É levar os olhos
para passear pela vida, é a estratégia bibliográfica, parar e fixar o olhar em
tudo que encanta a alma. É saber desejar o que posso, e aproveitar o que
consigo. Dizer a cada época, não existe nada no meu tempo que não seja agora.
Como disse Santo Agostinho (354-430) nas Confissões: “só
existe presente, o passado é uma memória e o futuro é inexistente”. Só
existe hoje, este é o meu tempo. Nunca fui nada, apenas sou. Contudo, quero
estar na companhia de pessoas que façam a viagem até o fim, e não daquelas que
nos acompanham por conveniência. Pessoas que nos acompanham nesta jornada até o
ultimo suspiro, que tenha objetivos e descubra no prazer de envelhecer uma
alegria que nunca teve antes, porque o nosso tempo é agora. Quero ter garantia, que
minha vida continua sendo minha e gerida por mim, instrumentalizada por mim,
tecida com os fios aleatórios do amor. Como dizia Madre Tereza de Calcutá (1910-1997): “quem julga as pessoas não tem tempo para
amá-las”.
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